As nuvens e
fantasmas que assombram nossos dias não parecem dar tréguas. Seguidos
Secretário de Cultura, por muitos anos, trabalharam sem qualquer prestígio, sem
orçamento determinado, de cuia na mão, mendigando verbas que sempre dependem,
diretamente, do prefeito de plantão. Sequer têm o direito sagrado de escolher
seus assessores diretos, direito arrestado pelo poder executivo. Conselhos
Municipais de Cultura fazem-se mero ornamento desbotado neste horizonte
nebuloso: não havendo orçamento determinado, inexistem razões de deliberar
sobre a aplicação de valores imaginários. Enquanto isso, instituições
tradicionais vivem à míngua, mantidas pela boa vontade de seus associados:
SCAC, ICC, Guerrilha do Ato Dramático, Casa Ninho, SOLIBEL e tantos e tantos
outros.
Recentemente,
emenda do Vereador Amadeu de Freitas pretendeu estabelecer um percentual mínimo
de 2% , na Lei de Diretrizes Orçamentárias, da Receita Corrente Líquida do
exercício financeiro 2019, para a Cultura. Este percentil não é um número
cabalístico, mas um valor estudado cuidadosamente pelas entidades culturais do Brasil e
apresentado às diversas esferas da união. O resultado não podia ser outro: a proposta
foi rejeitada por larga margem, recebeu o voto favorável apenas do proponente
da emenda e do vereador Nando Bezerra. Como a independência dos poderes
legislativos municipais perece uma obra de mera ficção, depreende-se que o
grosso dos nossos vereadores foram orientados a recusar a emenda por ordens
superiores. A Cultura é carta fora do
baralho para os políticos da nossa terra.
Tempos
sombrios permanecerão imutáveis. O governo federal tem a Cultura como inimiga
figadal : coisa de drogados e preguiçosos; Leis de amparo à Cultura são
perseguidas mais de que cocaína em aviões presidenciais. O governo estadual volta-se, historicamente,
para a indústria cultural de entretenimento, prefere à Política cultural a
cultura da política. O Crato , sem rumo, fora dos trilhos, como um cego no
cipoal, posta-se a alimentar vocações que não lhe dizem respeito como o Turismo
Religioso. Esquece-se do potencial ecológico da Chapada do Araripe e de mais de duzentos e cinquenta anos de um rosário de diamantes estampado por seus
artistas mais representativos.
Nossa bela
Princesa, passado o encanto das doze badaladas, retornou ao borralho, com seus
pajens agora retravestidos de ratos e sua carruagem refeita em abóbora. Deixou
um Sapatinho de Cristal pelo caminho, o fio de meada para o reencontro com o
príncipe. Mas madrastas mil têm
aparecido, estendido seus olhos de seca-pimenta, escondido os pisantes
da Cinderela e impedido que o conto de
fadas tenha um final feliz.
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