Nos filmes
de ficção científica, vez por outra, se constroem máquinas com capacidade de
retroceder a um passado distante. Giram-se botões luminosos e, subitamente, o
caboclo se vê abduzido e jogado no meio da Batalha de Waterloo ou na construção
de uma pirâmide na quinta dinastia egípcia. Em meio ao script já preparado, o personagem futurístico tentará
mudar o curso da história, com consequências imprevisíveis no futuro já
estabelecido. Apetecem-nos sempre estes roteiros imaginários, ao revés dos
livros oficiais. Que seria da humanidade hoje, se nas suas viagens ao passado,
Cristo fosse salvo da cruz; Aníbal
conquistasse Roma ou Hitler vencesse em Stalingrado ?
O Brasil
atual, amigos, cabe num filme ficção científica. Há um ano resolvemos mexer
numa máquina perigosa, apertando botões esdrúxulos, ao arrepio da Democracia.
Desde então fomos arremetidos à Idade Média. Vejam as manchetes atuais e prestem
atenção: aparentemente o cenário é
moderno, mas o roteiro digno da Idade das Trevas. Campanha de moradores da Zona
Sul do Rio de Janeiro, impelida pelas Redes Sociais, incentiva a população a
não dar esmolas aos mendigos e promete empreender “gritarias” com quem for flagrado
em atos caritativos pois isto incentiva a permanência deles na rua e prejudica,
certamente, o Turismo. Dória, prefeito da maior cidade do país, invadiu a
Cracolândia, expulsando os toxicômanos
com medidas higienistas, tratando-os não como pacientes, mas como criminosos.
Volta à Câmara dos Deputados a PL 4931/2016 que estabelece autorização a profissionais de
saúde mental a proceder à chamada “Cura Gay” , tornando patológica a Orientação
Sexual e taxando, claramente, o homossexualismo e suas variações como doença.
Em Porto Alegre, por esses dias, o Santander
Cultural suspendeu a exposição de artes: “Queermuseu –
Cartografias da Diferença na Arte Brasileira“, por pressão de grupos
de ultradireita e, pasmem , decisão judicial, sob pretexto de pornografia. O MASP , mais
importante museu de arte do Brasil, nestes dias, cobriu as obras de nus da exposição : "Pedro Correia de Araújo:
Erótica" com um pano preto, temendo, certamente, represárias por
grupos ultrarradicais. Recentemente, o juiz José Eugênio Amaral de Souza Neto,
em São Paulo, liberou um homem que havia assediado uma passageira num ônibus e
ejaculado sobre ela, entendendo não ter havido violência, constrangimento ou
grave ameaça à vítima. Em Guarulhos , São Paulo, um outro juiz entendeu que um
homem bater na filha de 13 anos com um fio elétrico porque ela perdeu a
virgindade com o namorado é "mero exercício do direito de correção" e
absolveu o pai da acusação de lesão
corporal. Em manifestações contra a corrupção nas ruas, grupos direitistas
pedem o retorno da Ditadura Militar e o “cantor” Zezé de Camargo informa, do
alto do seu conhecimento dos livros de história, que no Brasil nunca houve
ditadura militar, apenas num “militarismo vigiado”. Em troca de apoio ao
desgoverno atual, a bancada ruralista tem usado como moeda de troca um ataque
estruturado contra os povos indígenas e suas terras. Afrodescendentes sofrem
preconceito aberto e declarado nas Redes Sociais e nas suas relações mais
corriqueiras, pobres vêm todos os dias esvaírem-se seus direitos trabalhistas. Na
Baixada Fluminense, traficantes, envolvidos com pastores evangélicos, obrigaram
a pais de santo destruírem seus próprios terreiros e a profanarem suas imagens
religiosas. Ainda nestes dias, o General Antonio Hamilton Mourão sugeriu a
necessidade de intervenção militar no Brasil com fins de resolver o problema da
corrupção, sem que o desgoverno instalado no Planalto tivesse dado um pio
sequer.
Nas películas
de ficção, ao menos, existe sempre a possibilidade, no finalzinho, do fluxo da
máquina se reverter e o viajante voltar à modernidade. No nosso filme pessoal , um misto de sci-fiction
e terror, a saída não é tão evidente. Quem poderia mover a alavanca de retorno
? O judiciário que chancelou o “golpe” , desacreditado, sem mais nenhum decoro
na sua parcialidade, com indícios fortes de envolvimento no nosso retorno às
trevas? Do outro lado, o povo, desiludido, eterna massa de manobra, e que ao invés de uma esperada crise
convulsiva tem apresentado preocupantes crises de ausência. A máquina parece
que emperrou , definitivamente, no Século XIII , preparem-se para a Inquisição
e a Peste Negra ! O mecânico que vem
sendo chamado para consertá-la é cego, mudo, surdo e tem graves problemas de
saúde mental. A plateia assiste calada ao
desfecho inevitável da sua própria tragédia. The End !
Crato,
19/09/17
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