sexta-feira, 15 de maio de 2009

Fênix

Súbito, obra-se o milagre da ressurreição. Os galhos ressequidos, retorcidos e nus, que pareciam clamar aos céus por chuva, recobrem-se do manto verde e resplandecente da esperança, mal os primeiros pingos caem dos céus. Da noite para o dia, mal desponta o inverno, a crua e transparente paisagem veste roupa de gala , como a esperar pela festa tantas vezes prometida e outras tantas adiada. Os sapos aparecem como por geração espontânea e preenchem o mundo com um coaxar repetitivo em feitio de mantra. As formigas , outrora presas à sequidão da terra, tornam-se aladas , ganham o espaço e, já não suportam a subterrânea escuridão: banham-se e queimam-se de luz. . As tanajuras desfilam exuberantes e sexys, parecendo Carlas Perez em meio ao tchan da natureza.. Os pássaros antes raros e desconfiados, singram a amplitude , impávidos , como brigadeiros do ar. Os homens, de pele cinza, mimetizando-se com a paisagem, testemunhas de tão deslumbrante espetáculo de ressurreição, transformam-se, vestem a alma de linho : primaveram e invernam. De repente, a natureza é uma una e rediviva : uma fênix de penas verdes e canto multiforme e mavioso.
Untamos nossas vidas nordestinas na bipolaridade das estações. Verão para nós não é sinônimo de praia e de bronze; é apenas a dura e áspera perspectiva do inverno ansiosamente esperado, cuidadosamente profetizado. O verão carrega consigo, umbilicalmente, o outono que despe descaradamente e sem escrúpulos os marmeleiros.Ele, com o seu fogo, forja-nos a alma para a luta incessante contra as adversidades climáticas . Aprendemos a sobreviver em meio às pedras, e aos seixos; à mucunã e ao catolé. O Inverno, por outro lado, imanta-se em primavera e transforma a paisagem debuxada em nanquim, numa esplendorosa aquarela. Como se fora o Yang e o Yin, o verão e o inverno nos ensinam a cada dia a possibilidade eterna de renascer. O deserto da nossa alma, a seca dos nossos sentimentos, a estiagem em nosso coração, quem sabe, são meros acidentes da nossa metereologia vital . Abramos, pois, os riachos dos nossos sentidos, preparemos os açudes do nosso espírito e aguardemos pacientes as gotas benfazejas que haverão de cair , mais cedo ou mais tarde, para a ressurreição da nossa vida. Ah ! E não esqueçamos de semear, enquanto a chuva não vem, uma ou outra begônia, em algum canteiro esquecido do nosso peito... é bom esperar os novos tempos com uma flor na lapela !

15/05/09

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