quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Samba do Galego Doido


O Brasil tem um código de regras próprio que se foi solidificando com o passar dos anos e que, hoje, é praticamente impossível revogar. O costume do cachimbo terminou por entortar a boca do país. É como se, em pleno Século XXI , ainda folheássemos o Código de Hamurabi para solucionar as querelas do dia a dia. Basta observar os nossos políticos, todos afeitos a obras de fachada, onde possam dependurar o nome em alguma placa comemorativa e, com certeza, levar de quebra alguma comiçãozinha -- que ninguém é de ferro! Todos fogem de obras de saneamento, como o satanás da água benta. Que importância tem uma coisa enterrada, invisível aos olhos comuns da população? Que relevância tem isso, mesmo com todo benefício que traria à saúde da população, se não tem onde sapecar o nome e dar visibilidade ao trabalho realizado? Vade retro Belzebu ! Vamos asfaltar as ruas, mesmo com que o excrementos fluam, livremente, ladeira abaixo! Vamos reconstruir o Canal do Rio Grangeiro , sem qualquer interferência sanitária, para que corte toda a Cidade—residências, Escolas, Mercado Público--- como uma chaga aberta, exalando o mesmo cheiro que rescende da consciência da nossa classe política !

Estas disparidades são visíveis nas três esferas de Governo. Agora mesmo o Congresso Nacional se vê na premente necessidade de votar a Emenda 29 da Saúde que já bola pelo Planalto , de gaveta em gaveta, há mais de 20 anos. Esta Emenda é simplesmente imprescindível para minorar o terrível caos que é a Saúde brasileira. Ela determina com quanto deve arcar o Governo Federal, os Estados e Municípios com o financiamento do SUS. Criado há mais de duas décadas, com a brilhante perspectiva de dar uma Saúde Universal e Integral a todos os brasileiros, o SUS nunca pode se firmar por conta de sub-financiamento e vive assoberbado de denúncias contínuas em todos os meios de comunicação. Hoje, gastamos menos de R$ 2,00 por habitante / dia para proporcionar à população o que está garantido na Carta Magna. Já pensaram numa loucura dessas? Na hora de resolver o problema, no entanto, cadê o Congresso? Cadê a agilidade que se vê na hora de votar os próprios aumentos de salário ou as emendas de orçamento? Ou tiramos o SUS da inanição ou acabamos, definitivamente, com essa obra de ficção que é a Saúde Pública Brasileira.

Stanislaw Ponte Preta, nos anos 60, criou o “Samba do Crioulo Doido”. Pois bem, no Ceará, atualmente, entoamos o “Samba do Galego Doido”. Basta observar o atual governo para perceber que é pródigo em obras: Estádios construídos para a Copa, Hospitais Regionais, Escola Profissionalizante, Centro de Convenções, CEASA de Barbalha, Centro de Exposições de Sobral e projeto de mudança para o do Crato, apenas para citar alguns. Aparentemente o estado está nadando em dinheiro, acompanhando o boom no ritmo de crescimento brasileiro dos últimos anos. Pois bem, amigos, os professores estaduais estão em greve há mais de sessenta dias, em luta por salários minimamente dignos e até agora o que conseguiram foi serem massacrados pela polícia militar dentro da casa deles próprios : A Assembléia Legislativa. Mas a loucura não pára aí. Os professores estão na rua reivindicando o Piso Salarial que já foi determinado legalmente pelo Supremo Tribunal Federal. O governo do Ceará se nega a pagar. Isso não configura crime de responsabilidade ? Parece que não, meus amigos, porque, pasmem vocês, a Greve foi considerada pela justiça estadual, como ilegal. O juiz determinou multa diária aos que não retornarem ao trabalho e o governador ameaça abrir processo administrativo e demitir os grevistas que já foram esmurrados e esbofeteados dentro da própria casa. Mesmo que sujigados e escoriados sejam obrigados a retornar, que educação teremos? Os mais capacitados mudarão rapidamente de profissão : concursos pululam por todo lado, país afora. Os que precisarem permanecer terão que motivação? Como esperaremos melhorar os terríveis níveis educacionais do estado, tratando professores , como nem marginais podem ser tratados ? O pior é que atingimos um estágio de desenvolvimento no país, nos últimos dez anos, que só poderemos saltar, através do estilingue da educação. O estado sobrevive sem governador, sem deputado, sem prefeito e sem vereador; país nenhum do planeta , no entanto, jamais será nação, sem uma educação de qualidade.

Num dos seus reiterados destemperos, o governador soltou uma frase antológica: “ Professor tem que trabalhar é por amor e não por salário”. Pois já trabalham sim, por amor ! Não fosse isso não estariam alguns enfurnados trezentas horas por mês, em escolas, ganhando um salário que mal lhes cobre a sobrevivência. O problema está justamente do outro lado, do lado dos nossos políticos que , na sua maioria, não conhece essa palavrinha e trabalha sempre por verbas obscuras, por propinas, por comissõezinhas escusas, por falsas promessas. A grande diferença é que os professores , se assim o quiserem e suportarem, serão mestres por toda a vida. Já os políticos não! Precisam sempre de um filtro chamado eleição e quem controla a malha do filtro é a educação que é proporcionada justamente por aqueles que hoje estão sendo maltratados e espancados no meio da rua.

06/10/11

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