Matozinho vivia dias difíceis , os matozenses andavam
mais apertados que pobre em final de mês. O começo da tragédia tinha começado
com a morte inesperada de do prefeito “Ursulino do Caixete” , um boticário do
município, numa capotagem de carro na ladeira da Serra da Jurumenha. O grande
problema é que os sucessores naturais : Petronildo Carimbó, o seu vice; e o
presidente da Câmara, “Cricri do Rolo”, pereceram no mesmo acidente. Vinham de
uma reunião política, em Serrinha, segundo a versão oficial e de uma provável pescaria, com garotas de programa arrebanhadas
na capital, segundo o afiadíssima língua do povo. O certo é que Matozinho, que já vivia acéfala há muito e muito tempo,
teve suas condições pioradas ( ninguém imaginou que desgraça, como surrão, não
tem fundo!) e que o péssimo que se está vivenciando tem sempre a possibilidade
de piorar ainda. Simplesmente, não ficou ninguém na linha de sucessão: não
existia juiz na época em Matozinho. O esperado era que novas eleições fossem
convocadas. Após o funeral, no entanto, a oposição arrebanhou correligionários
rapidamente e, na Câmara, decidiu, às
caladas da noite, que Asfilófilo Currimboque, deveria assumir um mandato
tampão, completando o do seu antecessor.
Ele era um arrivista, chegara na cidade
há alguns anos e ali vivia como mascate, vendendo quinquilharias de porta em
porta. Como diabos pôde nosso contrabandista ser alçado ao cume do poder ? A
grande questão é que por trás de
Asfilófilo existia toda uma voraz classe política pronta a açambarcar as
verbas municipais e o nosso muambeiro
fazia-se a pessoa mais que perfeita para essa plataforma de governo: não possuía
escrúpulos maiores, entendia todas as manobras imagináveis das falcatruas , das
sonegações , das trapaças e ilusionismos e, com espírito nômade, na hora do pega para
capar, anoiteceria e não amanheceria em Matozinho.
Asfilófilo
assumiu a prefeitura e seguiu o roteiro predeterminado. Demitiu em
massa funcionários e colocou no lugar seus apaniguados. Dizia-se que , em
Matozinho, quem não fosse currimboque não fazia faísca. Passou a cobrar
impostos extorsivos dos pequenos ambulantes da cidade e a dispensar os impostos
dos grandes fazendeiros e comerciantes. Sabendo-se político de um só mandato, caiu , sem quaisquer escrúpulos, em cima das
verbas municipais, distribuindo-as , abertamente, com todos aqueles que o
ajudaram na subida. Ademais, com o aval
da Câmara, passou a vender todo o patrimônio de Matozinho : prédios, casas,
terrenos, escolas, postos de saúde, sob a alegação de quem eram dispendiosos e não tinham função. Algumas pessoas mais
esclarecidas recorreram juridicamente dessas decisões a desembargadores da
capital. O processo porém não andou e percebeu-se que Asfilófilo , esperto,
deveria estar molhando a mão de alguns figurões de beca. Incrivelmente, os
matozenses permaneceram quietos diante do estupro, as únicas reações aconteciam
através da língua de peixeira amolada do povaréu, nas Redes Sociais do interior : a praça e as
janelas.
Próximo
ao fim do mandato, Asfilófilo , já sem opções, usou seus últimos cartuchos :
pôs à venda o prédio da Prefeitura e da
Câmara Municipal, segundo ele decrépitos demais e com risco de ruírem. Prometeu
que construiria, com o arrecadado, um Centro Administrativo. Estava a seis
meses do fim do seu mandato ou pilhagem. Como conseguiria com o tempo tão curto
que lhe restava? Naquele momento abrira-se,
já, o processo eleitoral na cidade. Os
cúmplices de Asfilófilo, aos poucos, se
vão afastando dele, Temendo contaminarem-se com sua popularidade em subsolo. Os
antigos correligionários de Ursulino arregimentam-se para tomar de volta as
rédeas do poder, apresentaram um candidato popularíssimo , o velho Capistrano,
já eleito anteriormente e afinadíssimo com os mais pobres e humildes. Do outro
lado, os que se beneficiaram com o governo pirata de Asfilófilo já apontaram
seu candidato: um velho cabo da polícia de Matozinho, chamado Aderaldo
Cospe-Brasa. Metido a brabo, zuadento,
tido por justiceiro, tinha fama de fazer
desaparecerem supostos bandidos, em
passeios turísticos pelas bibocas de Bertioga. Vivia a urrar nos bares e nas
praças que cadeia para bandido tinha que ter pelo menos sete palmos; que cura
para viadagem era peia no lombo; que lugar de mulher é na cozinha ou na cama e
que a desgraça do Brasil aconteceu quando a tal da Princesa Isabel ( só podia ser uma mulher mesmo !) botou
na cabeça oca que preto é gente e não macaco. Tem uma récua de partidários o Aderaldo,
acreditam que para resolver a bandalheira deixada por Asfilófilo, só mesmo um
mão-de-ferro. Ficam irritados quando alguém lembra que eles, definitivamente,
não são bons de escolha nem de memória: teriam sido os principais atores da
tragédia chamada: Asfilófilo Currimboque.
Semana
passada, apareceu um escândalo na cidade:
descobriu-se que “Cospe-Brasa” , quando na ativa, vivia chantageando os
organizadores do jogo do bicho e recebendo propina para manter os olhos fechados.
D. Vitalina, uma língua de veludo de Matozinho, jura de pés juntos que às vezes
Aderaldo não Cospe-Brasa, e lembra que ele viveu, maritalmente , num longo romance com uma Rainha Negra do “Maracatu
Estrela Cadente” que se chamava , nos folguedos, Marivalda. Na vida real, no
entanto, a rainha, não tinha nada a Temer : tirado os adereços, trabalhava como vaqueira e atendia pelo nome de Valdemar. Afe !
Crato, 10/11/17
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