quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Bissexto

Finalzinho de ano existe uma regra imutável e previsível para os próximos meses. Promessas de mudanças nos hábitos de vida ! Uns se comprometem a deixar o cigarro, outros encetam dietas rigorossíssimas, alguns afirmam como certo o começo do Cooper pela manhã. Ano novo ,vida nova ! Após o ribombar dos fogos do Reveillon, vêem-se todos assoberbados por tarefas não tão fáceis de cumprir e que geralmente começam a ficar menos regulares a partir do Carnaval e , o mais das vezes, não têm forças nas canelas para alcançar a Semana Santa.
No mês passado, Eufrázio, um contador de uma pequena loja de Secos & Molhados , nas comemorações do Natal da firma, firmou os pés nos seus propósitos. Os colegas de repartição comentaram depois que o nosso contabilista exagerou um pouco na dose de transformação. É que o nosso comerciário sempre fora um operário padrão, sério, compenetrado, desses que vivem eternamente para o trabalho. Possuía ainda uma pacata vida familiar, casado com Dona Nair Loreto, uma senhora temente a Deus e beata de carteirinha. Tinha dois filhos, já casados, que moravam ou sobreviviam para as bandas de São Paulo. Eufrázio não tinha vícios, vivia nos Encontros de Casais com Cristo e até estudava para formar-se diácono. Era preceptor dos Cursos de noivos na Igreja e um dos membros mais convictos da Ordem do Santíssimo. Já entrado nos sessenta, parece que ia plantando mais nas roças da vida eterna do que nos pomares terrestres. Pois bem, a transformação que ele realizou no último Reveillon , assim, pegou todos de surpresa. Quem lá diabos poderia imaginar uma reviravolta daquelas ? Sem qualquer explicação mais contundente, nas comemorações do Natal, um Eufrázio um pouco mais loquaz do que o habitual desejou os melhores votos para todos e vaticinou aquilo que parecia ser mais uma daquelas temporárias e fugazes promessas de fim de ano:
--- Até o presente momento, meus amigos, não vivi, apenas trabalhei como um burro de carga para os outros. Até parece que vim à terra a trabalho e não a passeio. A partir de agora vou montar no alazão da minha vida e tomar as rédeas do meu destino !
Depois daquele dia, seguiu à risca a promessa natalina. Pediu demissão do emprego que o poria em pijama de aposentado nos próximos cinco anos. Largou a mulher, mudou de casa e de cidade. Soube-se depois que se transferira para Andaraí, na Chapada Diamantina, onde se unira a um rapazinho, design gráfico, e ali haviam instalado o Restaurante de Comida Natural: “Verde que te quero Ver-te”. Abandonou também as hostes católicas e agora freqüentava uma comunidade alternativa lá no “Vale do Capão” . O outrora sedentário Eufrázio agora trabalhava, nas horas vagas, como guia turístico, nas sinuosas trilhas do Vale do Sincorá. Ao invés da opa do Santíssimo envergava duas recentes e imensas tatuagens: um dragão vermelho e de unhas afiadíssimas nas costas e um carismático Fidel Castro no ombro esquerdo, além de um brinquinho discreto na orelha direita.
Alguns amigos ,que em viagem depois o visitaram, trouxeram a novidade de todas as imprevisíveis mudanças ocorridas no nosso contador. A cidade em peso o criticou e comentava que o homem tinha endoidado de vez, ninguém perdoava a sua coragem e, pior, todos abominavam a constatação de que os que o visitaram , liam uma incontestável felicidade nos seus olhos. A cidade impossibilitada, pela distância, de assassiná-lo em vida, resolveu encaminhar um abaixo assinado para Eufrázio, uma espécie de execração pública, condenando-o por sua atitude considerada irresponsável e vulgar. O contador respondeu com um pequeno bilhetinho que foi lido na Câmara de Vereadores.
--- Infelizmente não posso fazê-los felizes. Cada um é o artífice da sua própria felicidade. Ninguém pode viver a vida pelo outro e nesta viagem a passagem é apenas de ida. Saiam do casulo das suas vidinhas estranguladas e vivam ! Quanto a mim as mudanças prometidas para este ano apenas começaram e lembrem : este ano, graças a Deus, é bissexto !

Outubro / 08

domingo, 19 de dezembro de 2010

Às chuteiras dependuradas


“Qualquer que seja a arquitetura dum edifício,
seus escombros obedecerão ao estilo barroco.”
Aníbal Machado

Imagino como vocês se sente neste momento algo turbulento. Aquele instante porque se sonhou por tantos e tantos anos, mas que ao se aproximar traz consigo sua mista carga de alegria, ansiedade, conforto e apreensão. Como se de repente, trocássemos a beca pelo pijama, a cueca pela fralda, o paletó pela bermuda, o livro pelo baralho, a cadeira de mestre pela de balanço. Aflige-nos, quem sabe, o fundo da nossa alma, perceber este momento justamente como o soletrar dos primeiros arpejos do alfabeto da catástrofe previsto por Machado. Pois eis-me aqui, pronto a demonstrar que este instante é de encontro e não de diáspora, de advento e não de partida. Até porque assim o são todos os segundos desta vida breve, desde a canção de ninar até à incelença.
A frase do Aníbal é lapidar. Sonhos, anseios, aspirações, desejos vão pouco a pouco sendo triturados, vida afora, pela ampulheta do tempo. Por mais modernoso que se apresente o edifício que, cuidadosamente projetamos, após a inevitável implosão --- aquele big-bang que fechará o ciclo daquele primeiro há bilhões de anos atrás— os espólios que restarão obedecerão, necessariamente ao vetusto , seminal e kitsch estilo barroco. E sei que é essa reflexão crua, inexorável, catastrófica que nos enevoa os mais recônditos sótãos do espírito, no momento em que vemos correr uma das cortinas da existência. De que adiantou projetar o prédio em estilo pós-moderno, se mal levantamos as primeiras paredes, as colunas e pilastras vêm abaixo e o amálgama de concreto, espalhado no solo, nos fita como a Sífiso , com olhos de caos, com retinas de já-se-foi ? Hoje, sei que da zona mais abissal do seu âmago, você se faz esta pergunta, sentindo-se uma espécie de quebra-queixo em tempos de Nutella, de videocassete em época de blue-ray. Valeu a pena tudo ? Os anos difíceis, o estudo contínuo, a paternidade fisicamente ausente, os cargos inúmeros assumidos, a convivência ofídica de alguns companheiros ?Valeu a pena ?
Postado em meio ao amontoado de escombros, nos perguntamos: é esse o destino final do nosso projeto de Taj Mahal ? Pois bem, meu cato, não é ! E a conclusão me parece lógica. Nem precisa-se esperar a justiça derradeira recorrendo a forças superiores ou à possibilidade de outras encarnações /edificações. A importância do seu projeto arquitetônico é inquestionável por incontáveis motivos. Primeiro, é justamente dos entulhos dos nossos edifícios que as gerações que virão, num infinito processo de reciclagem, edificarão, em moto-contínuo, os seus prédios. A qualidade do que será construído no porvir depende umbilicalmente da qualidade do material com que erguemos as nossas paredes. Depois, o mais importante não é o monumento que pretendemos levantar e a que , inevitavelmente, jamais daremos termo. Contam-se mais: nossa relação com os outros operários, a paisagem que se estenderá à nossa frente à medida que ascendemos. Na verdade edificamos uma casa que jamais habitaremos : moramos, vivemos, durante toda a obra, nos andaimes.
Este momento, pois, é de encontro, nele todos os operários se reúnem na certeza de que não foi um edifício que ruiu, mas que uma construção precisa ser recomeçada e o material disponível é da melhor qualidade. E, se a sua frente, parece se fechar uma porta, é preciso levantar os olhos e ver a quantidade imensa de janelas abertas para o infinito. O carrasco disciplinador dos filhos hoje se transforma no bobo da corte dos netos; se alguns músculos fraquejam, os neurônios funcionam de forma trifásica; a vida poderá até não parecer tão azul, mas já existem disponíveis uns comprimidinhos azuis que têm a capacidade de reazulá-la; o violão poderá passar de simples artefato de decoração a uma fábrica de sons e de sonhos. E quando alguém vier com aquela balela de que a vida é uma dureza; você poderá sorrir lembrando que é justamente dureza aquilo que você mais almeja.
Bem-vindo ao nosso encontro! Bem-vindo à construção que hoje se inicia ! Grato pelo pelo cimento, pelo ferro, pela brita ! Grato pela esperança destilada em cada pá de cal e pela força de sentar o tijolo do efêmero com argamassa de eternidade ! Os futuros operários têm um cristal onde se espelhar! Você pode até imaginar que o espelho nesse momento se estilhaça, mas não custa lembrar que o poeta Mário Quintana já vaticinara : “os espelhos partidos têm muito mais luas”...


17/12/10

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lennon

E lá se foram trinta anos ! Dá para imaginar uma avalanche de minutos e segundos dessas? Quase onze mil dias esvaíram-se, sem que ao menos percebêssemos, pelo angustiante canal da ampulheta! E parece que foi ontem! Mal tinha chegado em Crato, pronto a exercer minhas atividades médicas, quando a notícia me atropelou: assassinaram Lennon ! Aquilo parecia uma loucura, uma alucinação. Como ? Ele que, chegando em New York, desencadeara uma verdadeira batalha pacifista, que conclamara todos a derrubarem barreiras ideológicas, geográficas, étnicas, políticas, em nome de uma paz holística? Que se posicionara frontalmente contra a barbárie da Guerra do Vietnam? Como um delírio daqueles poderia ter acontecido? Lembro : meio absorto e tonto, naquele dezembro de 1980 ensaiei meu primeiro texto após a volta e o publiquei aqui mesmo na Rádio Educadora e no Jornal “A Ação”. O sonho ,para mim, só naquele exato momento é que tinha sido assassinado.
Certo que vinte anos depois perderíamos o George e aí, definitivamente, constatamos que caíra por terra um dos mais fortes desejos da minha geração, ver novamente reunidos “The Beatles”, após um dos mais trágicos dias da nossa história sentimental, aquele pavoroso 08 de Abril de 1970. A perda de Lennon, no entanto, nos feriu muito mais profundamente que o desaparecimento de Harrison. Um pouco por conta da forma violenta e imprevisível com que ocorreu . Um outro tanto , pela prematuridade com que lhe arrancou desse mundo turbulento , mal tendo ele tingido os primeiros fios de cabelo com as águas dos quarenta anos. Mas principalmente por conta importância artística de Lennon. Ele sempre representara o contestador, o revolucionário, o transgressor do Fabulous Four. Ringo sempre fora mais intimista, George o mais tranqüilo e espiritualizado e Paul o mais certinho . Lennon trouxera não só suas poesia e música, mas untara os Beatles de atitude. Na verdade ele saltava à nossa frente como o artista mais verdadeiro, aquele que carrega consigo não só a capacidade poético-musical, mas principalmente a potência transformadora. Todo o sonho acabou virando pesadelo naquele 08 de dezembro de 1980, na calçada do Dakota, defronte de um Central Park triste e estarrecido.
Neste mundo afeito a cangapés e bundas-canastras não tem sido promissor o destino dos pacifistas. Quantos outros tiveram fim semelhante ? Gandhi, Cristo,Chico Mendes, Zumbi, Zé Lourenço, Luther King ... Como compreender a alma humana :meio anjo-meio demônio, meio cordeiro-meio lobo? O que Chapman, na verdade, conseguiu dizimar naquela sangrenta noite de inverno? Acredito que feriu de morte a esperança nos destinos da raça humana. Como compreender a sanha iconoclasta de se destruir aquilo que mais se ama? Em troca de quê? Um registro nos livros de história? A possibilidade de escrever o nome eternamente junto daquele que mais se admira, mesmo através dos piores impulsos e dos meios mais abjetos? Qual o futuro desta sociedade consumista , onde todos são transformados num mesmo amálgama ,sem qualquer individualidade e a fama fugaz e efêmera é perseguida sem qualquer escrúpulo?
Trinta anos nos dão o distanciamento necessário para entender os ínvios caminhos pro que trilhamos. Em minha casa eu adoro os Beatles e sou seguido na minha adoração por meus filhos e minha neta: três gerações ! Como isso é possível? Hoje que os sucessos não têm qualquer durabilidade! Axé, Lambada, Pagode, Banda de Forró se sucedem e são engolidos rapidamente , digeridos e excretados para a fossa do esquecimento, numa velocidade estonteante. O que imprime eternidade à música dos Beatles, quarenta anos depois da dissolução da banda? Como os faraós ao construir as pirâmides, eles edificaram sua obra para a imortalidade, intuitivamente conseguiram imprimir uma impressionante atemporalidade às suas músicas. Esculpiram em aço , em tempos de modernidade líquida e gelatinosa. Após a separação, todos fizeram carreira solo sólida e brilhante, mas nem de longe conseguiram alcançar a refulgência da banda o que terminou provando um contra censo físico : a força resultante do grupo era infinitamente maior que a soma das diversas forças artísticas separadas.
Ao contrário do previsto, o Sonho não se dissipou naquele oito de abril de setenta e nem foi trucidado dez anos depois na calçada do Dakota. O Sonho está vivo e continua sendo sonhado e embalando dias e noites mundo afora. O Sonho de Lennon virou epidemia e ele , como uma armadura, protege-nos , impedindo que a realidade não nos esmague.

08/12/10

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Severo e a Guerra Can-Can

Semana passada, Matozinho parou literalmente para acompanhar , pela TV , a guerra contra o tráfico nas favelas cariocas. O súbito interesse pelo assunto tinha sua raízes em razões modernas como o fascínio pela mídia, como em qualquer outro lugar desse mundão de meu deus, mas , também, em outras bem mais profundas e históricas. Por incrível que possa parecer, o Morro do Alemão, a Penha, a Rocinha são fronteiriços a Matozinho. É que a miséria e a desassistência do estado tornam todos viventes muito próximos e parecidos. A pobreza, como a morte, irmana e iguala muitos num estranho socialismo . Claro que a pobreza é produzida para alguns e a morte, muito mais igualitária, reúne todos numa mesma lápide, no mesmo nada, no mesmo esquecimento. Um outro fato a aproximar Matozinho dos cariocas: incontáveis matozenses vivem nas favelas do Rio, no comércio ambulante, como crediaristas. De alguma maneira, pois, a Guerra Civil carioca mexia diretamente com a Vila e sua economia.
As operações militares envolvendo Polícias Militar, Civil, Federal e o Exército, remeteram, também, imediatamente, a Vila a períodos conturbados da sua história. Os mais velhos lembraram rapidamente dos tempos do velho Pedro Cangati, aí pelos idos de 1950. Pedro fora chefe político local e desencadeara uma verdadeira guerra contra uma família de Serrinha , cidade vizinha : os Cangulo. As primeiras desavenças começaram por conta de briga no espaço político da região e acirraram-se ainda mais por contra dos Cangatis e Cangulos serem parentes próximos. A Guerra Cangati-Cangulo ficou conhecida como Can-Can. Hordas de pistoleiros campeavam naquelas brenhas , de lado a lado, e , em menos de dez anos, já se computavam mais de cinqüenta mortes . A vendetta acometia quase que proporcionalmente as duas famílias envolvidas. Com o passar dos anos, a questão se foi arrefecendo uma vez que a cara manutenção dos dois exércitos acabou por derrotar financeira e politicamente os dois contendores.
Pois bem, amigos, começamos pelas beiradas, como quem come mel quente, saído da passadeira. Imaginem a aflição de um destacamento policial, em Matozinho, em plena Guerra do Can-Can . Eram meros cinco soldados , armados de espingardas soca-soca e jardineiras, totalmente despreparados e mal acostumados, postos a enfrentar exércitos de jagunços perigosos e peçonhentos. Entre estes, havia uma folclórica figura , conhecido de todos: Severo. Apesar do nome de soldado espartano, Severo não fazia por merecê-lo. Franzino, magricela, alto, parecia um “Mané-Magro de Jurema”. Salvo ,por pouco ,de uma tísica na adolescência, Severo carregava aquele corpo de mamulengo, meio desengonçado. Sentara praça na polícia por mera falta de opção. Já perto da aposentadoria , dizia-se, a boca miúda e grande, que nosso militar, durante toda sua carreira, jamais prendera ninguém. Evitava enfrentamentos e operações em que tivesse que fazer campana sozinho. Pelo soldo pequeno que recebia, compreendia-se a dificuldade de atos de patriotismo e heroísmo exacerbados.
Quando apelado a exercer suas funções repressivas, Severo dava sempre um jeito de chegar atrasado. No máximo, tentava uma psicoterapia á distância, tentando convencer o bandoleiro a se entregar, a acompanhá-lo, mas sempre mantendo distância regulamentar. Do seu lado, ele usava técnicas de marketing, mostrando aos circunstantes a dificuldade da sua função, informando que se lá fosse e desse uma surra no acusado, a própria sociedade o condenaria, os direitos humanos viriam puxar sua orelha. A conversa se prolongava até que o baderneiro, ou bêbado resolvesse ir embora. Mesmo assim, Severo o acompanhava, sempre à distância, dando ordens de “Teje Preso”, até que o malandro se escafedesse. Depois, o soldado fazia uma relatório informando aos superiores a impossibilidade da prisão, uma vez que ao sentir seu poder de fogo, o desordeiro , com medo, fugira em desabalada carreira.
Matozinho, diante das operações dramáticas, no Morro do Alemão, remeteu-se, diretamente à mais heróica façanha do nosso Severo. No auge da Guerra Can-Can, alguns pistoleiros dos Cangulos, após uma chacina em Bertioga, se acoitaram numa casa estrategicamente construída na subida da Serra da Jurumenha. O lugar era militarmente privilegiado, num alto, com ampla visão em 180 graus de todo o horizonte. A polícia de Matozinho foi chamada para enfrentar os bandoleiros e, ao se aproximar do local, perceberam, claramente, que se tratava de uma tarefa perigosa e dificílima. Os facínoras atiravam sem parar com rifles papo-amarelo. No meio do destacamento estava nosso corajoso Severo que, mais que rapidamente, percebeu a enrascada em que estava metido. Mal chegaram no pé do morro, sob fogo cerrado, viram ser alvejado um pobre agricultor que ali passava, tardizinha, de volta da roça. Como Severo mesmo comentou: “a bala bateu no homem e ele caiu de cu trancado, nem estrebuchou”.
Severo, então, resolveu, num átimo, estabelecer a tática que mais havia treinado durante tantos e tantos anos: a retirada. Aproximou-se , se arrastando, do colega mais próximo , em meio ao ziguezaguear das balas e informou:
--- A coisa tá difícil ! Sustentem o fogo que vou buscar reforço !
Ao anoitecer, ainda sem poder tomar chegada, os soldados viram, por fim, os pistoleiros fugirem sem deixar rastro. Foram escapando , um a um, pelas portas dos fundos. Os que ficavam, continuavam a atirar em diversas janelas, dando a impressão que o batalhão ainda estava todo lá em cima. Por fim, o último escapou e só ao amanhecer o destacamento deu pela fuga da tropa. Já era muito tarde !
Em todo episódio, só houve uma baixa: a do agricultor. Sim, houve ainda um ferido leve: Severo ! Ele cortou o dedo enquanto, sentado no chão, escondido no canavial, vizinho à casa, descascava cana para chupar, enquanto as balas , por cima, cortavam as folhas e ele esperava por um reforço que não chegava, talvez porque não existisse e , mesmo se houvesse, sequer havia sido acionado. Foi garapa !

03/12/10