-- O fluxo contínuo do Sonho
“Play It again, Sam !”
Humphey Bogart , em “Casablanca”
O Cassino
Sul Americano foi o primeiro Centro de Convenções do Cariri. Inaugurado há
exatos cem anos -- em 20 de dezembro de 1918 -- carregava consigo uma vocação
multifuncional. O velho casarão, da também centenária Praça Siqueira Campos, funcionava como Bar na parte de baixo, como Cassino
no alto e, enfim, como Cinema e Centro de
Eventos , nos fundos. Ali aconteceram famosas conferências, como a do
folclorista Leonardo Mota, do Integralista Severino Sombra e acolheu o primeiro
show de Luiz Gonzaga, após firmar sucesso nos anos 40. Seria ainda palco das grandes festividades alusivas ao Centenário da
Independência, acontecidas em 1922. O prédio, de propriedade dos Drs. Raimundo
de Norões Milfont e Belém de Figueiredo, teve como primeiros arrendatários: Cícero Araripe ( pai do futuro prefeito Dr. Ossian)
, no Bar e Cassino; e o boticário Dr. José
Gonçalves de Sousa Rolim, no Cinema/Auditório.
O
Cine Cassino fez-se o segundo cinema
fundado no Cariri e aquele que, de longe, teve a maior longevidade. Resistiu
aos avanços da TV, ao Videocassete, à
modernização inevitável da região e suas projeções só pararam em 07 de
fevereiro de 1992, quando ruiu a nave principal do auditório. Foram setenta e
quatro longos anos de atividade, encantando com o feitiço do cinema muitas e
muitas gerações de caririzeiros. De
princípio, o cinema era mudo ( a fala só
chegaria no futuro Cine Moderno , em 1934) e era musicado por uma vitrola
pilotada manualmente pelo projetista. O primeiro deles chamava-se José Raimundo
dos Santos ( Zé de Toinha) que
controlava a velocidade da música e da projeção, dependendo do clima da película. Manipulava
uma manivela, numa velha máquina que
usava o carbureto como fonte incandescente para a projeção do feixe mágico de
luz. Depois, a música incidental contou
com a ajuda de músicos, entre eles o saxofonista “Abelha”, irmão de Ló Geraldo.
Um sem número de funcionários foram aos
poucos atraídos pela encantadora novidade : os porteiros Cícero Laranjal e sua
esposa, D. Heroína; “Seu Sá” , o primeiro gerente; Amarílio, responsável pelo desenho das propagandas de
filmes em tabuletas espalhadas pela cidade, distribuídas por Zelito Viana e
Mário Oliveira. Este último dedicou toda a vida ao Cine Cassino, lá trabalhando
desde os dez anos de idade e acabou
sendo seu último proprietário . Cleto Milfont contratava meninos ( pagos com
ingressos) para, em algazarra, divulgar
em megafone, pelas ruas, os filmes em cartaz.
O Cassino Sul
Americano , com a magia do Cinema, imantou toda uma futura geração de cineastas
caririenses: Rosemberg Cariry, Hermano Penna, Jéfferson Albuquerque, Émerson
Monteiro, Hélder Martins, Ronaldo Brito,
Jackson Bantim, Luiz Carlos Salatiel, José Roberto França. Teceu , ainda, com
seu escurinho e o romântico das suas histórias, o clima propício para o
encontro e a leitura em Braile do amor e da sedução. Aos poucos, a cidade e as
pessoas já não se conformaram mais com suas vidas comezinhas e sem glamour,
começamos a melhorar o figurino, o script, o cenário , os adereços... Passamos
a criar o filme das nossas vidas: mais
charmoso, mais rico, mais sexy, mais hollywoodiano...
J. Flávio Vieira
Janeiro/2018
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