sexta-feira, 1 de abril de 2022

Dia da Mentira

 



                


Este dia primeiro de abril  (e não no 31 de março como querem os eternas viúvas do chumbo)  marca a fatídica data da Ditadura de 1964, quando uma plúmbea cortina  cobriu o Brasil por 21 anos. Talvez, por isso mesmo, este seja o dia da mentira. Ontem o presidente , em solenidade , fez rasgados elogios ao período e, o ministro da defesa, um general, na Ordem do Dia, numa avaliação enviesada e esdrúxula, disse aquelas duas décadas sórdidas e lúgubres serviram para o fortalecimento da democracia. Foi  como se alguém declarasse que a morte de quase 700.000 brasileiros, na pandemia, ajudou a melhorar a imunidade das pessoas. Nos últimos tempos, desatinos iguais têm tomado conta do país: pessoas na rua pedindo a volta da Ditadura; o presidente dando boas vindas à chegada da variante Ômicron; brucutus mestiços , supremacistas brancos,  sonhando com a Ku-Klux-Klan; ministros de estado  com pose de S.S.  propagandeando as benesses do Holocausto. E a maior autoridade política da nação tecendo elogios ao Coronel Carlos Brilhante Ustra, um torturador impiedoso e sádico , que cometeu crimes não contra adversários ou supostos terroristas, mas contra a humanidade.  E não esqueçam : se o Brasil está coberto de desmiolados e chatos nos gabinetes oficiais, a Terra é plana, viu ?

                        Os que não viveram aqueles tempos conturbados não têm a menor ideia do terror com que se teve de conviver. Estudantes perseguidos como animais pelas ruas do país; pessoas presas sem qualquer justificativa legal, submetidas a torturas impiedosas; o Congresso fechado; políticos legalmente eleitos  cassados sumariamente. A censura se estabeleceu em toda a imprensa do país, os sindicatos e organizações sociais viram-se criminalizados. Em cada esquina, em cada sala de aula, em cada departamento existia um dedo duro pronto a denunciar pessoas que pensassem contrário ou meros desafetos que, simplesmente, desapareciam. Educação, Saúde e Segurança foram atingidos frontalmente e a corrupção grassou país afora, agora a cavaleiro, sob o manto do silêncio nada obsequioso imposto de goela abaixo à população.

                        Aqui no Crato, foram presos os que eram considerados subversivos e perigosos à ordem pública. Todos cidadãos de bem, homens da mais alta estirpe e da mais ilibada conduta: Dr. Raimundo Bezerra, o radialista Elói Teles , o comerciante queridíssimo Ernani Silva, o hoje psiquiatra Wellington Alves – Tom-Tom, os comerciante Juvêncio Mariano  e Geraldo Formiga, a professora Sílmia Sobreira, o odontólogo Henrique Costa, o estudante Aécio Gomes de Matos,  dentre tantos outros. Um dos maiores poetas cearenses, Everardo Norões,  foi perseguido tenazmente e teve que se exilar; um dos mais brilhantes estudantes cratenses, João Roberto Pinho,  passou nove anos na clandestinidade ( uma vida que terminou se perdendo precocemente, estilhaçada nos seus sonhos por armas e baionetas). Sem falar na deposição do grande brasileiro Miguel Arraes e do seu exílio forçado. Que crime teriam cometido esses cidadãos reconhecidos por todos como homens de bem e sem máculas  ? Única e exclusivamente terem tido a ousadia de pensar num país melhor e mais igualitário. A história terminou provando de que lado estava a verdade.

                        As reiteradas falações antidemocráticas  do presidente e seus sequazes , eleito legalmente em escrutínio popular, por intervenção militar, percebe-se, claramente, de onde ecoam. São tangidas pelo medo. O medo de perder a eleição , ganha a anterior numa manobra golpista, num grande golpe judiciário que tirou da raia seu principal oponente, agora se redobra quando tem à frente o maior líder popular brasileiro em franca vantagem em pesquisas eleitorais. Do outro lado, seu total despreparo para debater qualquer assunto que vá além de fofocas de boteco e de casernas. Colocado contra a parede se refugia no hospital.  Aí a culpa da debacle passa a ser das urnas eletrônicas, dos juízes do STF, da Imprensa que o persegue. E a única saída , a seu ver, é inventar um inimigo fake, uma calamidade fake, uma balbúrdia fake e dá cartão vermelho ao Jogo Democrático.

                        Esse 1º de Abril  é para se comemorar ! O Dia da Mentira ! O Dia do atual governo prestes a ser colocado definitivamente na lata de lixo da história. O Dia para lembrar o período mais sombrio da trajetória brasileira , aquele que não deve ser nunca esquecido, para que nunca mais se repita. Que aos poucos, a verdade por fim prevaleça. Ditadura Nunca Mais !

 

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