sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Que Crato salta das urnas de Outubro ?



                                                        J. Flávio Vieira

                                               Passado o período eleitoral, as coisas aparentemente voltam ao ritmo menos frenético de sempre. Perdedores , babões , puxa-sacos recolhem-se ao anonimato, geralmente escondendo as provas que os ligavam diretamente ao crime. Os vencedores  empertigam-se , mantêm um certo ar aristocrático, dividindo-se entre o bulling aos adversários abatidos e a luta renhida por cargos e colocações no futuro governo. Até o povaréu, que geralmente serve de mero figurino nestas apresentações, comemora a vitória, ou lamenta a surra,  como se se tratasse do seu time de preferência em final de campeonato.
                            Reconheço que me dirigi às urnas meio ressabiado. Primeiro porque acabava de descobrir, neste processo vil porque passa o Brasil, que meu título de eleitor  é um mero objeto decorativo. A grande festa democrática , na verdade, é um jogo de cartas marcadas. As urnas servem apenas para ratificar o poder econômico, como poder político. Se por acaso se rebelarem as urnas , juntam-se quatro centenas de marginais e as jogam no lixo. Fiz de conta, assim mesmo, que o título tinha alguma serventia e me dirigi à seção acreditando que era importante, apesar dos pesares , cumprir meus deveres como cidadão e escolher  os menos piores.
                            Baixada a poeira das emoções, nos veremos, a partir de janeiro,  diante de novas administrações na Câmara e Paço Municipais. Apesar do retrospecto profundamente negativo dos rumos tomados pela cidade de Crato nos últimos 35 anos, torço para que o bonde volte aos trilhos  e que o barco à deriva ao menos consiga encontrar um porto a se dirigir. Nos últimos anos, o Crato, a antiga “Pérola do Cariri” , viu sua joia transformar-se em simples bijuteria. Fomos, disparadamente, o município caririense que mais murchou e perdeu brilho nos últimos tempos. Somos  hoje uma mera caricatura.  A administração atual parece ter colocado a última pá de barro nesta inumação progressiva e inexorável. Como médico, percebo que o prognóstico desse doente, à beira da cova, não é dos mais auspiciosos, mas existindo ainda alguma centelha de vida, sempre sobrevive , também alguma esperança.
                            Torço, assim, para que a futura Câmara Municipal, que teve renovação considerável do seu plantel, deixe de ser apenas um balcão de negócios escusos, uma mera Casa de Leilões. Que legislem, que trabalhem não duas vezes por semana nas suas sessões que às vezes não duram uma hora. Pensem no bem da cidade, acima de tudo,  aprovem conscientemente o que possa engrandecer o município e fiscalizem a aplicação dos recursos comuns. Cada um lute pelas reivindicações coletivas das suas áreas de apoio, mas não esqueçam da cidade como um todo, em todas suas diversidade e complexidade. Quando o navio soçobra leva consigo todos os tripulantes !
                            Torço, também, para que o futuro governo municipal lute desesperadamente para que possamos recuperar o tempo perdido no último quartel. Dentro de recursos federais cada dia mais escassos, de arrecadação municipal em baixa,  mais que nunca é necessário priorizar as verbas para as áreas mais críticas. Não somos ingênuos ao ponto de imaginar que o futuro gestor não tem seus compromissos eleitorais, deve ter , no entanto, a inteligência de utilizar os mais capazes assessores da sua base de apoio. Áreas como Saúde, Educação e Cultura  precisam ser encabeçadas por técnicos da mais alta qualificação, já não cabem, nos dias de hoje, meros marionetes, amadores e simples prepostos. O futuro administrador terá, necessariamente, que entender o Crato como integrante de um Cariri praticamente conurbado. Será necessário, quebrar o nosso bairrismo crônico e  manter parcerias próximas com Juazeiro, Barbalha, Brejo Santo e demais cidades ,  com fito de conjuntamente tentar resolver problemas e obstáculos comuns. Carecemos, eternamente, de obras mínimas de infraestrutura como calçamento de ruas, reforma de estradas vicinais, saneamento urbano, construção de espaços de convivência como praças e logradouros. Temos a URCA que precisa ser vista carinhosamente como um importante fator no desenvolvimento das políticas locais.     E o mais importante, na minha visão,  é não perder o foco no sentido de impulsionar a Cidade do Crato nas suas precípuas e históricas vocações, tendo um olhar especial para a forte Cultura local e o nosso gigantesco patrimônio ecológico. Além de tudo, depois de muitos anos, temos agora um alinhamento de planetas com o Governo Estadual, multivitorioso  em eleições locais, além de ter bebido, desde criancinha, as benfazejas águas das nossas fontes.
                            Por tudo isso, me sobra ainda algum otimismo.  Faço votos para que Zé Ayrton e André Barreto possam nos restituir um pouco do fulgor de outrora. Nem precisamos de uma economia intensamente pujante e de um comércio voraz.  Basta-nos  uma cidadezinha  alegre, justa, acessível,  brejeira, saudável, musical em que seus habitantes , a cada dia, possam louvar o milagre  da vida com seus incontáveis mistérios.

Crato, 07/10/16  

                                  

2 comentários:

Zelia disse...

Perfeito.."A palavra depois de escrita é de quem dela precisa".Faço minhas suas palavras!

Unknown disse...

Perfeito!