sexta-feira, 30 de abril de 2021

J. C. Alencar Araripe - 100 Anos de Chão e de Sonho

 

 


“Escrever é sempre esconder algo de modo que

mais tarde seja descoberto.”

Italo Calvino

 

 

                            José Caminha Alencar Araripe  está hoje comemorando seu centenário. Ele encantou-se em 2010, mas os escritores têm esse poder mágico, típico dos videogames e dos  gatos : sempre podem contar com muitas e muitas vidas à sua disposição. Deixam senhas e cifras escondidas pelas esquinas de livros e textos, botijas enterradas entre períodos e  parágrafos. E nem ficam os mapas das minas ! Os leitores, anos e anos depois, na tentativa rocambolesca de achá-los,  terminam , também, encontrando os seus autores. Os escritores, assim,  não morrem, apenas hibernam. E, por isso mesmo, é que hoje, sentimo-nos à vontade, mesmo em tempos de isolamento sanitário, de ajudar a soprar as cem velinhas do bolo de J. C. Alencar Araripe.

                            Há exatamente um século, Caminha nasceu aqui pertinho, no Jardim. Vinha de uma épica e tradicional família caririense, o guri era trineto de D. Barbara. Uma parte da infância o fez banhar-se nas águas do Riacho do Machado em Várzea Alegre e, depois, rapazinho, bebeu no majestoso Seminário São José de Crato, onde teve o batismo das letras. Depois, partiu para Capital e lá formou-se em Ciências Contábeis e envolveu-se no magistério tanto na área técnica, como, depois, na UFC como fundador professor assistente de Comunicação Social.

                            Como jornalista, nosso Caminha ( o Pero Vaz caririense) percorreu todos os caminhos da sua arte, desde a reportagem até à função de Editor Geral do Jornal “O Povo”, cargo que exerceu por muitos e muitos anos. Fez-se também articulista do Diário do Nordeste.  Sua produção jornalística é extensa e multifacetada: ensaios, editoriais, crônicas, discursos, artigos. Araripe viu-se multipremiado na sua atividade, desde o Prêmio Esso em 1958, até galardões internacionais, em Portugal e na Argentina. Alencar foi ainda membro do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras e ocupou a Cadeira 20, da Seção Letras  do Instituto Cultural do Cariri , cujo patrono é seu ascendente e biografado o Senador José Martiniano de Alencar. Caminha também presidiu a Academia Cearense de Imprensa por doze anos.

                            A política, que geneticamente lhe corria no sangue, o fez vereador em Fortaleza pela UDN, tendo exercido a presidência da Câmara e, depois,  o cargo de prefeito interino da capital do Ceará em 1952.

                            Como escritor, o nosso caririense deixou muitas obras , as mais importantes na área biográfica e histórica, tendo traçado a vida de Delmiro Gouveia, D. Bárbara, Senador Alencar, a trajetória da  Faculdade de Medicina do Ceará. Seu livro “Alencar, o Padre Rebelde” é uma das mais detalhadas e precisas obras sobre a vida gloriosa do Confederado de 1824.

                            J. C. Alencar Araripe foi pródigo em esconder seus mistérios e suas botijas ao longo de sua caminhada. As futuras gerações têm sobejas razões de brincar com ele nesse jogo de esconde-esconde e, a cada descoberta, a cada revelação , junto à prenda e à joia encontrada, ganharão,  uma outra pedra preciosa: a luminescência de uma vida pródiga e encantada, envolta, como um rocambole, na poeira da Realidade,  mas imersa no colorido do sonho.

 

Crato, 30/04/2021

sexta-feira, 23 de abril de 2021

As Incelenças da Excelência

 


J. Flávio Vieira

 

                                               Naquele dia, na praça da matriz de Matozinho, chegou a novidade da morte do Príncipe Phillip, lá prás bandas da Inglaterra. Um lugar longe , do outro lado do mundo, onde Judas pode ter encontrado as esporas. Deve ser de Serrinha de Nicodemos prá lá, umas trinta légua, calculou alguém.   Monteiro, um mascate que rodava o mundo no seu bólido asinino, trouxe a notícia. O homem tinha batido as botas, já perto de inteirar um século e explicava com sua voz empostada e metálica de vendedor:

                                   --- É que rico é bicho pouco morrente, meu senhor! A vida toda só comendo e bufando, sem dar um prego numa banana ! Tomando mingau na boca, levantando meio dia... Uma ruma de besta ao redor , lambendo e adulando o Zé Mané ! Queria ver aqui: desgotando fossa, puxando cobra pros pés, cambitando cana no eito... O mofino num aturava dois anos !

                                   O certo é que, diante da notícia de um velório tão raro, o povo se assanhou como maribondo de chapéu sojigado por caco de telha. Ninguém nunca na vida tinha sabido de morte de príncipe e de rei, tirante o de Dom Ribamar, um doido que perambulava pelas ruas de Matozinho e se arvorava de Rei de Bertioga. Ali, invariavelmente, quando o cristão botava pra entregar a alma ao criador, os amigos e vizinhos empreendiam uma vigília, acompanhando o sofrimento do padecente até que ensebasse o capim. Depois vinha o velório de um dia para o outro, regado em geral a cachaça e caldos, com trilha sonora de mântricas incelenças, sob o choro convulsivo de familiares, geralmente entoado em notas agudas, com um a dois oitavos acima da escala. O enterro se arrastava como uma cobra de cipó, veredas abaixo, com o defunto estirado na sua rede trespassada por uma longa estaca de sabiá. Parentes carpiam e gemiam alto: o volume era essencial para os outros compreenderem o tamanho da sua perda.  Os acompanhantes , no percurso, faziam via sacra nas bodegas, completando o tanque que já vinha mais ou menos esborratando  do velório. No caso de um cabra metido a besta como esse tal de Príncipe Filipe ( ninguém conseguia dizer a proparoxítona meio trava língua: Phillip), como diabos era o tal do enterro ? Os matozenses queriam saber, até para  refinarem os costumes da vila, reformularem os manuais de etiqueta e postura matozenses.

                                   Alguém, na praça, lembrou que Pedro Gogó de Sola, um camelô da cidade, ia para capital no dia seguinte, fazer uma compras. Como em Matozinho não se sabia o que era televisão, pediram a Pedro para ver se assistia , por lá, ao tal do enterro do homem, em alguma TV e, na volta, como um bom repórter, poderia contar a todos os detalhes do funeral. Gogó , assediado, aceitou a incumbência. Mas impôs uma condição: no dia que fosse fazer o seu relato, na praça, exigia um litro de cana de cabeça, prá folgar mais os parafusos e as ruelas da memória.

                                   Gogó de Sola partiu na sopa de Duzentos, no dia seguinte,  e deixou a cidade ansiosa e cheia de sobrosso. E o pior é que demorou mais do que o previsto. A promessa era tornar no dia seguinte. Só uma semana depois ele deu o ar da sua graça. Quando Pedro botou o pé novamente em Matozinho a boa nova se espalhou como fofoca sobre moça desvirginada. Rápido, os chefes das rodinhas da praça procuraram Gogó e marcaram a leitura do Relatório Final do enterro do Príncipe Filipe para ser apresentado no finalzinho da tarde, na praça da matriz.

                                   Umas quatro horas, o sol já a meio pau, Gogó chegou na pracinha e ocupou a testeira de um dos bancos que, àquelas horas,  dava sombra. Umas cinquenta e tantas pessoas aguardavam o repórter: homens, mulheres, meninos. Na parte debaixo do banco foi colocado, como combinado, um litro da cachaça de cabeça “Consola Corno”, destilada no engenho do major Anfrízio Maia, um copo de fundo grosso e uma coité com uns dez cajuís. Depois de umas duas talagadas e a mordida na fruta, por fim, Gogó de Sola, com voz tonitruante como se estivesse oferecendo “Pomada do Peixe-Elétrico”, começou a contar sua história.

                                   --- Eu assisti, ontem, sábado o enterro do tal Príncipe Filipe! Só cheguei hoje porque tive de esperar de butuca por quase uma semana: o povo quase num leva o homem pra cova. Oito dias de velório ! Onde já se viu ? Pelos minhas bausas, só de Caldo de Carne, devem ter gastado pra mais de 600 litros. Gastaram vela que dava prá umas quinhentas procissões aqui em Matozinho. Ô povo exagerado ! E o véi quase num bate as bota, tava mais enrugado do que maracujá de gaveta. E o enterro foi a coisa mais desmantelada que já vi, parece até que foi organizado pelo Prefeito Sinderval Bandalheira. Botaram o caixão do homem num jeep velho, coberto com uma lona igual a que dona Vitalina cobre as mesas nas quermesses. Na frente colocaram um monte de soldado, cada um mais desmantelado que outro. Uma ruma de baitola vestido de saia e tocando uns foles véio e o som que saía dos bichos parecia os de um gato quando a gente pisa no rabo . Outros vinham com uns cupins enormes na cabeça. Uma marmota. A rainha vinha atrás, com um chapéu de massa atolado até as orelhas e nem tava de luto. Nem uma lágrima a viúva soltou, nem um gemido, capaz de ter sido ela quem deu o chazinho da meia noite pro Filipe. Seguindo o caixão, vinha um povo de paletó, com cara de importante, com um passinho lento de quem toma chegada para atirar em passarinho. De repente, um estrondo danado, disseram que uns soldados largaram fogo nuns canhão, coisa de quebrar os vidros da igreja.  Vai ver que os abestado tavam pensando que aquilo era festa de São João. Ninguém desmaiou, ninguém gritou, num teve uma incelença. Pobre do Filipe, a família tava achando era bom, deve ter deixado pé de meia, viu ?! Só uma coisa achei bom: toda vida, me contaram, Filipe tinha que andar atrás da mulher dele, a rainha.  Já pensou como o pobre era sojigado, um barriga branca ? Pois bem, agora eu quero é ver, viu, sua rainha véia metida a besta, dessa vez ele foi na frente !

                                   No meio da roda principal, uma mulher quis saber como diabo é que fizeram pra sustentar o defunto no caixão por sete dias e num baixar urubu. Antes que Gogó de Sola tentasse arrancar alguma justificativa para aquela mumificação, Chico Magarefe, o principal abatedor e vendedor de criações de Matozinho, rapidamente matou a charada:

                                   ---- Oxe ! Tem mistério, não ! Só tem um jeito: sargaram o véi Filipe !

 

Crato, 23/04/22  

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Vicente Finim

 


J. Flávio Vieira

                                               Estes dias pus-me a remexer um baú antigo de fotografias que tenho aqui em casa. Esta arqueologia particular e pouco técnica  sempre nos preenche com um misto de saudade e de surpresas. De repente,  descobrimos que muitos entes queridos simplesmente , um dia, encantaram-se. Figuras estimadas, muitas imprescindíveis na nossa jornada, um dia, misteriosamente, passaram a morar no álbum de retratos. A gente, também, se dá conta que o rapazinho lépido e sonhador da fotinha, dismilinguiu-se um pouco, esmaeceu e não mudou só o envoltório, teias de aranha e carunchos não ficaram só na superfície, penetraram pelos fios da alma e corroeram, um tanto, a aquarela dos seus anseios e esperanças. Pois bem, em meio a estas constatações sempre renovadas a cada página dos álbuns de fotografias, dei com uma foto que de há muito tinha por perdida. Tinha me sido oferecida, nos anos 80, pelo jornalista e amigo, o soberbo comunicador  Antonio Vicelmo.

                                   O retrato em  preto e branco, daqueles que não se deterioram com a passagem dos anos, mostra um senhor sessentão, de cabelos grisalhos e pouco penteados, nariz proeminente saltando do rosto  meio a perfil, com profundas rugas desenhando aquela face marcadamente nordestina. Uma barba e bigodes ralos e prateados encobrem o queixo e o lábio superior. No peito a camisa aberta no seu largo, deixa sobressair  um peito cabeludo com tons que combinavam com o gris do cabelo e da barba. O olhar , de revés, transparecia preocupação e profundidade. Percebi, com alegre surpresa, imediatamente o achado, quase como Carter diante da múmia de Tutancâmon.

                                   Tratava-se de Vicente Finim, uma das mais mitológicas figuras do Cariri. Nascido e vivente no Sítio Cabeceiras em Barbalha, Vicente trazia na geografia razões mais que premonitórias para o mítico e encantatório. As Cabeceiras fez-se morada de D. Bárbara e dos Penitentes da Cruz . O sobrenome de Vicente veio , segundo familiares, da figura franzina e esquálida  que virou Fino e, depois, carinhosamente despencou para o diminutivo Finim. Os mais novos não lembram, mas Vicente era famosíssimo no Cariri, em noites de lua cheia, dizia-se a boca miúda,  ele virava lobo e saía perambulando pelas estradas e sítios procurando animais para comer.

                                     Difícil determinar a origem do mito do Lobisomem. Estas lendas ancestrais devem ter chegado aqui com nossos colonizadores. Quase todas as civilizações antigas alimentavam lendas de homens que se transmutavam de animais, em geral para explicar reações violentas e selvagens. Como se naquele momento do crime, não fossem eles que o estivessem perpetrando. Geralmente o início destas transmutações aparecem por uma maldição. Ninguém sabe informar, ao certo, de onde veio a fama de Lobisomem do nosso personagem. Os meninos temiam-no, os sertanejos o olhavam com um ser ressaibo e respeito. E Vicente terminou gostando da brincadeira, a fama lhe trouxe mais benefícios que chateações. Até alimentava o mito, contando detalhes das suas peripécias quando se sentia atuado e na nova vestimenta selvagem. Segundo ele, aquilo tinha sido um castigo , uma praga rogada por sua mãe.

                                   Eram felizes aqueles tempos escondidos em meio aos álbuns de retratos. Até os monstros apareciam periodicamente, nas sextas feiras e noites de luz cheia. A gente escondia-se nestes dias de maior perigo e estava salvo. Hoje os lobisomens formaram uma alcateia: atacam nos boletos de final do mês, espraiam-se pelo ar e armam emboscada em cada esquina e rodinha de conversa, confinam-nos em casa roxos de medo e angústia. E o Lobo Alfa nem tira a vestimenta, recusa-se a virar humano durante o dia,  como seus antecessores,  usa paletó, sobe rampa , agride criancinhas, cospe impropérios e ataca por ameaças,  decretos e por leis. E, em voracidade, faz inveja aos chacais.  Saudade de Vicente Finim !

Crato, 16/04/2021

                                  

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Pestana

 


J. Flávio Vieira

 

                                               Zenóbio , desde miudinho, era destrambelhado. Desses  que a ordem natural das coisas conspira naturalmente contra eles ou vice-versa. O pai lembrava que já no parto ele quase tora a mãe no meio: resolveu vir de través e a bundinha viu a luz primeiro que os olhos. Cresceu como menino mártir, desses que têm uma atração quase predestinada pelos acidentes domésticos. Pedras voadoras procuravam sua testa, quedas  fraturavam suas canas, como por encanto, doenças de criança tinham uma atração quase gravitacional por Zenóbio. Até dormindo, aquele fatalismo congênito não lhe dava sossego: cacos de telha desprendiam-se do teto em procura do seu corpo, marimbondos de chapéu assustavam-se e achavam guarida nos seus beiços.

                                   Mesmo crescido, a saga martirológica de Zenóbio não se aplacou. No primeiro emprego comprou um fusquete e , de tanto bater pelos cantos e nos outros carros, recebeu o apelido de “Pestana”. Sempre conseguia provar que era possível, sim, fazer com que a curva mais reta terminasse empenada em tortuosa curva. Ainda bem que esses desacertos não  o tiravam do sério. Passaram a fazer parte da sua vida , recebia cada gafe, cada cabeçada com muito bom humor. E desses disparates se foram tecendo as histórias do nosso “Pestana” , catalogadas , cuidadosamente, pelos amigos mais próximos. Arranjou um empregozinho como funcionário da Câmara de Vereadores e foi sopa no mel. Eram tantos as mancadas dos políticos que empanavam, totalmente, as peripécias de Zenóbio. O salário não era lá essas belezas, mas , reconhecia, era pago regiamente para o trabalho que executava: enfiar bufa em cordão.

                                 Um dia aposentou-se. Os anos tinham passado sem jamais testemunhar uma gota de suor deslizando da testa do barnabé. E aí, nosso destrambelhado, para o terror da esposa Quininha, voltou para suas traquinagens redobradas em casa. Imaginem, aí, o tamanho do desmantelo ! Preso num território totalmente desconhecido e inóspito, sob justificativa de economia de gastos, Zenóbio se auto-intitulou o “Consertador Geral” do lar de  Quininha. Para tanto, convocou, sob suas ordens, o filho mais novo, Guiga, como auxiliar de eletricista, bombeiro, engenheiro eletrônico  e servente de obras.

                                    Um dos primeiros dos 12 trabalhos de “Pestana” foi o conserto de goteiras que ele cismou estavam umedecendo a sala de jantar. Com ajuda de uma escada velha, subiu na cumeeira da casa e saiu pisando e quebrando telhas, em busca de consertar o possível vazamento. Guiga postou-se embaixo, na sala, orientando a possível localização do pinga-pinga. De repente, os caibros e ripas velhos cederam e o nosso Zenóbio esparramou-se por cima da mesa grande, trazendo na sua companhia a metade do teto. Um braço engessado,  duas semanas e três pedreiros depois, “Pestana” explicava ainda a uma Quininha incrédula e chateada que a culpa era da madeira dos caibros e ripas:

                                   --- Quininha, fizeram foi com marmeleiro! Queriam era me matar !

                                   Não tinha passado um mês, nosso operário doméstico padrão convocou, novamente, Guiga, para outra missão heroica. A televisão da sala estava chuviscando muito e ele tinha certeza que era um problema no posicionamento da antena. Cabreiro, ainda com o braço no gesso, mandou o menino subir na crista da casa e ir, lentamente, rodando a antena. Lá de baixo, Zenóbio observava a melhoria na qualidade da imagem, até que gritou:

                                   --- Guiga, pode parar aí ! Tá uma beleza a imagem, coisa de cinema ! Eu não disse !

                                   Quando o filho desceu, chegando na sala,  deu com o pai remexendo no fundo da televisão, agora com o tubo de imagem virado para a parede.

                                   --- Pai, que diabo tu tá ,mexendo aí ! A imagem não ficou boa ! Bula  não !

                                   Calmo, com voz arrastada, Zenóbio explicou:

                                   --- É, ficou ! Mas eu vi aqui que tem um fiozinho solto! E fio solto tem seu lugar, Guiga !

                                   Apreensivo, conhecendo a fera, o rapaz alertou :

                                  --- Mexa , não, pai ! Tá bom ! Pode piorar !

                                   Nem adiantou muito, agarrado no fio solto, “Pestana” enfiou-o num buraquinho próximo de uma válvula:

                                   --- Fio solto tem seu lugar, só pode ser aqui, Guiga !

                                   Antes que o menino alertasse, ouviu-se um estrondo fenomenal e subiu uma fumaça preta parecida com um cogumelo atômico. Segundos depois,  uma imagem coberta de fuligem saía do meio do fumacê, só os olhos estavam brancos. Aquele saco de carvão aproximou-se do um menino trêmulo e prestes ao pernas-pra-que-vos-quero e sintetizou, calmamente, o resultado final do conserto eletroeletrônico da antiga TV de D. Quininha:

                                   --- Guiga ! Queimou...

Crato, 09/04/2021