sexta-feira, 10 de junho de 2022

Pobre Brasil !

 



“Existe uma miséria maior que morrer de fome no deserto;

é não ter o que comer na terra de Canaã.”

José Américo de Almeida

 

                                  Pois é, amigos, um dia chegamos a imaginar que as cenas de miséria, de fome e de morte tinham ficado guardadas nos romances dos anos 30, aqui no Brasil:  O Quinze, Vidas Secas, Fogo Morto. Entidades que combatiam a Desnutrição Infantil, simplesmente tinham saído de foco. Parecia coisa de um passado tenebroso, de um período pré-histórico. Em 2014, tínhamos saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Aos poucos, porém, começou o retrocesso: Tudo como dantes, no quartel dos bolsonantes ! Em 2020, mais de 55% de brasileiros viviam, novamente, em insegurança alimentar, mais da metade da nossa população não sabe, de manhanzinha, o que vai comer no almoço e na janta. Dados do IBGE recentes mostram que , no ano passado, 106 milhões de brasileiros, quase metade da nossa população, sobreviveu com menos de 14 reais por dia. Este valor, imaginem vocês, é quase 8% menor do valor que tínhamos em 2012, onze anos atrás. No Nordeste, a coisa é ainda mais crítica: 50% da população mais pobre sobreviveu  com pouco mais de oito reais por dia. A Desigualdade Social aumentou em todas as regiões do país.  Estatísticas recentes apontam que , atualmente , 33 milhões de brasileiros passam fome e 220 mil moravam na rua em 2020.

                            Por outro lado, o Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo. A safra estimada de 2021 foi de mais de 270 milhões de toneladas. Somos o maior exportador mundial de grãos em valor. Somos, também, o segundo maior produtor de carne do mundo, com um rebanho estimado em 250 milhões de cabeças. Quanto à carne de frango produzimos em 2021 mais de 10 milhões de toneladas, nos tornamos também o segundo maior produtor do planeta. Para que,  mesmo ?  

                            Enquanto isso, brasileiros morrem de fome pelas esquinas do país. Durante a pandemia, uma grande onda de solidariedade tomou de conta da população, aos poucos, no entanto, a fome, a morte, a inanição vão sempre caindo numa terrível normalidade. Que diabos de nação foi essa que tentamos construir ? Nossa história, basta reparar direitinho, foi erguida por cima de um amontoado de corpos. Dizimamos os indígenas e o continuamos a fazer; torturamos e matamos, sem pena, os escravizados. Abandonamo-los , depois da libertação, à própria sorte. Assassinamos, sem qualquer remorso, aqueles que tentaram resistir, como  em Canudos e no Caldeirão. As favelas, as encostas são os novos quilombos. Os pobres e os negros são animais de caça.

                   Não somos, infelizmente, um país. Somos um aglomerado disforme de vidas. E mais, o maior país católico do mundo, não é Cristão, na verdadeira acepção da palavra.  Como disse Lima Barreto, não temos povo, temos plateia. A Desigualdade é nossa Constituição há mais de quinhentos anos. Um país tão rico e próspero , mas como é  pobre  o Brasil !

Crato, 10 de Junho de 2022  

                           

 

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