sexta-feira, 7 de junho de 2019

Vacinas



                “ A Educação é a Vacina contra a Ignorância”
                                                                       Jonatas Martins

                                               Vivemos em tempo em que a credibilidade do que ouvimos ou lemos  tem a mesma importância do latido do cachorro de preá. Mentiras espalham-se  rápido, ganham foro de verdade insofismável e têm o poder até de eleger presidentes de republiquetas. As informações hoje pululam na internet e redes sociais, com acesso indiscriminado a quem delas precisar: vêm junto a polpa e o caroço . Um dos maiores problemas das comunicações, na atualidade, diz respeito ao filtro que precisa ser utilizado para separar o joio do trigo. Se antes convivíamos com as visões díspares e parciais da mídia, hoje nos deparamos com a mentira pura, limpa e deslavada.

                                   Uma das mais peçonhentas teorias conspiratórias da modernidade diz respeito ao uso das vacinas. Utilizada secularmente, no Oriente, primeiramente na prevenção da varíola , epidemia que ceifou milhões de vidas na história da humanidade,  terminou sendo introduzida na medicina, em fins do Século XVIII, por um médico inglês: Jenner. As muitas espécies de vacinas que se sucederam modificaram, totalmente, os rumos da saúde pública e da esperança de vida no nosso planeta. Doenças como Sarampo, Varíola, Febre Amarela, Difteria, Tétano, Caxumba, Coqueluche, Poliomielite, Catapora viram-se praticamente extintas da face da terra. O ataque sistemático às doenças de controle vacinal fez-se também  um dos maiores avanços creditados ao SUS no nosso país, sistema que vem sendo   boicotado criminosamente pelo atual governo. Hoje alunos das escolas de medicina praticamente não conseguem ver mais essas patologias que faziam parte de um passado tenebroso e mortífero, só identificadas agora nos livros de história. A vacinação sempre carregou consigo uma forte repulsa e desconfiança por parte do povaréu. A varíola exterminou milhares de vida no Século XIX , por conta dessa  aversão; só em uma delas, em 1878 , no Ceará, mais de 50.000 vidas foram perdidas, maior que a população da capital cearense à época.  Em novembro de 1904,  eclodiu, na então capital do Brasil, a Revolta da Vacina. O carioca pôs-se em campo de guerra quando o governo Rodrigues Alves , sob orientação de Oswaldo Cruz, decretou a vacinação contra a varíola como obrigatória. Mais de trinta mortos e cem feridos, além de quase mil presos foi o resultado da refrega.
                                   Era de se imaginar que, em pleno Século XXI, quando tantas doenças de controle vacinal evaporaram-se , a ojeriza ao procedimento também tivesse se recolhido aos livros de história. Que nada ! A ciência tem vencido, seguidamente, as barreiras do conhecimento, no entanto, as muralhas da idiotice têm se mostrado blindadas e indestrutíveis. Existe no ciberespaço uma verdadeira rede conspiratória mundial . Diz-se, sem qualquer comprovação, que elas seriam utilizadas pelos governos para dizimar, sorrateiramente, a população; que causariam alergias, debilidade mental, que impediriam o desenvolvimento do sistema imunológico. Médicos e  governantes estariam mancomunados com a indústria farmacêutica na consecução desse genocídio. Por incrível que pareça, essa loucura parte de países desenvolvidos, com população cheia de certezas. A última delas diz respeito à Vacina contra o Sarampo que, segundo esses pseudocientistas, estaria causando Autismo nas crianças. Nem precisa dizer que a Ciência ( que levou o homem à lua e mudou a história das doenças e morte da humanidade) não corrobora com  nenhuma dessas loucuras desvairadas. O resultado de tudo é que as doenças antigas estão retornando. Surtos de sarampo , catapora, poliomielite voltaram a assombrar a humanidade. Sempre é bom lembrar que quando uma pessoa nega  vacinar-se,  ela não só está se expondo a doenças já esquecidas, mas quebrando a corrente imunológica e colocando em risco muitas outras pessoas, inclusive filhos e parentes próximos que não têm culpa do desvario  de alguns familiares.
                                   Pesquisas científicas têm mostrado que quanto mais populista um país, maior a descrença em questões como : vacinação, aquecimento global, poluição, desmatamento. O Brasil é o campeão dessa doideira, mais de 42% dos entrevistados, em pesquisa recente,  têm visão populista e acreditavam em chifre em cabeça de gato. Num país onde a loucura parece ser o apanágio dos nossos maiores governantes, isso não deve trazer estranheza.
                                   Recentemente, tivemos  um quadro típico dessa piração aqui no Cariri. Iniciada a campanha de vacinação para Influenza, destinada aos grupos de risco ( gestantes, idosos, crianças, portadores de morbidades outras, profissionais de saúde, professores, etc.), houve uma procura baixíssima e preocupante  nos postos de saúde: menos de 40% do público alvo procuraram os serviços . De repente, noticiaram-se casos de H1N1, com mortes, na região, de pessoas jovens e de classes mais abastadas .  O pião da insânia girou, então, 360 graus. Multidões partiram para os postos, levando parentes, aderentes, gatos e papagaios. Pressionaram funcionários pela vacinação indiscriminada de pessoas fora do público alvo e, num piscar de olhos, os estoques se foram. Em Juazeiro houve roubo de lotes para vender a interessados,  donos de clínicas, de olho no aumento vertiginoso da procura.  Hoje, aqui em Crato,  na Rua José Carvalho, presenciei uma fila imensa, diante de uma clínica particular, de pessoas com máscaras, aguardando, desesperadamente, o momento de pagar e receber a vacina, antes grátis  mas  rejeitada com aversão.
                                   Zé Gotinha , do lado, explicava como é dispendiosa a ignorância: pena que não exista vacina contra a insensatez e o obscurantismo, a não ser, claro, a Educação, mas essa está na UTI, após ser violentamente agredida sob acusação  de comunismo.

Crato, 06/06/2019
                                  

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