quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A República Independente do Crato


Neste 7 de setembro,  que nos últimos quatro anos tinha se transformado  num desfile de carnaval do Bloco Brucutus em Folia, reportagem do G1 da Globo versa sobre o protagonismo da sétima maior cidade do Ceará, nos movimentos pró-Independência e República do Brasil. Aderindo à Revolução Pernambucana, o Crato ecoou seu berro de Independência cinco anos antes do Grito do Ipiranga e, pela República,  setenta e dois anos antes de Deodoro. Durante aqueles oito dias gloriosos, o Crato proclamou-se uma República Independente.  O sonho breve durou apenas uma semana, mas foi o suficiente para compor um governo provisório, arregimentar outras cidades como Jardim e organizar um exército para invadir Icó, então um forte reduto do Governo Português. Com a derrocada do movimento de sublevação houve a perseguição contumaz dos seus organizadores , com a chacina de Tristão de Alencar, a prisão de Bárbara e José Martiniano, o assassinato do Padre Carlos Alencar e o arcabuzamento de mais de uma centena de outros líderes da Revolução que se expandiu para vários outros estados nordestinos. E o ímpeto libertário não se apagou com a perseguição, o Cariri voltou à luta entre 1822 e 1823 pela consolidação da Independência no Piauí e Maranhão e, logo a seguir, na Confederação do Equador que, no próximo ano, comemorará seu bicentenário.

                        O Crato, naqueles breves sete dias, se transformou na mais importante cidade do interior do Brasil, motivo pelo qual um dos mais importantes sites noticiosos do país, o G1, voltou sua atenção, novamente, para nós, neste 7 de setembro. Por incrível que pareça, a nossa cidade esqueceu, totalmente, este protagonismo e o caráter épico dessa história. Basta observar os signos desse esquecimento. O 3 de Maio  , a data mais importante da nossa história carririense, deveria ser feriado municipal. Ele é o nosso 7 de Setembro. Não existe, no Crato, qualquer indicação pública da sua existência. Um dia a Praça de São Vicente recebeu esse nome, depois trocado pelo de sucessivos líderes políticos. D. Bárbara de Alencar teve sua casa demolida. Hoje, defronte, existe uma estátua sem pedestal, fincada no chão, sem qualquer visibilidade além da figura teratológica digna de filmes de SCI-FI. José Martiniano tem uma rua com seu nome apenas, a do Calçadão, mas com o epíteto de José de Alencar, todo mundo confunde com o escritor famoso que era seu filho. Tristão  e Bárbara dão nome a ruas centrais e só ! Já o caudilho Pinto Madeira, o contrarrevolucionário de 1817,  designa a todo um bairro populoso da cidade e nomeia uma rodovia importante que liga o Crato ao Arajara e à Barbalha. D. Bárbara, secularmente, tem sido vítima de um feminicídio moral perpetrado, inclusive, por setores da sua própria família. Em História,  o esquecimento intencional faz parte do próprio processo histórico de jogar luzes nos fatos que interessam a setores dominantes da sociedade e relegar ao limbo outros que não lhes parecem estrategicamente importantes. Nada acontece por mero acaso!

                        É preciso levar a História do Crato às nossas escolas, lembrar dos nossos sonhos imorredouros de liberdade. A Vila precisa retomar o rumo dessa memória. Por que não construir um Memorial da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, nos moldes do Memorial da Inconfidência de Ouro Preto ? Bárbara, José Martiniano, Tristão, Carlos estariam de volta à cena. Esse seria um presente que a cidade do Crato legaria, finalmente aos seus heróis, no Bicentenário da Confederação do Equador que comemoraremos no próximo ano.

Crato, 07/09/2023

 

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