Os terreiros
estarão vazios. As bandeirolas vir-se-ão substituídas pelas roupas estendidas
nos varais, cônscias de sua insignificância, quando a visibilidade viu cair por
terra sua magnitude. A pinga e os quentões , anestésicos do cotidiano duro e
magmático, perderam seu poder curativo: é que a alegria e a felicidade fluem
dos moinhos interiores, mas só podem ser degustados, no seu inigualável sabor, se partilhados por outras almas, em banquetes
coletivos. O milho verde, o amendoim, o bolo de puba, a canjica, a pamonha ...
estarão confinados, como seus apreciadores, em salas insulsas. Alijadas das
mesas retangulares e compridas, do bulício
dos terreiros, perderão sua força gustativa , sempre potencializada pelo clima
da amizade e alegria partilhadas. As
mãos já não se tocarão nos “En avant Tous” das quadrilhas, estarão todas “En Arrière” . Os pares, impulsionados por um
infinito “Peri-Contraperi” do tempo, não
mais se encontrarão , condenados a uma solidão franca e desalentadora.
O São João vê
extraviar-se o seu carneirinho. Cai-lhe, sobre a cabeça, uma coroa multipontiaguda
e insana. Instala-se o soturno reino do São João Coroado. Que seja efêmero o
seu reinado ! Impossibilitados de atear as fogueiras no terreiros, façamo-las
arder na nossa alma! Escancaremos nossos vestíbulos interiores para a festa !
Que o mundo todo se inflame com nossas chamas, de casa em casa, de espírito em
espírito, untando a força higienizadora do fogo à capacidade de iluminar os novos tempos que já
se anunciam, para lá das planícies onde pasta o manso carneirinho de São João.
Crato,
19/06/20
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