sábado, 10 de junho de 2023

Um Clube, uma Paixão

 



 

                               Semana passada o clube mais tradicional da cidade – o Crato Tênis Clube  -- completou suas sete décadas de existência. Havia sido precedido pelo Crato Club, vinte anos antes, chamado de Clube da Rapadura,  ali na Rua Senador Pompeu, mais ligado à elite rural cratense e que tinha entre seus diretores dois médicos: Miguel Limaverde e Joaquim Pinheiro Filho. O Crato Tênis Clube nasceu de uma necessidade da ascendente   burguesia mercantil da cidade que ganhava espaço político-econômico e precisava de uma área de lazer.  Construído distante do centro (o Crato nos anos 50 acabava nos arredores do Hospital São Francisco) , houve o temor inicial da tradicional família cratense com a localização meio rural  do edifício que se espelhou na arquitetura neoclássica do Clube Maguary de Fortaleza.  O tempo demonstrou que seus visionários diretores estavam certos.  O CTC aos poucos se tornou o coração social da Vila de Frei Carlos, tendo seu auge entre os anos 50-80, do século passado. As maiores festividades ali aconteceram: Concurso de Misses; Festa de Debutantes; Festas de Formatura; Recepção de governadores, políticos influentes e presidentes; Festas Juninas, as Festas da Exposição Agropecuária. Sem falar nos Réveillons e nos Carnavais memoráveis da cidade do Crato que rivalizavam com os mais badalados do país. Ao clube devemos também muito da atividade esportiva desenvolvida, principalmente, na Era de Ouro do Salonismo cratense, quando o CTC tinha um dos times mais aguerridos do Ceará, modalidade que ainda hoje permanece bem viva no clube e, também,  a Natação e o Tênis  aqui introduzidos pela entidade.

                        Nos últimos vinte anos, os clubes brasileiros sofreram um intenso processo de deterioração. Mesmo em Brasília , onde, pelas próprias características da cidade, eles sempre foram tão fortes. As festas se tornaram megaeventos, os encontros foram se tornando virtuais, os bailes perderam o glamour , o cheek-to-cheek  ficou obsoleto com os motéis. Setenta anos depois,  o CTC continua lá impávido, mesmo assim. Tem um restaurante dos mais movimentados da região, mantém ainda aquele ar retrô, mas chique de outrora. É preciso abraçar todos os últimos diretores pela força em manter a chama acesa, enfrentando tantas dificuldades.

                        O Crato Tênis Clube é parte indissociável da história do Crato. Construiu o clima de encontro e sedução para muitas gerações de cratenses. Músicos como Hildegardo, Hugo Linard, Ibbertson Nobre, Cleivan Paiva, Jayro Starkey, Cleudo, Leninha Linard, José Flávio, Peixoto, Mané D´Jardim, Bá e muitos outros criaram e tocaram a trilha sonora de muitos e muitos apaixonados. O CTC fez-se o cenário bonito e acolhedor para o desenrolar de muitas confidências, muitos sussurros, muitas declarações daquela peça teatral chamada de vida. Atores e atrizes se sucederam no palco e fluiu por todos os recantos do velho casarão , por setenta anos, a seiva de que se alimenta o motor da existência e ela se chama paixão.

Crato, 31/05/2023  

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