“Escrever é sempre esconder algo de modo que
mais tarde seja descoberto.”
José Caminha Alencar Araripe está hoje comemorando seu centenário. Ele encantou-se em 2010, mas os escritores têm esse poder mágico, típico dos videogames e dos gatos : sempre podem contar com muitas e muitas vidas à sua disposição. Deixam senhas e cifras escondidas pelas esquinas de livros e textos, botijas enterradas entre períodos e parágrafos. E nem ficam os mapas das minas ! Os leitores, anos e anos depois, na tentativa rocambolesca de achá-los, terminam , também, encontrando os seus autores. Os escritores, assim, não morrem, apenas hibernam. E, por isso mesmo, é que hoje, sentimo-nos à vontade, mesmo em tempos de isolamento sanitário, de ajudar a soprar as cem velinhas do bolo de J. C. Alencar Araripe.
Há exatamente um século, Caminha nasceu aqui pertinho, no Jardim. Vinha de uma épica e tradicional família caririense, o guri era trineto de D. Barbara. Uma parte da infância o fez banhar-se nas águas do Riacho do Machado em Várzea Alegre e, depois, rapazinho, bebeu no majestoso Seminário São José de Crato, onde teve o batismo das letras. Depois, partiu para Capital e lá formou-se em Ciências Contábeis e envolveu-se no magistério tanto na área técnica, como, depois, na UFC como fundador professor assistente de Comunicação Social.
Como jornalista, nosso Caminha ( o Pero Vaz caririense) percorreu todos os caminhos da sua arte, desde a reportagem até à função de Editor Geral do Jornal “O Povo”, cargo que exerceu por muitos e muitos anos. Fez-se também articulista do Diário do Nordeste. Sua produção jornalística é extensa e multifacetada: ensaios, editoriais, crônicas, discursos, artigos. Araripe viu-se multipremiado na sua atividade, desde o Prêmio Esso em 1958, até galardões internacionais, em Portugal e na Argentina. Alencar foi ainda membro do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras e ocupou a Cadeira 20, da Seção Letras do Instituto Cultural do Cariri , cujo patrono é seu ascendente e biografado o Senador José Martiniano de Alencar. Caminha também presidiu a Academia Cearense de Imprensa por doze anos.
A política, que geneticamente lhe corria no sangue, o fez vereador em Fortaleza pela UDN, tendo exercido a presidência da Câmara e, depois, o cargo de prefeito interino da capital do Ceará em 1952.
Como escritor, o nosso caririense deixou muitas obras , as mais importantes na área biográfica e histórica, tendo traçado a vida de Delmiro Gouveia, D. Bárbara, Senador Alencar, a trajetória da Faculdade de Medicina do Ceará. Seu livro “Alencar, o Padre Rebelde” é uma das mais detalhadas e precisas obras sobre a vida gloriosa do Confederado de 1824.
J. C. Alencar Araripe foi pródigo em esconder seus mistérios e suas botijas ao longo de sua caminhada. As futuras gerações têm sobejas razões de brincar com ele nesse jogo de esconde-esconde e, a cada descoberta, a cada revelação , junto à prenda e à joia encontrada, ganharão, uma outra pedra preciosa: a luminescência de uma vida pródiga e encantada, envolta, como um rocambole, na poeira da Realidade, mas imersa no colorido do sonho.
Crato, 30/04/2021
Um comentário:
Você é maravilhoso nas palavras menino doutor. Texto bom demais.
Parabéns meu conterrâneo !!
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