sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fofocas

Pois é, amigos, vivendo e aprendendo ! Hoje é sábado, dia de futricas e fofocas, especialíssimo para se comentar um assunto desses. Pesquisa na Inglaterra, envolvendo um universo de 5000 entrevistados , chegou a conclusões totalmente imprevisíveis. Os homens são bem mais fofoqueiros que as mulheres, passam em média 78 minutos do horário de trabalho conversando miolo de pote com os colegas, enquanto as mulheres gastam apenas 52. E mais, amigos, 31% dos homens preferem fofocar com a companheira a fazer sexo. É isso mesmo ! E vejam que a pesquisa vem de um dos centros mundiais mais cultivadores da fofoca : a Grã-Betanha. Lá a arqueologia da vida alheia é um verdadeiro esporte nacional. Os tablóides de fofoca – surgidos em meados do Século XIX-- , vendem milhões de exemplares por mês e, inclusive, abalaram as vendas dos jornalões, fato também visível nos EUA. As pessoas , cada vez mais, têm se detido nas histórias de superfície, ligadas a excentricidades e escândalos, e se afastado do jornalismo mais sério e analítico. Cada vez mais se cultua Nélson Rubens, cada vez menos Roberto Pompeu de Tolledo.
E não se enganem não, amigos, o poder da fofoca é imenso. Durante toda a história, articulada como boatos, foi veículo de muitos crimes, muitas guerras, muitas mortes. O III Reich já afirmara que a informação e a contra-informação eram armas bélicas iguaizinhas aos canhões e às metralhadoras. Armamento utilizado por muitas ditaduras, por muitos grupos políticos articulados na mídia, a fofoca derrubou governos, destruiu impérios, incendiou palácios e dissolveu relacionamentos com um poder de fogo sempre muito subestimado. E, claro, foi utilizado sutilmente, também, pelas classes menos favorecidas. Em português, etimologicamente, o nome fofoca parece ser originário do banto, uma das línguas africanas que a nós somaram a sua rica cultura.
E em tempos de se quebrarem todas as barreiras da informação: com Internet, Celular, TV a cabo, mais que nunca a fofoca tem aumentado seu poder de contaminação. Se de boca em boca já se alastrava como uma praga incontrolável e agora montada no Orkut, no You Tube, no Twitter , nos blogs e nos e-mails ? Existe já toda uma indústria da fofoca envolvendo revistas especializadas, tablóides, programas televisivos,cadernos dos jornalões, sites , jornalistas e paparazzi. A dona de casa, hoje ,está mais a par das proezas da Paris Hilton do que a da vizinha que mora em frente. O buraco da fechadura ampliou-se como jamais se imaginaria acontecesse.
Junto dessa fofoca institucionalizada existe ainda a fofoqueira tradicional, de ponta de esquina, mas ela perdeu um pouco o glamour dos velhos tempos. E as fofocas de rodinha de praça, de mesa de bar, de barraca de praia subsistem ainda a duras penas. O fofoqueiro típico é aquele que critica nos outros os desejos que ele próprio não consegue deixar explodir. Ver e comentar os desvios alheios de alguma maneira nos tira a culpa e nos torna santos e mais puros. No fundo, há visíveis rastros de uma inveja mal disfarçada em cada ato criticado. E quem sabe, algumas vezes, a fofoca seja a maneira que se encontra de se apimentar um pouco essa vida, se colocar um pouco de tempero em existências insulsas e inodoras. Talvez , por isso mesmo, quanto menor a vila, maior o seu potencial de fofoquismo. É que não existindo outras formas de lazer mais interessantes a vida alheia substitui o jornal, a TV, o Rádio, o teatro , o cinema.
Mas comentemos um pouco a pesquisa inglesa que apresentou resultados aparentemente tão absurdos. Quem diabos nesse mundo imaginaria que os homens ganhariam das mulheres num esporte em que a língua veloz e afiada é essencial ao bom desempenho ? Certamente isso só pode acontecer mesmo na Inglaterra um país todo às avessas, onde a direção do carro fica à direita, a mão e contramão são invertidas e ao invés das medidas de metro e quilo, se usa as de pés e onça. Um povo fleugmático, meio distante ,que para namorar com as esposas pede com licença e ao terminar diz : muito obrigado ! Onde já se viu uma “ingrizia” dessas? No Brasil, perdoem-me as mulheres, nós perdemos de goleada. Mulher aqui é pior do que maracanã em roça de milho. E algumas línguas que conheço deveriam certamente só circular por aí, livremente, com porte de arma fornecido pela polícia federal. Convenhamos que os homens, uma vez ou outra, fazem alguns comentários leves e despretensiosos, mas fofocar mesmo, amigos, definitivamente, por aqui, não é coisa do nosso gênero. Desde a Bíblia que esta verdade é presente. A ordem para o primeiro despejo da história, a expulsão dos jardins do Éden, aconteceu por conta de um fofoquismo desenfreado entre Eva e a serpente. A esposa de Ló virou pedra de sal porque não conteve a curiosidade e virou-se para observar a destruição de Sodoma e Gomorra, contrariando a ordem de Deus. Certamente, depois iria bater com a língua entre os dentes por aí contando com detalhes o que havia acontecido. Até a gravidez angelical de Maria motivou um fofoquismo desenfreado. Talvez por isso mesmo, em Matheus, tenha Cristo logo alertado : “De toda declaração sem proveito que os homens fizerem prestarão contas no Dia do Juízo; pois é pelas tuas palavras que serás declarado justo e é pelas tuas palavras que serás condenado.” Não quero nem imaginar o tamanho das penas e das filas na porta do inferno no dia do julgamento derradeiro.
Bem , amigos, e vou terminando por aqui antes que vocês concluam que isto, mais que uma crônica, é uma grande fofoca. É que a crônica é, certamente, o gênero literário mais propenso às futricas. E, já que toquei fogo no circo, é melhor ir escapando de fininho. Mexi na caixa de marimbondos e vou acabar na mira de um sem número de fofoqueiras e dos seus ferrões pontudos, que isto aqui num é a Inglaterra não, meu senhor !

Crato, 03/04/09

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