sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Um par de meias Lupo

               


Dia desses, num desses programas televisivos de grande apelo popular, aqui do nosso estado, apareceu um rapazinho que procurava identificar o pai que nunca conhecera. A história parecia arrancada de um livro. A mãe de origem humilde engravidara em Teresina, no Piauí, de um homem casado. A solução que ele encontrou para contornar o problema pareceu-lhe a mais salutar. Comprou uma passagem para Fortaleza e a embarcou com pouquíssimo dinheiro. Pediu-lhe que o esperasse lá na rodoviária alencarina  que ele chegaria no dia seguinte. A promessa, como era fácil de se perceber, nunca se concretizou. A pobre mãe teve que se virar morando na rodoviária e nas cercanias por algum tempo, como vendedora de pequenos picuaios, até que o menino nascesse. Depois envolveu-se com um namorado que  era alcoólico e lhe batia. O menino cresceu, ajudou-a em pequenos bicos pelas ruas e, agora, empregado no comércio,  resolvera ir à TV , contar sua história, na esperança que o pai, que já perdoara, aparecesse. Histórias com diferentes nuances pululam na mídia e se multiplicam nas redes sociais. No Nordeste, então, onde as ondas migratórias sempre foram tão intensas, muitos e muitos homens ao invés de assumir suas ninhadas, fazem é sumir.

                        Esta história verídica me trouxe uma reflexão sobre a importância do pai para seus rebentos. Mesmo com a imensa sacanagem perpetrada pelo genitor piauiense, o filho o procurava com afã. Como se lhe faltassem páginas no livro da vida e a sua história estivesse com roteiro incompleto. E , claro, fica-nos a certeza de que no processo de criação dos filhos somos meros atores coadjuvantes. É quase impensável pensar num abandono inqualificável como o da história do menino da rodoviária tendo como protagonista uma mãe. Se há o provérbio: uma mãe é para cem filhos e cem filhos não são para uma mãe, no que tange à paternidade podemos depreender que uma mãe equivale, na Casa de Câmbio da Existência,  a pelo menos uma centena de marmanjos reprodutores.

                        Mas amanhã comemoramos nosso dia dos pais.  Nenhum de nós tem a pretensão de concorrer com o sagrado dia das mães. E somos muitos tipos de pais mundo afora: os Pai-Aço ( como o de Teresina), os Pães ( meio pai e meio mãe), os Pavôs ( meio pais e meio avôs) , os Pai-óis ( eternos a abastecedores da filharada) e os Pai-Manés e os Pai-xões ( aqueles gabolas eternamente cagando goma pelos seus rebentos).   Ficamos felizes e realizados com a simples chegada dos filhos e netos para o almoço, ou o telefonema dos que estão distantes. Abriremos o sorriso farto para as lembrancinhas:  o par de meias Lupo, a caixinha de lenços, a canequinha com os dizeres: Pai de Amo !  A simples presença de cada um de vocês já nos alegra e satisfaz. Vocês são nossa única  chance de imortalidade. A certeza única de que no efêmero da vida conseguimos imprimir  laivos de eternidade. Quando a rosa fenecer no jardim do tempo, o perfume continuará almiscarando as planícies ao derredor. Vocês são essa colônia, essa fragrância doce e aveludada, o eflúvio daquela essência única que fomos destilando com os fios dos dias e das horas e que permanecerá no ar mesmo quando as pétalas se desfolharem sob a aragem  do tempo e a pulsação pendular dos ciclos das estações.

                        A simples presença de vocês é nosso presente e, também, nosso futuro ! Mesmo ganhando meias, nos sentiremos inteiros !

 

Crato, 12/08/2022