“ A Educação é a Vacina contra a
Ignorância”
Jonatas
Martins
Vivemos em tempo em que a
credibilidade do que ouvimos ou lemos tem a mesma importância do latido do cachorro
de preá. Mentiras espalham-se rápido,
ganham foro de verdade insofismável e têm o poder até de eleger presidentes de
republiquetas. As informações hoje pululam na internet e redes sociais, com
acesso indiscriminado a quem delas precisar: vêm junto a polpa e o caroço . Um
dos maiores problemas das comunicações, na atualidade, diz respeito ao filtro
que precisa ser utilizado para separar o joio do trigo. Se antes convivíamos
com as visões díspares e parciais da mídia, hoje nos deparamos com a mentira
pura, limpa e deslavada.
Uma das mais
peçonhentas teorias conspiratórias da modernidade diz respeito ao uso das
vacinas. Utilizada secularmente, no Oriente, primeiramente na prevenção da
varíola , epidemia que ceifou milhões de vidas na história da humanidade, terminou sendo introduzida na medicina, em
fins do Século XVIII, por um médico inglês: Jenner. As muitas espécies de vacinas
que se sucederam modificaram, totalmente, os rumos da saúde pública e da
esperança de vida no nosso planeta. Doenças como Sarampo, Varíola, Febre
Amarela, Difteria, Tétano, Caxumba, Coqueluche, Poliomielite, Catapora viram-se
praticamente extintas da face da terra. O ataque sistemático às doenças de
controle vacinal fez-se também um dos
maiores avanços creditados ao SUS no nosso país, sistema que vem sendo boicotado
criminosamente pelo atual governo. Hoje alunos das escolas de medicina praticamente
não conseguem ver mais essas patologias que faziam parte de um passado
tenebroso e mortífero, só identificadas agora nos livros de história. A
vacinação sempre carregou consigo uma forte repulsa e desconfiança por parte do
povaréu. A varíola exterminou milhares de vida no Século XIX , por conta
dessa aversão; só em uma delas, em 1878
, no Ceará, mais de 50.000 vidas foram perdidas, maior que a população da
capital cearense à época. Em novembro de
1904, eclodiu, na então capital do
Brasil, a Revolta da Vacina. O carioca pôs-se em campo de guerra quando o
governo Rodrigues Alves , sob orientação de Oswaldo Cruz, decretou a vacinação
contra a varíola como obrigatória. Mais de trinta mortos e cem feridos, além de
quase mil presos foi o resultado da refrega.
Era de se
imaginar que, em pleno Século XXI, quando tantas doenças de controle vacinal
evaporaram-se , a ojeriza ao procedimento também tivesse se recolhido aos
livros de história. Que nada ! A ciência tem vencido, seguidamente, as
barreiras do conhecimento, no entanto, as muralhas da idiotice têm se mostrado
blindadas e indestrutíveis. Existe no ciberespaço uma verdadeira rede conspiratória
mundial . Diz-se, sem qualquer comprovação, que elas seriam utilizadas pelos governos
para dizimar, sorrateiramente, a população; que causariam alergias, debilidade
mental, que impediriam o desenvolvimento do sistema imunológico. Médicos e governantes estariam mancomunados com a
indústria farmacêutica na consecução desse genocídio. Por incrível que pareça,
essa loucura parte de países desenvolvidos, com população cheia de certezas. A
última delas diz respeito à Vacina contra o Sarampo que, segundo esses pseudocientistas,
estaria causando Autismo nas crianças. Nem precisa dizer que a Ciência ( que
levou o homem à lua e mudou a história das doenças e morte da humanidade) não
corrobora com nenhuma dessas loucuras
desvairadas. O resultado de tudo é que as doenças antigas estão retornando.
Surtos de sarampo , catapora, poliomielite voltaram a assombrar a humanidade.
Sempre é bom lembrar que quando uma pessoa nega vacinar-se, ela não só está se expondo a doenças já
esquecidas, mas quebrando a corrente imunológica e colocando em risco muitas
outras pessoas, inclusive filhos e parentes próximos que não têm culpa do
desvario de alguns familiares.
Pesquisas
científicas têm mostrado que quanto mais populista um país, maior a descrença
em questões como : vacinação, aquecimento global, poluição, desmatamento. O Brasil
é o campeão dessa doideira, mais de 42% dos entrevistados, em pesquisa recente,
têm visão populista e acreditavam em chifre
em cabeça de gato. Num país onde a loucura parece ser o apanágio dos nossos
maiores governantes, isso não deve trazer estranheza.
Recentemente,
tivemos um quadro típico dessa piração
aqui no Cariri. Iniciada a campanha de vacinação para Influenza, destinada aos
grupos de risco ( gestantes, idosos, crianças, portadores de morbidades outras,
profissionais de saúde, professores, etc.), houve uma procura baixíssima e
preocupante nos postos de saúde: menos
de 40% do público alvo procuraram os serviços . De repente, noticiaram-se casos
de H1N1, com mortes, na região, de pessoas jovens e de classes mais abastadas .
O pião da insânia girou, então, 360
graus. Multidões partiram para os postos, levando parentes, aderentes, gatos e
papagaios. Pressionaram funcionários pela vacinação indiscriminada de pessoas
fora do público alvo e, num piscar de olhos, os estoques se foram. Em Juazeiro
houve roubo de lotes para vender a interessados, donos de clínicas, de olho no aumento
vertiginoso da procura. Hoje, aqui em
Crato, na Rua José Carvalho, presenciei
uma fila imensa, diante de uma clínica particular, de pessoas com máscaras,
aguardando, desesperadamente, o momento de pagar e receber a vacina, antes
grátis mas rejeitada com aversão.
Zé Gotinha ,
do lado, explicava como é dispendiosa a ignorância: pena que não exista vacina
contra a insensatez e o obscurantismo, a não ser, claro, a Educação, mas essa
está na UTI, após ser violentamente agredida sob acusação de comunismo.
Crato, 06/06/2019
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