sexta-feira, 26 de abril de 2013

O ocaso, o tempo e o acaso



Tudo depende do tempo e do acaso”
Eclesiastes

                                               Há exatos dez anos, silenciava a pena de um dos mais prolíficos e brilhantes escritores cearenses: O Padre Antonio Vieira. Nascido na pequenina Lagoa dos Órfãos, em Várzea Alegre, Vieira dizia-se filho sentimental e intelectual da Cidade de Frei Carlos. Deixou quase trinta livros publicados, dentre eles “O Jumento, Nosso Irmão” , reconhecido internacionalmente, publicado numa versão inglesa e tido como  a mais impressionante e completa obra já escrita sobre o  nosso querido Jerico. Sua produção fluía de uma extraordinária erudição que avançava pelos campos da Literatura, da Sociologia, da Filosofia, do Direito, da Antropologia, da História, da Gramática, da Política, da Religião. Vieira era um poliglota, um orador inspiradíssimo e dono de um estilo único e inconfundível. Mesclava, com rara destreza, a poesia e o humor e fez-se um  incansável engenho de produção literária. Como professor (de incontáveis línguas e matérias) tinha o poder quase único de hipnotizar platéias e transferir a portentosa sabedoria acumulada por tantos e tantos anos, com uma leveza e didática difíceis de se encontrar nos atuais mercados educacionais.

                                               Mais que um escritor, o Padre Vieira era um Artista. Estava profundamente antenado com o seu tempo. Conseguia ver bem além dos filtros religiosos e morais que a sociedade nos vai impingindo, pouco a pouco, na busca de empalhar-nos com verdades prontas e receitas pré-fabricadas. Franzino, feio e aparentemente frágil, Vieira carregava uma força de um guerreiro espartano. Eleito deputado federal em plena Ditadura Militar, insurgiu-se, bravamente, contra o golpe de 64, contra a Censura e a Tortura. Seus pronunciamentos no Congresso possuíam uma contundência inimaginável num regime de exceção. Por isso mesmo, terminou cassado nas primeiras lufadas do AI-5. Numa época , amigos, em que tantos e tantos se acumpliciaram com a ditadura e outros tantos fizeram-se de Judas e entregaram estudantes, sindicalistas e políticos  tidos como subversivos aos leões famintos da arena pátria; Vieira, como artista,  teve a clarividência de reconhecer quem eram os mocinhos e os bandidos e, corajosamente, alistou-se com os que pugnavam pelo bom combate. Não foi menos corajoso ao insurgir-se contra algumas leis pétreas da igreja de que fazia parte. Postou-se contra o celibato clerical, contra o medievalismo crônico de algumas teses imutáveis, contra o preconceito de gênero nas suas hostes, contra a hierarquia mais burocrática e menos pastoral. Hoje, quando as mudanças nas estruturas arcaicas  parecem mais que imperiosas, o tempo demonstrou , claramente, que o Padre Vieira trilhava, mais uma vez, o caminho da luz.

                                               O legado de um escritor insre-se nas páginas que escreveu. A herança de um artista, no entanto, ultrapassa as fronteiras da sua obra. Em que contribuímos, com nossa Arte,  para transformar esse mundo num lugar mais bonito, mais justo, mais feliz, mais alegre ? Acredito que Vieira buscou, desesperadamente, legar um planeta mais igualitário , mais franco e mais risonho para a posteridade. Reclamava de ter sido tolhido como ser humano, na impossibilidade de gerar descendência, mas deixou quase trinta filhos, na forma de  livros.  Espalhados pelo Brasil, necessitam de reedições para que cheguem às novas gerações e continuem o seu poder transformador.

                                               Passados dez anos, chega o tempo em que um artista tão importante precisa sair do purgatório da nossa história. O Cariri e o Ceará precisam saldar essa dívida para com um dos seus mais expressivos artistas. Tudo nessa vida, como diz o Eclesiastes, depende do tempo e do acaso, mas bem que podíamos dar um empurrãozinho a estas duas forças motrizes da humanidade. 

26/04/13

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fel




       A notícia não podia ser menos alvissareira. Uma semana antes da encenação da Paixão de Cristo, em Matozinho, caiu aquele petardo :  Caligário Cobongó  estava de cama. Uma dengue o pegara de mal jeito , estava  quebrado como arroz de terceira. Não  achava canto, rebolando dia e noite , parecia quebra-queixo em boca de banguelo.
                                               ---Devo ter caído de um avião ou fui atropelado  por uma Scania ! Isso não pode ter sido obra de um mosquito só não, meu amigo !  Vieram de ruma , como maracanã atacando roça de milho !  Avisem na igreja, esse ano eu passo !
                                               A confusão estava instalada. A Paixão era uma das festas mais populares de Matozinho. Encenada sempre na semana santa, contava com a presença marcante de Caligário, há mais de dez anos. Ele trabalhava como magarefe, era bombado, alto, vistoso  e cultivava uma barbona fechada e longa, além de cabelos fartos que lhe caiam aos ombros. Cobongó fazia o Cristo , seu tipão tornara-se inconfundível. O ator, diziam as más línguas, nem descia do palco. Apesar de um trabalho de um dia só ao ano, levava os outros trezentos e sessenta e quatro , todo pábulo , importante e não falava sem impostar a voz. Difícil para a  produção da peça imaginar um Cristo outro que não se tratasse do nosso magarefe.
                                               A  Associação do Sítio Pau-Dentro  , promotora do evento, através do seu presidente Raimundo Catingueira ( “Rai”, para os íntimos), chamou uma reunião de emergência. E agora ? Logo o papel principal, se fosse ao menos um Zé de Arimatéia, um Pilatos, um São José ! Mas logo Cristo ! Como arranjar um substituto, um suplente à altura ? Várias possibilidades foram apontadas, mas batiam sempre , no tipo físico do Mestre. Pedro Grande  atuava direitinho, mas era tamborete de samba. Mané Magro, um carpinteiro, extremamente responsável, já encenara vários personagens, mas ultimamente andava gordo demais, parecido com um landrace. Júlio Cananéia , o vigia da praça, taludo e forte, levava jeito para a coisa, mas era perneta. Alguém, então, lembrou Jojó Fubuia, o maior pinguço da Vila. Jojó era um varapau, tinha uma barba grande, mas descuidada, desasnado,  só havia uma contra-indicação : bebia como uma esponja. Rai, por fim, entre todas as hipóteses apresentadas, chegou à conclusão que a melhor opção, apesar dos pesares, era mesmo Fubuia. Mas, claro, algumas providências urgentes necessitavam ser feitas.
                                               Procuraram o pinguço, na manhã seguinte, cedinho. Ainda carregava o bafo de cana do dia anterior. Rai , líder da comitiva do Pau-Dentro, explicou-lhe a questão. Cobongó estava doente e precisavam dum ator substituto, um estepe de Cristo. Jojó se interessou. Todo mundo persegue os seus vinte minutos de fama !
                                               --- A gente leva a maior fé em você Jojó. Sabemos da sua capacidade ! agora, só tem um problema. Você não vai poder beber até o dia da Paixão! Um Cristo bêbado seria o fim ! Se topar, tá contratado!
                                               Jojó concordou, até porque tinha certeza que seria impossível vigiá-lo até lá. Haveria sempre a possibilidade de uma escapadinha. A Associação, no entanto, enquanto Jojó pegava na castanha,  já tinha engolido o caju. Rai falou com o Delegado Honorino Catanduva e pediu a ajuda nesta empreita. Naquela manhã mesmo Honorino deu voz de prisão a Jojó e o trancafiou.
                                               --- Só sai do xilindró direto pra Paixão de Cristo, seu Jojó ! Esse é o único jeito de você não encher a cara e cometer uma blasfêmia em plena Semana Santa. Joviu ?
                                               Jojó  não teve escolha. Tinha prometido ! Mas cinco dias sem melar o bico, é demais ! No terceiro ,  já subia pelas paredes. Estava trêmulo e vendo bicho em tudo quanto era canto. Dormia com o jacaré do lado.  No dia da Paixão, um sábado de aleluia, falava palavras estranhas , talvez em aramaico. O figurino e a maquiagem foram preparados na própria cela. Rai prometeu , então,  a Jojó que, se tudo saísse a contento, ao terminar a encenação o presentearia com dois litros do seu sobrenome : Fubuia.
                                               O cortejo saiu na rua. Rai , para controlar mais nosso Salvador, vestiu-se de centurião e andava ali pertinho dele, o chicoteando. As ruas de Matozinho estavam repletas. Os rostos piedosos e contritos acompanhavam o sofrimento do Filho do Pai.  Jojó manteve-se até tranqüilo. Os olhos mais esbugalhados do que sempre e as mãos trêmulas derrubaram a cruz por muito mais vezes do que se previra no roteiro e no Evangelho. Tentou ainda comer a toalha que Zé de Arimatéia trouxe para enxugar seu rosto. Quis dar um pesqueiro em Pilatos na hora que Barrabás acabou libertado. Na Ceia Larga bebeu o copo de vinho e tirou gosto com o pão inteirinho.  Quando Judas veio beijá-lo à frente dos soldados, sapecou-lhe um beijo na boca, desses de dar enfarte em Feliciano.
                                               O Gólgota foi preparado nas proximidades do Açude do Sabugo, na subida da Serra da Jurumenha. O Cristo lá chegou jogando impropérios para tudo quanto é lado. Foi pregado na cruz a contragosto. Rai, então, teve uma idéia salvadora. Fincada a cruz, com o Filho do Pai se contorcendo mais do que se devia esperar, Rai molhou o chumaço com cachaça ao invés de fel e levou-o  aos lábios do Cristo. Os olhos do redentor, de repente,  brilharam e ele sorveu o fel com tanta força que quase engolia o chumaço. O  centurião imaginou  que assim o acalmaria até o final da crucificação. Passados alguns minutos, com o Filho do Pai ainda lambendo os beiços e em busca de mais fel, ele gritou desesperadamente a frase sagrada ( um pouco adaptada, claro):
                                               --- Rai ! Rai ! Por que me abandonastes ?
                                               E, demonstrando toda vocação para o sacrifício,  berrou a todos pulmões :
                                               --- Mais fel ! Mais fel ! Eu quero mais fel !

17/04/13

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pilates



 Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o
Cristo? Todos responderam: Seja crucificado!
 O governador tornou a perguntar: Mas que mal fez ele? E gritavam
ainda mais forte: Seja crucificado!
Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto
crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do
povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!
Mateus 27: 22-24


                                   François não se abalou muito quando a notícia chegou subitamente à Delegacia , trazida por um desses meganhas de plantão. Assumindo aquele cargo há mais de dez anos, já se acostumara com o cheiro forte de sangue, correndo e fervendo pelo asfalto quente, em feitio de chouriço. Se os homens carregavam consigo um anjo e um demônio, ali , naquela seccional do inferno, não dava para perceber a face angelical. Viera substituindo o delegado anterior , aquele que tivera uma administração eivada de denúncias múltiplas : roubo, cumplicidade com o crime organizado, tortura de prisioneiros, vistas grossas para prostituição de menores, preconceito nas ações repressivas . Possivelmente fora escolhido não pelo histórico favorável de pureza e lhaneza de trato. François carregava consigo o mesmo pecado original : durão, não poucas vezes julgara pretensos bandidos à pena de morte e executara a penalidade sem nenhum remorso. Comparava sua função a de um urubu : “Temos que comer a  carniça e livrar a sociedade do mal cheiro! Mesmo assim todos vão ter nojo de nós !” Nosso Delegado tinha uma qualidade que o fazia bastante singular. Era tranqüilo,  transparecia uma aparente  calma budista, educação e segurança e possuía grande traquejo no trato com a mídia. Seus superiores tinham, em mãos, o candidato ideal : um esgotador de fossa séptica que conseguia não se imantar de qualquer cheiro pútrido.
                                   A chegada do samango, meio aflito, naquela tarde de sexta feira, não o tirou do sério. Com palavras que quase se abalroavam umas nas outras, contou o ocorrido. Estava havendo um grande B.O. , naquele momento, no centro da cidade. Um adolescente furtara um celular de uma vitrine e saíra em desabalada carreira. Várias pessoas presenciaram o ocorrido , firmaram trincheira e se puseram , na perseguição do menor. Cercaram-no na praça principal da cidade. O soldado tentara conter a turba, mas sozinho, corria o risco de entrar no pau, também. Viera então pedir ajuda ao Delegado para juntar contingente e evitar o pior.
                                   François levantou-se sem atropelo. Estranhamente, chamou apenas o seu subordinado e partiram céleres para praça, a apenas uns cem metros da Delegacia. Poderia ter arregimentado outros soldados, mas preferiu enfrentar a questão sozinho. Em lá chegando, deu de frente com os preparativos do massacre. No chão, um menino todo ensangüentado, olhos injetados de terror. Ao derredor,  a turba enfurecida , incontrolável, a espezinhar e chutar seguidamente o rapazinho. François tomou a frente e pediu calma que a justiça estava ali representada. A multidão, porém, como um estouro da boiada , não lhe deu ouvidos. O delegado estava armado e ainda pensou em dar um tiro para cima para amedrontar os circunstantes. Mas depois ponderou consigo mesmo : tinha que respeitar a democracia, a maioria sempre tem razão, não é mesmo ? Ademais, não existe crime possível cometido por tantas pessoas ajuntadas. Ele, por outro lado, fizera já a sua parte, bem que tentara, mas não conseguira evitar , né ?  Nisso , um paralelepípedo foi arremessada na cabeça do pobre infrator , como um golpe de misericórdia. O sangue espirrou . Algumas gotas terminaram por tingir a roupa e os braços do delegado. Ele saiu, calmamente, e lavou as mãos na fonte da praça. Saiu conformado. Bem que tentara ! Alguma coisa porém travava o seu peito, como se tivesse ali uma porta de ferro com tramela.
                        À tarde, deu uma esmola de dez reais a um mendigo que o estendera a mão na rua.  Saiu leve e reconfortado. Não fizera nada, afinal ! Fora apenas um mero espectador. Sou uma pessoa simples e caridosa , pensou com seu cassetete,  preenchendo um silêncio esquisito que ecoava de dentro da alma. Entrou na academia e foi fazer Pilates !

J. Flávio Vieira

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Por que não, D. Lúcia ?



Há uma grande polêmica no Brasil , atualmente, perceptível na TV, nas ruas, nas Redes Sociais. Envolve o Deputado Federal, por São Paulo, Marco Feliciano,  do Partido Socialista Cristão. Ele sempre foi combatido por posições retrógradas e eivadas de preconceito,  no que tange a assuntos religiosos e morais. Vejamos, caros leitores,  algumas de suas pérolas, mesmo sob o risco de náuseas e de engulhos:  “A  AIDS é o Câncer Gay !”; “A podridão dos sentimentos homoafetivos , leva ao ódio, ao crime, à rejeição” . Se o leitor ainda não vomitou, vão mais algumas para teste : “Os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé, isso é fato !”  ; “Depois da União Civil virá a adoção de crianças por parceiros Gays, a extinção das palavras Pai e Mãe, a destruição da família “. Todas estas citações, públicas, estão untadas de racismo e homofobia, inexplicáveis nos dias de hoje, passíveis de pena nos tribunais , impensáveis de serem citadas por um louco qualquer, muito menos por um representante do povo. Poderiam ter sido arrancadas do “Mein Kampf” e correm  o risco de horrorizar o próprio Bolsanaro. Não bastasse esta idiotice particular , o Congresso Nacional ( que tem dado seguidas demonstrações de incongruência e fragilidade ) uniu-se à insanidade do seu membro  e elegeu-o ( loucura das loucuras) : Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara . Compara-se a eleger Hitler como juiz no julgamento de Nuremberg.  As minorias  que se encontram em invejável nível de organização nestes últimos dez anos, reagiram, como se deveria  esperar, foram às ruas, invadiram reuniões da Comissão e estabeleceu-se um impasse ainda sem solução no momento. Feliciano, que é pastor evangélico,  teve , de início, apoio do segmento que o representa, mas –pouco a pouco – o desgaste começa a corroer suas estruturas de sustentação. As críticas inicialmente endereçadas a ele se espraiam para suas hostes religiosas e o incômodo passou a ser nítido no setor evangélico. Feliciano resiste, mas não tem como se segurar , a queda é previsível e dá-se como favas contadas.
                                   Semana passada, seguindo seu apostolado de insensatez,  Feliciano confrontou , em Minas Gerais, um protesto contra ele, com outra citação bombástica : "Essa manifestação toda se dá porque, pela primeira vez na história desse Brasil, um pastor cheio de Espírito Santo conquistou o espaço que até ontem era dominado por Satanás". O mal estar, desta vez, invadiu sua praia, havia vários deputados de gestões anteriores e do setor evangélico na Comissão, e eles os acusou de sócios de Belzebu. Desculpou-se , depois, dizendo que citara Satanás, não como o Tinhoso, mas na acepção original do hebraico que , segundo ele, significa “adversário”.
                                   A questão Feliciano suscita vários questionamentos. Acredito que não devemos , simplesmente, jogá-la na vala comum da questão meramente religiosa. O pensamento dele representa, creio, um segmento expressivo dos evangélicos do Brasil, mas não de todos. Corre-se o risco de iniciar, mais uma vez, uma Cruzada, sem separar bem o joio do trigo. Há, a meu ver, duas vertentes interessantes para se refletir, uma de ordem política e outra ligada à Laicidade do Estado. Feliciano, amigos, foi eleito como o segundo mais votado em São Paulo. O Brasil está agora correndo contra o prejuízo causado, mas vem a pergunta inevitável: Por que elegemos um candidato com esse perfil ? Não teria sido mais fácil tê-lo filtrado com a malha das urnas ? Faltou-nos amadurecimento político para tanto ou , simplesmente, o seu pensamento retrógrado representa o de muitos nesse país, transcendendo, inclusive, as fronteiras meramente religiosas ? Os que o elegeram presidente da Comissão de Direitos Humanos foram, também, por sua vez, igualmente eleitos por nós. Escolhemos bem ou será que assinamos um cheque em branco e entregamos ao estelionatário e, agora, estamos reclamando porque o saque foi muito alto ? É preciso compreender que fomos nós mesmos , brasileiros mobilizados e nas ruas, que tentamos , agora, arrancar o microfone do insano, mas permitimos, por outro lado,  a Feliciano o espaço para difundir suas idéias nazistas.
                                   Fica cada vez mais clara a importância da laicidade do Estado. A história demonstra que os maiores crimes da humanidade foram cometidos sempre que se misturou de forma incestuosa Política & Religião. Esta combinação é sempre explosiva. Feliciano tem todo o direito de cuspir suas regras e suas sentenças para seus fiéis, desde que não confronte o Estado de Direito. Cada um cuide do seu rebanho ! Os Testemunhas de Jeová – com todo respeito que merecem-- têm o sagrado direito de proibir a transfusão de sangue a seus seguidores , mas não podem querer , por exemplo, influenciar o Congresso para criar uma lei proibindo a hemoterapia em todo país. Cada macaco no seu galho ! As questões atinentes , pois , ao Controle de Natalidade, ao Aborto, à Fertilização in vitro, à Eutanásia, às Células Tronco, devem ser regulamentadas pelo Estado. Às igrejas caberá a decisão de permitir ou não a utilização destes métodos( se acessíveis pelo Estado) por seus fiéis e exclusivamente por eles.
                                   Recentemente, Feliciano revelou – em outra entrevista bombástica-- que D. Lúcia Maria, sua mãe, era aborteira e que, ainda menino, “vira fetos serem arrancados, por ela,  de dentro de mulheres”. Nem imaginou  que , emitindo depois opiniões tão preconceituosas, estava dando um grande argumento, indireto, a favor do aborto. D. Lúcia bem que poderia ter procurado uma colega , devem estar pensando algumas minorias... Em qualquer dos sentidos possíveis, no entanto,  Feliciano terminou se tornando o grande Satanás desse país.

05/04/13