sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Treva


”A nossa família são os que escolhem, de forma livre, estar ali,       conosco.  Os que não nos abandonam,  nem esquecem,                                                                               e que guardam  a distância do respeito pela
                                                                                             nossa liberdade.”
José Luiz Nunes

                                            




  Mês passado,  uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o chamado Estatuto da Família ( com 17 votos a favor e cinco contra), numa seção conturbada onde não faltaram embates duros entre parlamentares. A aprovação do polêmico Estatuto teve o apoio rasgado da Bancada Evangélica da Câmara e foi facilitada por manobras regimentais desencadeadas pelo presidente Eduardo Cunha que transita nestas hostes pretensamente sagradas. A partir da Comissão, o Estatuto deve seguir para votação em plenário ( embora esse passo possa ser dispensável)  e depois, se aprovado,  será encaminhado ao Senado. Há um ponto crucial na Lei que se pretende aprovar: A definição de Família  como sendo a união entre Homem e Mulher, por meio de casamento ou união estável ou a comunidade formada por cada um dos pais junto com os filhos. Trocando em miúdos só existirá Família , se o Estatuto for aprovado, numa união heterossexual.  Ou no caso da falta de um dos cônjuges( por morte ou separação) ,  dos filhos junto com o pai ou a mãe.
                            É quase inacreditável se imaginar a possibilidade de uma Lei dessas em pleno Século XXI. Avós que cuidam afetuosamente  de netos ( e quantos existem, mundo afora nos dias de hoje!) não mais formarão uma família; homossexuais que adotam crianças enjeitadas por casais heterossexuais, não formam um núcleo familiar; tios e tias que pretendam adotar sobrinhos abandonados, se o fizerem, não estarão perfazendo uma família; um viúvo ou viúva, um padre ou uma freira  que pretendam, piedosamente,  adotar crianças, desistam! Vocês não têm esse direito legal ! Todas as crianças abandonadas por seus pais oficiais, perambulando pelas ruas ou jogadas no orfanato, estão forçosamente condenadas a viver assim, o Congresso Nacional está determinando ! Depois, claro, os meninos serão julgados e caçados na rua, não com pais lhes impondo limites, mas pelos Herodes atuais :  a polícia, o IML e o rabecão.
                            Jamais imaginei que  retrocederíamos numa máquina do tempo à era das trevas. Um Estado que se pretende modernamente laico se vê assaltado por uma Teocracia fundamentalista. Definida a Família, já temo pelos próximos passos. Os gays serão obrigados a buscar sua Cura nas igrejas pentecostais; as transfusões de sangue serão abolidas nos hospitais brasileiros; anticoncepcionais, camisinhas  terão          suas vendas proibidas; ateus serão levados à fogueira junto com os bruxos ( aqueles que pensam diferente das rígidas leis teocráticas); o casamento será novamente restrito aos heterossexuais e o divórcio expressamente cancelado;  o dízimo  passará a ser obrigatório e descontado em folha de todos os brasileiros.
                            Os maiores crimes da humanidade foram cometidos sempre quando uma ética particular , de um grupo específico, foi empurrada, goela abaixo, como lei universal. O Estado não pode estar a reboque de moralismo grupais de qualquer espécie. A Família é formada por pessoas que se consideram familiares, independentemente de laços de sangue, geográficos, sociais e temporais. A possibilidade de se ter uma Sociedade mais harmônica, mas pacífica e mais justa é justamente quando ampliamos os horizontes da Família e consideramos todas as espécies  dos reinos da natureza como  nossos irmãos.

                            Já que os Teocratas brasileiros desejam que voltemos às cavernas, aproveitem e , com o Eduardo Cunha, suprimam o artigo 7º.  Dos 10 Mandamentos, um verdadeiro absurdo ! Aquele que exige uma coisa impossível  : “Não Furtarás!”

23/10/15

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