sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SIM ? NÃO !




                                               Alguém comparou ao que aconteceu naquele seis  de agosto em Hiroshima, a bomba que começou a pipocar em Matozinho naqueles dias. A cidade ficou em polvorosa, em pé-de-guerra. Todos temiam pelas próximas revelações escabrosas que iam explodindo continuamente, como uma bateria de fogos nas novenas de Santa Genoveva. Esperava-se, a cada instante, pela bomba grande : aquela que finaliza qualquer espetáculo  de show pirotécnico. Nunca se entendeu bem como o primeiro fósforo encostou na rastilho de pólvora. Parece que tudo partiu do prefeito Sinderval Bandeira, também conhecido por Bandalheira. Consta que ele se viu preocupado com as manifestações de julho que tomaram conta de Matozinho , contra algumas falcatruas descobertas na sua administração. Coisa de somenos importância: fraudes nas licitações, desviozinho de verbas do Fundo de Participação, pagamento de propinas aos vereadores para aprovação de alguns projetos do interesse do executivo. Nada que não faça parte das atividades curriculares de um bom político brasileiro. Os estudantes calabrearam as caras com barro do Paranaporã e saíram em passeata com cartazes : “Fora Bandalheira!” Mas há também quem impute as raízes do problema surgido depois a alguns fatos preocupantes , chamados oficialmente  de Atentados Terroristas  da Oposição. Em março, nas comemorações do 7 de Setembro, em Matozinho, a Banda  Cabaçal viu-se impossibilitada de fazer sua apresentação, por conta de um ato claramente terrorista : passaram pimenta malagueta na boca de todos pífaros e em meio aos froc- froc dos beiços inchados friccionando a embocadura dos pífaros, terminou-se por cancelar o evento. Na Festa da Padroeira, por sua vez, sabe-se lá quem, colocaram uma bomba cabeça-de-negro debaixo do altar da missa campal , que explodiu na hora da elevação, lançando hóstias consagradas para tudo quanto é lado, fazendo com que Padre Arcelino quase não torne da pitingula que deu. Por fim, nas comemorações do Dia do Município, um terrorista misturou um vidro de óleo de rícino no imenso panelão coletivo em que se faz tradicionalmente o muncunzá comemorativo da festa.  Servido, faltou moita ao redor de duas léguas e os cabras  terminaram comprando  sabugo a preço de ouro.
                                               O mais provável, no entanto, é que tenha sido a proximidade das eleições a grande força motriz que acabou desencadeando os eventos futuros. Política acirrada em Matozinho, Bandalheira passou a temer o crescimento do candidato de oposição, Juju Cangati. Precisava , assim, de informações privilegiadas sobre o andar da carruagem do seu adversário. Montou-se ele , então, nos motivos mais palatáveis : Risco de a Al qaeda está instalando um escritório terrorista em Matozinho e a necessidade de acompanhar os reclamos das manifestações de rua. Foi assim que criou,meio secretamente,  por Decreto, o S.I.M. : Serviço de Informações de Matozinho. Que foi apelidado pelo povo de DEFOCAMA : Departamento de Fofocas Cabeludas de Matozinho. Para presidi-lo convocou  Totonho Meia Cabeleira, um barbeiro da cidade, conhecido por dar  notícias da vida de todo mundo nas redondezas. Naqueles grotões, sabia, perfeitamente , sem rádio, sem TV, sem telefone, os únicos profissionais habilitados neste ofício eram os fofoqueiros.
                                               Meia-Cabeleira não se fez de rogado, mediante a carta branca cedida por Sinderval, passou a montar sua equipe com profissionais escolhidos a dedo. D. Firulina no Centro da Cidade; D. Afonsina do Sabugo nas imediações e zona rural; Aprígio Língua de Cobra em Bertioga; D. Alterosa , também conhecida como “Urêia de Tisgo”, responsável pelas informações das cidades circunvizinhas e ainda “Sueldo Boca de Sapo”, o carteiro, com permissão expressa de curiar todas as correspondências, lendo-as antes de chegar aos destinatários.
                               Não foi difícil formar a equipe de fofoqueiros profissionais  que já faziam sua função por mero prazer e, agora, seriam remunerados. Só existia um probleminha: exigia-se deles sigilo absoluto o que feria  o Código de Ética da profissão.  O certo é que a partir da estruturação do S.I.M. , Sinderval passou a navegar em oceano pacífico. Antecipou-se a manifestações, negociando antecipadamente com os revolucionários: oferecia empregos na prefeitura aos chefes dos movimentos. Obras destinadas a municípios próximos eram rapidamente desviadas para Matozinho, já que o prefeito alertado pelos fofoqueiros de plantão, procurava os políticos responsáveis pelos projetos e oferecia-lhes vantagens extras. Além do mais, de posse de informações privilegiadas trazidas  principalmente por Sueldo , chantageava inimigos políticos e adversários ameaçando-os de revelar escândalos descobertos pelo S.I.M..  O mais importante de tudo foi a eleição do seu candidato, vencendo todas as expectativas contrárias. O DEFOCAMA conseguiu infiltrar um fofoqueiro na campanha do adversário que passou as estratégias da campanha do candidato de oposição e, aí, foi sopa no mel.
                                               Sinderval estava satisfeitíssimo com os trabalhos do seu J.Edgar Hoover, ali conhecido como Juju Meia Cabeleira. Não existe solução, no entanto, que não traga junto inúmeros outros problemas. Um dia,  “Boca de Sapo” levou uma carta ao vapor da panela e descobriu uma informação terrível. Era uma missiva de um parente seu , desafeto, encaminhada para um irmão dele em São Paulo e lá estava escrito claramente : Sueldo estava levando chifre  do prefeito. Mas seria verdade ?  Fez campana e terminou descobrindo que a informação procedia. Endoidou o cabeção, pensou em matar a esposa e o amante. Resolveu , no entanto, mole como era,  fugir. Partiu para uma cidade distante da região norte do estado. E de lá, começou a desencadear sua vingança. Passou a enviar cartas anônimas a inúmeros cidadãos de Matozinho revelando as fofocas mais cabeludas. Padre Arcelino tinha um colete com o Coroinha : encontravam-se na sacristia à noite e, depois de se entornarem de hóstias e vinho, brincavam de esconde-esconde. Sinderval comprara várias fazendas nas cidades próximas colocadas sempre no nome de laranjas e citava uma por uma, com documentação. A mulher do juiz era falsa à bandeira e o traía com Pedro Jurubeba, esgotador de fossas da cidade. As cartas chegavam religiosamente toda semana, sempre para pessoas diferentes mas escolhidas entre aquelas que tinham maior língua e, sempre, vinham acompanhadas de provas. A cidade vivia um clima de terror, esperando a próxima revelação na semana seguinte. Quem tinha culpa no cartório estava torando diamante com anel de couro.
                                               Sinderval  , o detentor do maior rabo de palha da cidade, entrou em choque. Usou meios políticos para tentar prender seu ex-funcionário e repatriá-lo para Matozinho, para que viesse sofrer  as devidas sanções. O governador do estado, no entanto, Rubião Tebroso, feroz opositor de Sinderval, soube do acontecido e protegeu Boca de Sapo. Em represária , Sueldo, a cavalheiro, contra-atacou. Começou a revelar os podres dos seus antigos companheiros de S.I.M : Firulina, Aprígio, Alterosa, Afonsina. Acossados eles resolveram, então, abrir o jogo, em revanche,  e puseram todo o esterco de Matozinho e vizinhança no ventilador. Foi assim que se descobriu que Sinderval, não era  Sinderval, mas Bianca Butterfly até fazer a cirurgia de mudança de sexo e que a santa Madre Filismina do convento de Nossa Senhora das Saponáceas era proprietária da Boite Sorriso da Noite na Rua do Caneco Amassado.
                                               Na prova oral de história no Colégio Pedro Cangati, semana passada, em meio ao fogo pós Bomba de Matozinho, a professora perguntou ao aluno:
                                               --- Quem descobriu realmente o Brasil, Pedrinho ? Vicente Pinzón ou Pedro Álvares Cabral ?
                                               Pedrinho assuntou e, não teve dúvidas:
                                               --- Acho que foi Sueldo Boca de Sapo, Fessora!

Crato, 09/08/13

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