Dentre os três poderes , aquele que
deve estar mais próximo da população, e ser reflexo básicos dos seus anseios, é o Poder Legislativo. O Executivo , alçado ao Olimpo, mantem-se, em
geral ,distante do povaréu, preocupado com a administração pública e seus
entraves. O Judiciário investe-se, sempre, de um ar um tanto divinal , mantendo
distância regulamentar do cidadão comum e vê-se , muitas vezes, como senhor do
céu e da terra. O Executivo sente-se
deus, o Judiciário seu filho e, o Poder Legislativo, tem uma capilaridade maior
com as criaturas mais simples, como se representasse os santos, a quem nos dirigimos para as nossas
necessidades mais prementes, para que intermedeiem nossas demandas com os
outros poderes constituídos.
O grande
problema é que no Brasil os vereadores e
deputados rápido apostatam. Ganham salários nababescos para o pouco trabalho
que executam e mordem até os salários dos seus assessores. Eleitos, fazem uma relação de compadrio com os
outros poderes, colocam seus interesses
acima dos que os elegeram. Vivem em
eterno leilão, esperando benesses , cargos para apaniguados e propinas para
aprovarem os mais simples projetos. A representatividade republicana quebra-se , as
balanças que mantêm o equilíbrio da democracia são rapidamente violadas. Qualquer prefeitinho
compra a maioria na Câmara com a mesma facilidade com que adquire um quilo de
tripa no açougue. A função de Vereador, assim, limita-se, quase sempre, a duas
reuniões semanais , em que assinam embaixo todas as demandas encaminhadas pelo
Executivo, sem discussão e sem polêmica. Os raros e meteóricos projetos que por acaso venham a apresentar
quase sempre é para tolher algum direito do povo, ou para beneficiar as classes
mais privilegiadas. A única autonomia que têm limita-se a dar nome
a ruas da cidade e títulos de Cidadania.
Mesmo essas
funções tão resumidas e limitadas , salvo algumas raras exceções, são
endereçadas para alimentar os mitos das nossas elites econômicas e sociais.
Poetas, beatos, místicos, boêmios, aqueles que fazem a alma da nossa cidade, são esquecidos. Não existe uma rua com o nome
de “Zé de Matos”, de “Noventa”, de “Canena”, de “Jéferson da Franca”, de “Maria
Caboré”, do “Beato Zé Lourenço”. Títulos
de Cidadania , por sua vez, são oferecidos , facilmente, a figuras que não têm
qualquer relação com o Crato. De repente, vemo-nos conterrâneos de
personalidades que sequer desconfiam onde fica a cidade, indicados com o mero
intuito de tentar incensar carreiras políticas abortadas já em início de gestação.
Recentemente , o Crato, historicamente tão revolucionário e libertário, viu-se na obrigação de adotar um novo filho
que carrega consigo um ideário medievalesco : discurso homofóbico, apologista
do estupro , incentivador da violência contra a mulher, do armamento
desenfreado da sociedade, da tortura e da pena de morte.
Sempre é bom
lembrar que a Câmara Municipal foi perfeitamente eleita pelos cratenses. Fomos
nós que escolhemos os vereadores como nossos
representantes e, imagina-se, eles deviam estar diretamente antenados com a vontade popular. Eles decidem , por todos
nós, que rumos precisamos ter na Saúde, na Educação, na Segurança e, também,
quem carrega o mérito de receber
comendas e honrarias. Nós assinamos para
eles este cheque em branco e, agora, se pressentirmos que há estelionato no
processo, temos dois caminhos: pressioná-los demonstrando nossa insatisfação e
prestar muito bem a atenção para quem vamos passar nossa procuração nos
próximos pleitos.
Nos anos 80,
o então vereador Jósio Araripe já protestava contra a quantidade de títulos de
cidadania oferecidos pelo legislativo cratense: “Basta de tantos filhos ! O Crato
tem que fazer planejamento familiar, deve tomar anticoncepcional ! -- Bradava
ele. Pelas teratologias que anda parindo ultimamente, com tantos parteiros
incompetentes e desajeitados, anticoncepcional só não basta: é melhor
providenciar logo uma Histerectomia.
Crato,
24/11/17
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