Alguns dias
atrás, assistimos aflitos, ao incêndio
que consumiu em chamas o Museu Nacional, uma instituição de mais de duzentos
anos e o baú que acolhia os documentos mais importantes da memória brasileira. Em
meio ao burburinho e às faíscas, procurando lacrar a porta depois de perpetrado
o furto, começamos a compreender a enormidade da perda e enxergar possíveis
culpados na tragédia que nos batia à porta. Governistas lançavam seus dardos envenenados
no governo anterior, derrubado num golpe político-judiciário, sem nem
reconhecer que com isso levaram ao poder a maior excrescência política desde
que por aqui aportaram as caravelas lusitanas. A oposição entregou o troféu
abacaxi nas mãos do atual desgoverno, já assoberbado de medalhas mil: maior
entreguista, maior demolidor de conquistas sociais e trabalhistas e líder
inconteste das malas de dinheiro espúrio.
Em quem deve cair a carapuça ?
O grande
Darcy Ribeiro dizia que a má qualidade
da educação no Brasil não é mero acaso, mas um projeto planejado, azeitado e
executado meticulosamente geração após geração. Que interesse teriam nossos
pútridos governantes em educar a população, acordá-la da sua letargia se isso,
imediatamente, faria com que não mais elegessem seus opressores ? E o pior é
que este projeto é autossustentável e se retroalimenta. Péssimas condições da escola pública, baixo
salário dos professores isso é um programa milimetricamente calculado com fins
de eleger as mesmas classes dominantes e manter a população mais desfavorecida do país na obscuridade. “Pobre só precisa aprender
a consertar fogão !” -- afirmou , recentemente, um dos candidatos a presidente. Com a Cultura não é diferente. Ela, como a
Educação, tem essa capacidade libertária, essa possibilidade de cortar amarras
e quebrar grilhões. Povo educado, povo culto é totalmente avesso a cangas,
vacinado contra qualquer tipo de cabrestos.
O incêndio
criminoso do Museu Nacional não é uma mera fatalidade, um corriqueiro acidente.
Ele faz parte do projeto elitista de destruir o país, de incinerar a memória de
genocídios como o indígena, o da escravidão, o de Canudos. Passado incinerado,
as mesmas hecatombes de outrora podem se repetir agora sem remorsos. Um outro
objetivo é fazer apagar tudo aquilo que
possa se consubstanciar como identidade nacional. Fica , assim, mais fácil
entregar ao capitalismo mundial nossa indústria, nosso petróleo, empresas
estratégicas como a EMBRAER , a EMBRATEL, a Base de Alcântara.
E o problema não se restringe ao que foi o Museu Nacional. As muitas entidades
culturais brasileiras estão sendo jogadas na mesma sucata. Teatros fecham,
salas de cinema se reduzem aos shoppings, que são imunes à pobreza. Basta ver
aqui em Crato a situação do nosso Museu Vicente Leite fechado há vários anos,
sem nenhuma perspectiva de reativação, com um valiosíssimo acervo que incluiu
quase que a pujança das artes plásticas caririenses do Século XX, em risco
iminente e continuado de degradação. Nosso teatro municipal , que nunca mereceu esse
nome, está fechado desde a gestão anterior, sem nenhuma previsão de reabertura. O Centro Cultural do Araripe ,
na REFESA, encontra-se paralisado há anos, sem programação estabelecida,
vivendo de esparsos e raros eventos. Duas salas de cinema prometidas com
alarde, com verba federal liberada, nunca chegaram sequer a ter suas paredes
levantadas em toda a “fenomenal”
administração anterior e nem nessa que herdou , aparentemente, a mesma apatia e
letargia.
O Brasil, em
marcha ré, está prestes a voltar a ser
uma Pindorama, só que agora já sem o pau brasil, o ouro, os diamantes, a cana
de açúcar. Um mero aglomerado de povos
díspares, sem identidade nacional, aculturado, sem nenhum sentido de nação. No
pendão nacional a frase positivista deve ser substituída por : “Desordem sem
Regresso”. Nosso futuro é uma arma quente.
Crato,
21/09/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário