Eudóxio nunca tinha sido chegado a muitas presepadas. Funcionário público, na Agência do INPS de Matozinho, levara a vida toda encaminhando benefícios e aposentadorias. Talvez a tentação lhe tenha batido quando pressentiu a proximidade da sua própria aposentadoria de barnabé. Entrado já nos cinqüenta, chegara naquela fase do cachorro hidrofóbico. Olhou para os cabelos brancos no espelho do quarto e viu que já não sobravam muitos cartuchos para carregar a velha socadeira meio enferrujada que carregava entre as pernas. Os filhos todos crescidos já estavam pras bandas de São Paulo. Voltavam periodicamente para visitá-los trazendo algumas quinquilharias da 24 de Março, roupas de frio compradas no Braz e cagando uma goma danada. A mulher, D. Marinalva, tornara-se uma matrona, beata, passava os dias mais na igreja do que em casa. A vida sexual dos dois de há muito havia arrefecido. Eudóxio percebera que era quase um crime transar com uma santa daquelas e, mais, levar para cama a mãe dos seus próprios filhos. Aquilo lhe cheirava a uma tara sexual quase que inimaginável. Metido numa saia justa dessas, não foi fácil cair em tentação e ser levado a espatifar o sétimo mandamento.
Conhecera Eufrasina casualmente, quando esta encaminhava, na repartição, um seguro desemprego do pai dela. Morena fogosa, com uns cabelos negros como cambuí caídos aos ombros, andar sinuoso de serpente e bunda de tanajura. Carregava nos lábios um sorriso na agulha e que disparava a todo momento, encantando que estivesse ao redor. A princípio se fez de inocente e distante, talvez porque achasse que era prenda demais para cair na sua rede. Mesmo porque ultimamente tudo o que vinha caindo dentro da sua fianga era caco de telha e morcego. Mas a moça se foi insinuando pouco a pouco para Eudóxio e ela era irressistível: destas de tirar solidéu de bispo e mitra de papa. Dia após dia, lá estava Eufrasina o procurando no intuito aparente de resolver a pendência previdenciária. Conversa puxa conversa, sorriso carreia sorriso até que o primeiro e furtivo beijo roubou Eudóxio por trás do balcão, num horário de almoço. Acesa a primeira chama, o incêndio tomou corpo e , em pouco, nem o Corpo de Bombeiros da capital teria condição de apagar e fazer o rescaldo. As carícias se foram tornando mais freqüentes, em horários cada vez mais furtivos. D. Marinalva nem percebeu as mudanças de horário de trabalho do marido, talvez porque ultimamente ele viesse muito mais delicado, condescendente e carinhoso. Eudóxio esperava apenas o momento de ir às vias de fato ou ir de fato às vias e já não suportava mais a espera da desejada lua-de-mel.
O momento propício não demorou a chegar. Próximo ao fim do ano, D. Marinalva avisou ao marido que viajaria no fim de semana para visitar os pais em Serrinha dos Nicodemos. Periodicamente fazia esta viagem e Eudóxio nunca ia: não se dava bem com o sogro e a sogra que sempre se opuseram ao seu casamento. Nosso barnabé quase não conseguiu conter a alegria que lhe assaltou de repente as entranhas. Tinha, por fim, o álibi perfeito. Tramou, então, levar Eufrasina, por fim, para a lua-de-mel . Programou toda a tramóia. Levaria a namorada, no sábado, para Bertioga. Soube que lá haviam inaugurado o primeiro Motel de toda a região. Ouvira alguns amigos comentarem a novidade. Aquilo se tornara uma verdadeira revolução nos costumes de Bertioga e periferia. Antes só se tinha o Moitel e neguinho pelado precisava se resolver no escuro com carrapicho, com cobra, formiga vermelha, urtiga e cansanção. Finalmente a modernidade chegava a Matozinho!
No sábado um Eudóxio trêmulo e ansioso pôs Eufrasina na velha fubica e partiu para Bertioga. Ela avisara em casa que ia dormir na casa de uma amiga. O percurso de poucos quilômetros pareceu estranhamente longo, os minutos não passavam. Logo na entrada de Bertioga, nosso projeto de noivo avistou uma casa grande e uma placa luminosa, com luzes em pisca-pisca onde se lia: “ Motel Nossa Senhora Aparecida”. Eudóxio teve um mal pressentimento. A ansiedade , no entanto, falou mais alto e ele pegou a chave na portaria e adentrou o estabelecimento. Observou, enquanto buscava o quarto 25, que as dependências da casa estavam superlotadas. Estacionou e entrou com Eufrasina num pequeno quarto, com uma luz vermelha no teto, uma cama redonda, uma quartinha do lado da mesa de cabeceira e um ventilador zoadento no teto. Enfim sós !
Começaram os jogos iniciais e quando se preparava para bater o centro e levar a partida pelos 90 minutos regulamentares, de preferência com goleada, ouviu fortes batidas na janela do quarto. Imaginou que fosse algum serviço especial da casa. Pediu tempo e entreabriu a porta. De repente, foi jogado ao chão por homens armados que anunciaram o assalto e mandaram todos sem roupa ir ao pátio central do motel. Ele e Eufrasina, faltando mão para cobrir todas as dependências, se viram, de repente, como Adão e Eva, expulsos do paraíso. No pátio já se aglomeravam mais de cinqüenta casais, todos peladinhos como nasceram. Depois de ter sido feito o rapa geral, por cinco bandidos encapuzados, todos tiveram que se dirigir à delegacia de Bertioga, ainda sem roupa, para fazer o devido Boletim de Ocorrência. Só aí é que Eudóxio , atarantado, começou a identificar os outros companheiros de infortúnio. Padre Sabino tentava esconder o coroinha; Sinderval Bandeira, o prefeito , em pelo, buscava esconder a mulher do presidente da câmara de vereadores; D. Irenilda, a beata mais irada de Bertioga, estava nuinha, junto da companheira : D. Zarilda, a delegada. A revelação maior, no entanto, estava para vir. No meio do strip-tease comunitário, Eudóxio conseguiu identificar, aquilo que seria a maior surpresa da festa: D. Marinalda, sua santa esposa, sem roupa, tendo ao lado o sacristão da catedral: “Pedim Boca de Fole”. Só depois soube que o sogro e a sogra já tinham falecido em Serrinha dos Nicodemos há mais de cinco anos. Diante de tanto fragrante delito, com o rastilho de pólvora de uma bomba de muitos megatons chiando nas suas mãos, o delegado Fifim Aribé não se conteve e suspirou :
---- Bem logo vi que sapecar nome da padroeira do Brasil neste tal de moté ia terminar dando um azar danado!
Crato, 04/12/08
Conhecera Eufrasina casualmente, quando esta encaminhava, na repartição, um seguro desemprego do pai dela. Morena fogosa, com uns cabelos negros como cambuí caídos aos ombros, andar sinuoso de serpente e bunda de tanajura. Carregava nos lábios um sorriso na agulha e que disparava a todo momento, encantando que estivesse ao redor. A princípio se fez de inocente e distante, talvez porque achasse que era prenda demais para cair na sua rede. Mesmo porque ultimamente tudo o que vinha caindo dentro da sua fianga era caco de telha e morcego. Mas a moça se foi insinuando pouco a pouco para Eudóxio e ela era irressistível: destas de tirar solidéu de bispo e mitra de papa. Dia após dia, lá estava Eufrasina o procurando no intuito aparente de resolver a pendência previdenciária. Conversa puxa conversa, sorriso carreia sorriso até que o primeiro e furtivo beijo roubou Eudóxio por trás do balcão, num horário de almoço. Acesa a primeira chama, o incêndio tomou corpo e , em pouco, nem o Corpo de Bombeiros da capital teria condição de apagar e fazer o rescaldo. As carícias se foram tornando mais freqüentes, em horários cada vez mais furtivos. D. Marinalva nem percebeu as mudanças de horário de trabalho do marido, talvez porque ultimamente ele viesse muito mais delicado, condescendente e carinhoso. Eudóxio esperava apenas o momento de ir às vias de fato ou ir de fato às vias e já não suportava mais a espera da desejada lua-de-mel.
O momento propício não demorou a chegar. Próximo ao fim do ano, D. Marinalva avisou ao marido que viajaria no fim de semana para visitar os pais em Serrinha dos Nicodemos. Periodicamente fazia esta viagem e Eudóxio nunca ia: não se dava bem com o sogro e a sogra que sempre se opuseram ao seu casamento. Nosso barnabé quase não conseguiu conter a alegria que lhe assaltou de repente as entranhas. Tinha, por fim, o álibi perfeito. Tramou, então, levar Eufrasina, por fim, para a lua-de-mel . Programou toda a tramóia. Levaria a namorada, no sábado, para Bertioga. Soube que lá haviam inaugurado o primeiro Motel de toda a região. Ouvira alguns amigos comentarem a novidade. Aquilo se tornara uma verdadeira revolução nos costumes de Bertioga e periferia. Antes só se tinha o Moitel e neguinho pelado precisava se resolver no escuro com carrapicho, com cobra, formiga vermelha, urtiga e cansanção. Finalmente a modernidade chegava a Matozinho!
No sábado um Eudóxio trêmulo e ansioso pôs Eufrasina na velha fubica e partiu para Bertioga. Ela avisara em casa que ia dormir na casa de uma amiga. O percurso de poucos quilômetros pareceu estranhamente longo, os minutos não passavam. Logo na entrada de Bertioga, nosso projeto de noivo avistou uma casa grande e uma placa luminosa, com luzes em pisca-pisca onde se lia: “ Motel Nossa Senhora Aparecida”. Eudóxio teve um mal pressentimento. A ansiedade , no entanto, falou mais alto e ele pegou a chave na portaria e adentrou o estabelecimento. Observou, enquanto buscava o quarto 25, que as dependências da casa estavam superlotadas. Estacionou e entrou com Eufrasina num pequeno quarto, com uma luz vermelha no teto, uma cama redonda, uma quartinha do lado da mesa de cabeceira e um ventilador zoadento no teto. Enfim sós !
Começaram os jogos iniciais e quando se preparava para bater o centro e levar a partida pelos 90 minutos regulamentares, de preferência com goleada, ouviu fortes batidas na janela do quarto. Imaginou que fosse algum serviço especial da casa. Pediu tempo e entreabriu a porta. De repente, foi jogado ao chão por homens armados que anunciaram o assalto e mandaram todos sem roupa ir ao pátio central do motel. Ele e Eufrasina, faltando mão para cobrir todas as dependências, se viram, de repente, como Adão e Eva, expulsos do paraíso. No pátio já se aglomeravam mais de cinqüenta casais, todos peladinhos como nasceram. Depois de ter sido feito o rapa geral, por cinco bandidos encapuzados, todos tiveram que se dirigir à delegacia de Bertioga, ainda sem roupa, para fazer o devido Boletim de Ocorrência. Só aí é que Eudóxio , atarantado, começou a identificar os outros companheiros de infortúnio. Padre Sabino tentava esconder o coroinha; Sinderval Bandeira, o prefeito , em pelo, buscava esconder a mulher do presidente da câmara de vereadores; D. Irenilda, a beata mais irada de Bertioga, estava nuinha, junto da companheira : D. Zarilda, a delegada. A revelação maior, no entanto, estava para vir. No meio do strip-tease comunitário, Eudóxio conseguiu identificar, aquilo que seria a maior surpresa da festa: D. Marinalda, sua santa esposa, sem roupa, tendo ao lado o sacristão da catedral: “Pedim Boca de Fole”. Só depois soube que o sogro e a sogra já tinham falecido em Serrinha dos Nicodemos há mais de cinco anos. Diante de tanto fragrante delito, com o rastilho de pólvora de uma bomba de muitos megatons chiando nas suas mãos, o delegado Fifim Aribé não se conteve e suspirou :
---- Bem logo vi que sapecar nome da padroeira do Brasil neste tal de moté ia terminar dando um azar danado!
Crato, 04/12/08
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