terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ipês



Qual a manchete mais palpitante desta semana, meus caros   ouvintes ? As peripécias corrupto-sexuais do Renan ? O Toma-Lá-Dá-Cá do Congresso pela aprovação da CPMF ? As repercussões do roubo do Rolex do Huck ? A mais importante  notícia destes dias, talvez tenha passado despercebida da maior parte dos cairirienses. Embotados pela hipnose da TV e da WEB sequer percebemos o milagre que se refaz, a cada dia, à nossa volta. Imersos num mundo cada vez mais virtual,  vamos ,pouco a pouco,  nos afastando da realidade e carregando esta vidinha.com pelos poucos dias  que nos restam.  A tecnologia que tem aproximado eletronicamente, no cyberspace, as pessoas , as tem ensinado um relacionamento impessoal e distante. Faltam o olho-no-olho, o toque, o abraço, o beijo. Namoros podem ser desfeitos com um simples aperto de uma tecla do PC. Adoram-se figuras irreais e fotoshopadas. Os sentimentos são deletados na velocidade da luz. Num mundo já pleno de indiferenças e barreiras   um pode ser formatado pelo amigo, pelo patrão, pelo consumo, pelo namorado. Todos nos tornamos igualmente desnecessários e supérfluos. O amor, o carinho, a compreensão vão sendo sacrificados a cada dia nas salas de chats.
                                   Assim é bem possível que este pobre cronista semanal seja logo taxado de louco, quando anunciar a mais importante notícia desta semana. Pois é, caros ouvintes, o que mais deslumbrante aconteceu nestes dias no nosso mundinho foi justamente a Floração dos Ipês. De repente, como se previamente combinado, os ipês  revestiram-se  de um roxo fosforescente e tingiram toda a Chapada, como que anunciando uma páscoa tardia e atemporal. Aos poucos, num lúbrico strip-tease, peça após peça, os ipês se foram desnudando.  Em poucos dias começaram a revestir o chão com suas vestes :  pétalas, que carregadas pelas asas do vento, em feito de manto, agasalharam as terras caririenses com um violeta algo esmaecido,  mas iridescente. Mal terminara o show, já os Ipês Amarelos tomam de assalto o palco da natureza e florescem um dourado quase que incandescente. Os pés-de-serra , súbito, têm a monotonia do verde quebrada pelo áureo dos ipês lhes imprimindo tons patrióticos, junto com o branco das nuvens, o azul do céu e o agora verde-amarelo das matas. A chapada, ao longe, assemelha-se a uma bandeira desfraldada, tremeluzindo ao sabor da brisa. Nestes dias, as terras caririenses já se recobrem de um tapete auricolor . Os ipês , novamente,  desvestiram suas ricas roupas e como que estendem aos hipnotizados passantes uma esteira dourada onde possam sentar e apreciar a vida com todas suas nuances e cambiantes tonalidades.
                                   O toque monocórdico do computador sequer entende a infinitude de lições que brotam junto com a floração dos ipês. A vida que emerge em ciclos e que brilha em matizes diferentes a cada diferente estação. A florescência que anuncia  multiplicidade  e eternidade , polinizando  o mundo e fertilizando a terra. A grandeza de perceber que as mesmas pétalas que encantam os olhos e douram a natureza na primavera , serão o humilde tapete e a delicada alcatifa que no outono confortarão os pés cansados do viandante. E mais que tudo a beleza da vida dura um único, inefável  e etéreo momento, que se esvai num átimo, como a fulgurante floração dos ipês. Num piscar de olhos, o êxtase foge de nossa vista e só servirá de lembrança e de manto nos dias de inverno que se já prenunciam. A Vida é já. 

Outubro/ 2007

 Ilustração : Reginaldo Farias /2011

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