Acho, assim, sempre temeroso fazer ilações sobre
comportamentos modernos, totalmente díspares dos valores de que fui infundido.
São aberrações ou apenas uma mera consequência do curso normal da existência ?
Esse preâmbulo me pareceu necessário para explicar a minha estupefação, quando venho presenciando condutas esdrúxulas
de alguns futuros colegas de profissão. Estou diante de deformidades reais, com
fantasia de moderno ou apenas ficando velho, ranzinza e obsoleto ?
Dias atrás, sextanistas de
Medicina, da Universidade Vila Velha, no Espírito Santo, encontraram uma
modalidade nova de se fotografarem antes da formatura. Todos de jaleco e
estetoscópio no pescoço, baixaram as calças e mantiveram as mãos , na altura do
abdômen, simulando a imagem da genitália feminina. Publicaram a fotografia em
Redes Sociais com a legenda de “Pintos Nervosos”. A ideia que me passaram,
claro, foi a de que, uma vez diplomados, estariam todos aptos e com recursos suficientes
para se empanturrarem em libações sexuais. Estariam na mira pacientes e
acompanhantes ? As festas de término de curso, nos últimos tempos, perderam a
solenidade típica de anos atrás. Frequentemente, em bailes monumentais, os
novos formandos são chamados , um a um, ao som de músicas do mais baixo
qualidade, muitas vezes aparecendo eles de sunga, ou fantasiados de gogo boys, executando danças com forte viés
sexual. Assim são apresentados à sociedade presente que aguarda, ansiosa, novos
e exímios profissionais da arte médica.
Essas
mudanças abruptas coincidem com a disseminação de Escolas Médicas Privadas,
geralmente cobrando altíssimas mensalidades dos seus alunos. Grande parcela
destes empréstimos é financiada pelo mercado financeiro, com prestações a
serem quitadas a se perder de vista. Os alunos, assim, se diplomam sem qualquer
sensibilidade social ou ética. Investindo maciçamente na carreira, pretendem, a todo custo, fazer
valer, financeiramente, a aplicação. Sentem-se como meros agiotas trabalhando na Bolsa de Valores. As
especialidades são catadas, pragmaticamente, entre aquelas mais lucrativas. As consultas e procedimentos que virão, terão o fito único de ressarci-los do
capital empregado, com os lucros, claro, que pensam em auferir. O
paciente que já foi o fim único da Medicina , passa a ser relegado a um simples
meio. Muitos dos novos profissionais falam apenas em qualidade de vida ( deles),
carros importados, carreiras políticas. De há muito se vêm diplomando apenas
técnicos da arte médica, alguns de grande qualidade e conhecimento científico,
mas sem nada do perfil humanístico que a Medicina continua a exigir. Hipócrates
é coisa do passado remoto; o Deus Asclepius foi substituído por Hermes e
Mercúrio.
Os futuros
médicos que baixaram as calças, no Espírito Santo, infelizmente, são , hoje, o
protótipo do novo esculápio. O Código de Ética já não tem nenhum significado, a
nova relação médico-paciente passou a ser meramente comercial e regulamentada,
pois, pelo Direito do Consumidor. Não há nenhuma diferença palpável entre o
técnico de refrigeração que conserta a geladeira e o médico atual que tentará
dar um jeito numa máquina muito mais complexa. É esta realidade que hoje nos
salta aos olhos. E sei que vou ser chamado de retrógrado, abestalhado e velho,
pois ainda creio que a confiança, o toque, a solidariedade, a compreensão, o calor humano , a luta contra as injustiças
sociais, o olho no olho são medicamentos mais poderosos que muitos outros que
pendem das prateleiras das farmácias. O que presenciei semana passada não foi
um strip-tease de alguns doutorandos, mas a Medicina Brasileira literalmente
baixando as calças.
Crato, 20/04/17
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