A nuvem
negra no horizonte, o trovão de estralo, o relâmpago que trinca os céus trazem
sinais anunciatórios de tempo bom ou de temporal ? Péssima previsão para os que
sonham com a praia no dia seguinte; ótimos augúrios para o nordestino que se
prepara para semear a terra. Alimenta-se a vida dessa relatividade simples,
clara, cristalina. A morte do animal, que
entristece a natureza hoje, é a mesma
que , como esterco fertilizante, produzirá a seiva nutritiva que fará eclodirem
nas árvores próximas, as flores e os frutos vindouros.
Uma
simples gotícula, suspensa na nuvem mais banal, tem a capacidade de, como prisma, fazer
resplandecer no horizonte o milagre do arco-íris. Pasmos, estupefatos, observamos
a arcada celeste multicolorida: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e
violeta. Qual a mais bonita delas ? Alguém preferirá o azul, aquele outro o
amarelo, você talvez o violeta. Por vezes alguns podem dizer detestar uma ou
outra tonalidade. Não haverá nunca um consenso. O desejo, este animal arisco,
está escondido no olho de quem observa.
Mas basta um pouquinho de sensibilidade para se entender que a beleza do
arco-íris não se concentra nesta ou naquela coloração, o que o faz belo,
inesquecível, radiante, é, na realidade, a diversidade de seus matizes. Você
não detestaria o amarelo ou amaria o violeta, se não existissem o laranja, o
verde, o vermelho. E, antes de mais nada, é preciso nunca esquecer que todo
encanto que nos arrebata os olhos precisou do negro que se pariu assim para que todas as outras gradações e degradés
saltassem nítidos e diversos nas nossas retinas.
Se
assim é na física, assim o é na vida e nas nossas selvas e abismos interiores. Negros,
brancos; pobres, ricos; feios , bonitos; sadios , doentes; cidadãos ,
estrangeiros; esquerdopatas, destromaníacos, somos todos nuances , tons e semitons
de um mesmo arco-íris. Reflexos múltiplos de uma mesma imagem na sala de
espelhos deste mundo. Eu não existo sem os meus diferentes. Somos todos o
cômputo de um feixe branco e
incandescente que nos criou , meros produtos da sua refração. Podemos até
imaginar que o branco é insípido e sem graça, insulso, mas é ele quem ilumina
toda a Criação, de onde brota toda a Energia e nós somos meros estilhaços de
fótons e fortuitos grãos de estrelas . É
deste mesmo feixe branco e incandescente que se irradia a Luz que nos banha desde o
Gênesis e que não nos faltará quando soarem as trombetas do Apocalipse. Este talvez
seja o pote de ouro que todos pensávamos encontrar no fim do Arco-Íris.
Crato, 14/12/17
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