A placa
gigantesca , numa das ruas laterais da cidade, causou o maior buchicho em
Matozinho.
Construção
Nova Sede da Prefeitura
Municipal de Matozinho
Valor da Obra : R$
12.000.000,00
Prazo de Entrega - 180
dias
Administração Sinderval
Bandeira
“Matozinho
: Ou vai ou Racha !”
Vivia-se um
ano pré-eleitoral e o nosso edil apresentava, sem pejo, a obra como o ápice da
sua gestão, já de olho esbugalhado para a reeleição. Como era de se esperar,
nesta época, valia a segunda Lei de
Newton, com a ação contrapondo-se, em exata intensidade, à reação, em sentido
contrário, exercida pela língua do
povaréu e os movimentos de oposição. A
grande isca de fofoca, no caso, mostrava-se no valor francamente superfaturado
da obra, até porque o projeto apresentado não era nenhum Rockefeller Center,
não. O arquiteto “Nicolau Empena Prédio”
desenhara um edificiozinho de dois andares , tipo caixão das almas, coisa de
uns 400 m2 de área, sem muitos novidades e riquifefes. Com a verba destinada,
comentava-se pelas esquinas, daria para reconstruir as torres gêmeas depois que
os doidos de Bin Laden jogaram os aviões pro riba. O pior de tudo , vociferavam
os opositores, é que Sinderval Bandalheira como era conhecido, fizera uma
primeira licitação, cujo ganhador, dizia-se, apresentara um valor bem menor. Estranhamente,
porém, de repente, o prefeito anulou o
processo, sob justificativa de que não tinha sido lícito , prometendo uma nova
chamada. Neste intervalo, no entanto, colocou o município em estado de
emergência, segundo ele, por conta de chuvas abundantes e extravasamento do Rio
Paranaporã . Alegava prejuízos relevantes da população. Por incrível e
inexplicável que possa parecer, tinha sido um ano de seca, mas , mesmo assim, o juiz de Matozinho, Dr. Zaqueu Chinchorro ,
prontamente acatou o pedido de emergência e, consequentemente, a licitação
viu-se, sem maiores trâmites, dispensada.
Se
até aqui o processo já parecesse para lá de estapafúrdio, uma outra
extravagância veio se juntar à sequência de coisas inusitadas. O construtor escolhido
foi Hiroshi Katê, um japonês que tinha
vindo morar em Matozinho há uns cinco
anos. Até aí tudo bem, conhecia-se Hiroshi como um trabalhador incansável,
direito, cumpridor de prazos e sempre cobrando preços módicos e razoáveis. O
grande problema é que Hiroshi tinha sido exatamente o vencedor da primeira
licitação e, dizia-se na cidade, por um
preço bem abaixo do valor agora apresentado na famosa placa. Que mistério
poderia ter se interposto entre o preço da licitação e o valor apresentado,
após estado de emergência municipal ?
Negociações
realizadas nas brenhas da noite costumam não deixar marcas e rastros. Sinderval
sempre se pautara pelo cuidado excessivo com as negociatas e os vazamentos
eventuais. O caso da construção da nova prefeitura poderia, simplesmente, ter
se prendido ao mero bate-boca de canto de rua. Uma fato, no entanto, terminou
por fugir ao controle. Otacílio Ganso, contador, um dos membros da famosa câmara de licitação
da cidade, foi flagrado em falcatruas e, Sinderval, o demitiu, não era homem de
aceitar, placidamente, concorrência. No primeiro porre pós-demissional, Ganso
deu com as línguas nos dentes. E assim os matozenses conseguiram deslindar
todos os pontos obscuros da querela.
Após a primeira
licitação, Sinderval chamou, um por um , os três candidatos à construção da
sede. Ouviu-os separadamente : Hiroshi, Mestre Chico dos Alisares e Pedro Mala
Velha. O primeiro foi o Hiroshi. Sinderval estirou numa mesa larga o projeto de
“Empena Prédio” e o perguntou: Qual o preço para construir a futura prefeitura
de Matozinho ? Hiroshi examinou cuidadosamente a planta, fez alguns cálculos no
caderno e deu seu preço:
--- Prefeito,
dá para fazer tudo por três milhões de reais.
---Três
milhões, como assim ? Como você chegou a este número ?
Hiroshi não
titubeou:
--- Um milhão
de mão de obra, um milhão de material de construção e o outro milhão para a
firma !
Sinderval
anotou tudo e chamou Mestre Chico dos Alisares que era tido por super
meticuloso e , também, tinha fama da careiro. Chico examinou detidamente o
papelório e deu seu preço.
---
Sinderval, dá para fazer tudo por seis milhões. Dois milhões da mão de obra,
dois milhões para compra de todo material e os outros dois destinados à empresa que eu represento.
Por fim,
Sindé Bandalheira, após agradecer ao Chico e despedir-se dele, pediu que entrasse no gabinete o último candidato: “Mala Velha” . O homem
tinha uma fama das mais enlameadas da vila. Abandonava obras, usava material de
péssima qualidade, construía prédios sonrisal para várias prefeituras. Pedro,
apesar de tudo, sabia-se bem porque, era
um dos construtores mais procurados pelas prefeituras da região.
Após
Sinderval utilizar a mesma metodologia e apresentar a planta baixa a “Mala
Velha”, este nem se deu ao trabalho de examinar o projeto. Virou-se e deu seu preço:
--- Prefeito,
dá para fazer a obra por 12 milhões de reais !
Sinderval
sorriu amarelo e explicou que estava ouvindo um verdadeiro absurdo. Aquele
preço ultrapassava entre 2 a 4 vezes o valor de mercado. Como ele chegara
naquela doideira absoluta ? Ele jamais ganharia uma licitação. Mala Velha,
então, disse que nem carecia licitação. Didaticamente fez o rateio que terminou
por explicar os meandros da transação, a partir daquela data.
--- São 12
milhões, prefeito ! Três pra mim, três
para o prefeito, três para o juiz que vai aceitar o estado de emergência de
Matozinho e os outros três para a gente pagar ao japonês que é quem vai
construir o diabo desse prédio !
Crato, 31/05/19
Um comentário:
Significado de sonhar com fogo
Significado de sonhar com fogo também pode significar raiva reprimida que está prestes a explodir como um vulcão. Então você deve analisar sua situação e introspecção para ver se você tem amamentado raiva dentro de você.
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