sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

PRISMA

A nuvem negra no horizonte, o trovão de estralo, o relâmpago que trinca os céus trazem sinais anunciatórios de tempo bom ou de temporal ? Péssima previsão para os que sonham com a praia no dia seguinte; ótimos augúrios para o nordestino que se prepara para semear a terra. Alimenta-se a vida dessa relatividade simples, clara, cristalina. A morte do animal,  que entristece a natureza hoje,  é a mesma que , como esterco fertilizante, produzirá a seiva nutritiva que fará eclodirem nas árvores próximas, as flores e os frutos vindouros.
                                               Uma simples gotícula, suspensa na nuvem mais banal,  tem a capacidade de, como prisma, fazer resplandecer no horizonte o milagre do arco-íris. Pasmos, estupefatos, observamos a arcada celeste multicolorida: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Qual a mais bonita delas ? Alguém preferirá o azul, aquele outro o amarelo, você talvez o violeta. Por vezes alguns podem dizer detestar uma ou outra tonalidade. Não haverá nunca um consenso. O desejo, este animal arisco, está  escondido no olho de quem observa. Mas basta um pouquinho de sensibilidade para se entender que a beleza do arco-íris não se concentra nesta ou naquela coloração, o que o faz belo, inesquecível, radiante, é, na realidade, a diversidade de seus matizes. Você não detestaria o amarelo ou amaria o violeta, se não existissem o laranja, o verde, o vermelho. E, antes de mais nada, é preciso nunca esquecer que todo encanto que nos arrebata os olhos precisou do negro que se pariu assim  para que todas as outras gradações e degradés saltassem nítidos e diversos nas nossas retinas.
                                                 Se assim é na física, assim o é na vida e nas nossas selvas e abismos interiores. Negros, brancos; pobres, ricos; feios , bonitos; sadios , doentes; cidadãos , estrangeiros; esquerdopatas, destromaníacos, somos todos nuances , tons e semitons de um mesmo arco-íris. Reflexos múltiplos de uma mesma imagem na sala de espelhos deste mundo. Eu não existo sem os meus diferentes. Somos todos o cômputo de um feixe  branco e incandescente  que nos criou ,  meros produtos da sua refração. Podemos até imaginar que o branco é insípido e sem graça, insulso, mas é ele quem ilumina toda a Criação, de onde brota toda a Energia e nós somos meros estilhaços de fótons e fortuitos grãos de estrelas .  É deste mesmo feixe branco e incandescente  que se irradia a Luz que nos banha desde o Gênesis e que não nos faltará quando soarem as trombetas do Apocalipse. Este talvez seja o pote de ouro que todos pensávamos encontrar no fim do Arco-Íris.


Crato, 14/12/17   

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