Não
menos aterrorizante do que a tragédia em si, foram os esquetes que aconteceram
fora do palco principal. Um filho do presidente foi ao oráculo da família -- a
Rede Social -- e postou que o acontecido demonstrava a necessidade inequívoca
de armar a população. Um senador, Major Olímpio, sacou, de pronto, a solução
definitiva para o problema : colocar armas nas mãos de todos os professores.
Comunidades na internet passaram a elogiar os assassinos como verdadeiros heróis.
O governo brasileiro, de plantão na nossa frenocracia , apenas seis horas
depois do massacre, deu-se ao trabalho de colocar algumas palavras de conforto,
no Twitter, para as famílias abaladas pela catástrofe.
Como sempre,
somos afeitos às soluções simplistas que não mergulham nas profundezas abissais
dos enigmas. Com a casa desmoronando optamos por envernizá-la, pensando em deixá-la
com um melhor aspecto, mais esburnida. A disseminação das armas se não é o estopim
disso tudo, com certeza incrementará as
ações dos loucos de plantão. Não se apaga incêndio, ao que se sabe, lançando jatos
de gasolina nas chamas. Colocar armas
nas mãos de professores é , simplesmente, desviar as funções para as quais eles
foram formados e tirar do estado a obrigação de dar segurança aos cidadãos ,
terceirizando essa atividade. O atraso governamental em trazer palavras de
amparo às famílias enlutadas deve-se justamente à essa certeza: a explosão da
violência urbana se intensificará com o plano de governo de armar a população.
É como se, de repente, tivessem sido pegos em fragrante delito.
Interessa-nos,
sempre, para combater nossas agruras
mais prementes, saber, claramente, quem manipula os cordéis dos marionetes. Foram
presos os executores de Marielle Franco, um dos pistoleiros, vizinho de
condomínio do presidente, recebeu 100.000,00 pelo serviço. Quem encomendou a
execução ? Vimos alguns sacripantas
chupando laranjas escondidinho. Quem é o
dono do laranjal do Queiroz ? Vídeos
mostraram malas e malas de dinheiro do Geddel, do Paulo Preto, do Loures. Eles
são muito mais pornográficos do que o Golden Shower veiculado , com estardalhaço,
pela presidência. As taxas insuportáveis
de feminicídios no Brasil são atribuídas
ao machismo reinante, quais as estratégias para aplacar os crimes passionais,
como minorar o sentimento de posse ?
O que tem
feito com que se multipliquem as
chacinas civis no Brasil ? Claro que não existem respostas únicas para
perguntas complexas. Talvez um somatório
de fatores: o estabelecimento de uma sociedade extremamente competitiva, com
muitos perdedores e poucos vencedores; a baixa espiritualidade da população que
nada tem a ver com religiosidade; a desestruturação da célula familiar; o culto
doentio aos serial killers tão presentes e disseminados pela mídia global: os super-heróis
e os super-vilões; a banalização da violência nos videogames; o distanciamento
físico das pessoas pela tecnologia; o recrudescimento do nazi-fascismo mundialmente;
o estabelecimento governamental de uma política do ódio e de extermínio dos
diferentes.
Queremos
minorar o feminicídio ? Pretendemos acabar com as chacinas de civis ?
Precisamos nos debruçar sobre todas estas questões. Quebrar paradigmas
culturais centenários , sedimentados na escravidão, nas distorções sociais, na
exploração do homem pelo homem. Caminhos serão longos e, certamente, difíceis
de trilhar. Mas poderíamos começar no combate à política do ódio; substituindo,
como arma, o revólver pelo livro; trabalhando o exercício mínimo da justiça
social; entender que somos companheiros de viagem e não soldados de facções
contrárias e antagônicas. Desarmemos os homens e os espíritos, aderindo todos a
uma mesma Milícia : a da paz.
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