sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Cassino Sul Americano

-- O fluxo contínuo do Sonho







“Play It again, Sam !”
       Humphey Bogart , em “Casablanca”

                                                               O Cassino Sul Americano foi o primeiro Centro de Convenções do Cariri. Inaugurado há exatos cem anos -- em 20 de dezembro de 1918 -- carregava consigo uma vocação multifuncional. O velho casarão, da também centenária Praça Siqueira Campos,  funcionava como Bar na parte de baixo, como Cassino no alto e, enfim, como Cinema e Centro de Eventos , nos fundos. Ali aconteceram famosas conferências, como a do folclorista Leonardo Mota, do Integralista Severino Sombra e acolheu o primeiro show de Luiz Gonzaga, após firmar sucesso nos anos 40. Seria ainda palco das  grandes festividades alusivas ao Centenário da Independência, acontecidas em 1922. O prédio, de propriedade dos Drs. Raimundo de Norões Milfont e Belém de Figueiredo,  teve como primeiros arrendatários:  Cícero Araripe ( pai do futuro prefeito Dr. Ossian) , no Bar e Cassino;  e o boticário Dr. José Gonçalves de Sousa  Rolim,  no Cinema/Auditório.
                                               O Cine Cassino  fez-se o segundo cinema fundado no Cariri e aquele que, de longe, teve a maior longevidade. Resistiu aos avanços da TV, ao Videocassete,  à modernização inevitável da região e suas projeções só pararam em 07 de fevereiro de 1992, quando ruiu a nave principal do auditório. Foram setenta e quatro longos anos de atividade, encantando com o feitiço do cinema muitas e muitas gerações de caririzeiros.  De princípio,  o cinema era mudo ( a fala só chegaria no futuro Cine Moderno , em 1934) e era musicado por uma vitrola pilotada manualmente pelo projetista. O primeiro deles chamava-se José Raimundo dos Santos ( Zé de Toinha)  que controlava a velocidade da música e da projeção,  dependendo do clima da película. Manipulava uma manivela,  numa velha máquina que usava o carbureto como fonte incandescente para a projeção do feixe mágico de luz.  Depois, a música incidental contou com a ajuda de músicos, entre eles o saxofonista “Abelha”, irmão de Ló Geraldo.  Um sem número de funcionários foram aos poucos atraídos pela encantadora novidade : os porteiros Cícero Laranjal e sua esposa, D. Heroína; “Seu Sá” , o primeiro gerente; Amarílio,  responsável pelo desenho das propagandas de filmes em tabuletas espalhadas pela cidade, distribuídas por Zelito Viana e Mário Oliveira. Este último dedicou toda a vida ao Cine Cassino, lá trabalhando desde os dez anos de idade e  acabou sendo seu último proprietário . Cleto Milfont contratava meninos ( pagos com ingressos)  para, em algazarra, divulgar em megafone, pelas ruas, os filmes em cartaz.
                                   O Cassino Sul Americano , com a magia do Cinema, imantou toda uma futura geração de cineastas caririenses: Rosemberg Cariry, Hermano Penna, Jéfferson Albuquerque, Émerson Monteiro, Hélder Martins,  Ronaldo Brito, Jackson Bantim, Luiz Carlos Salatiel, José Roberto França. Teceu , ainda, com seu escurinho e o romântico das suas histórias, o clima propício para o encontro e a leitura em Braile do amor e da sedução. Aos poucos, a cidade e as pessoas já não se conformaram mais com suas vidas comezinhas e sem glamour, começamos a melhorar o figurino, o script, o cenário , os adereços... Passamos a criar o filme das nossas vidas:  mais charmoso, mais rico, mais sexy, mais hollywoodiano...

J. Flávio Vieira
Janeiro/2018  

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