J. Flávio Vieira
Passado o período eleitoral, as
coisas aparentemente voltam ao ritmo menos frenético de sempre. Perdedores ,
babões , puxa-sacos recolhem-se ao anonimato, geralmente escondendo as provas
que os ligavam diretamente ao crime. Os vencedores empertigam-se , mantêm um certo ar
aristocrático, dividindo-se entre o bulling aos adversários abatidos e a luta
renhida por cargos e colocações no futuro governo. Até o povaréu, que
geralmente serve de mero figurino nestas apresentações, comemora a vitória, ou
lamenta a surra, como se se tratasse do
seu time de preferência em final de campeonato.
Reconheço
que me dirigi às urnas meio ressabiado. Primeiro porque acabava de descobrir,
neste processo vil porque passa o Brasil, que meu título de eleitor é um mero objeto decorativo. A grande festa
democrática , na verdade, é um jogo de cartas marcadas. As urnas servem apenas
para ratificar o poder econômico, como poder político. Se por acaso se
rebelarem as urnas , juntam-se quatro centenas de marginais e as jogam no lixo.
Fiz de conta, assim mesmo, que o título tinha alguma serventia e me dirigi à
seção acreditando que era importante, apesar dos pesares , cumprir meus deveres
como cidadão e escolher os menos piores.
Baixada
a poeira das emoções, nos veremos, a partir de janeiro, diante de novas administrações na Câmara e
Paço Municipais. Apesar do retrospecto profundamente negativo dos rumos tomados
pela cidade de Crato nos últimos 35 anos, torço para que o bonde volte aos
trilhos e que o barco à deriva ao menos
consiga encontrar um porto a se dirigir. Nos últimos anos, o Crato, a antiga “Pérola
do Cariri” , viu sua joia transformar-se em simples bijuteria. Fomos,
disparadamente, o município caririense que mais murchou e perdeu brilho nos
últimos tempos. Somos hoje uma mera
caricatura. A administração atual parece
ter colocado a última pá de barro nesta inumação progressiva e inexorável. Como
médico, percebo que o prognóstico desse doente, à beira da cova, não é dos mais
auspiciosos, mas existindo ainda alguma centelha de vida, sempre sobrevive ,
também alguma esperança.
Torço,
assim, para que a futura Câmara Municipal, que teve renovação considerável do
seu plantel, deixe de ser apenas um balcão de negócios escusos, uma mera Casa
de Leilões. Que legislem, que trabalhem não duas vezes por semana nas suas
sessões que às vezes não duram uma hora. Pensem no bem da cidade, acima de
tudo, aprovem conscientemente o que
possa engrandecer o município e fiscalizem a aplicação dos recursos comuns. Cada
um lute pelas reivindicações coletivas das suas áreas de apoio, mas não
esqueçam da cidade como um todo, em todas suas diversidade e complexidade.
Quando o navio soçobra leva consigo todos os tripulantes !
Torço,
também, para que o futuro governo municipal lute desesperadamente para que
possamos recuperar o tempo perdido no último quartel. Dentro de recursos
federais cada dia mais escassos, de arrecadação municipal em baixa, mais que nunca é necessário priorizar as
verbas para as áreas mais críticas. Não somos ingênuos ao ponto de imaginar que
o futuro gestor não tem seus compromissos eleitorais, deve ter , no entanto, a
inteligência de utilizar os mais capazes assessores da sua base de apoio. Áreas
como Saúde, Educação e Cultura precisam
ser encabeçadas por técnicos da mais alta qualificação, já não cabem, nos dias
de hoje, meros marionetes, amadores e simples prepostos. O futuro administrador
terá, necessariamente, que entender o Crato como integrante de um Cariri
praticamente conurbado. Será necessário, quebrar o nosso bairrismo crônico e manter parcerias próximas com Juazeiro,
Barbalha, Brejo Santo e demais cidades , com fito de conjuntamente tentar resolver
problemas e obstáculos comuns. Carecemos, eternamente, de obras mínimas de infraestrutura
como calçamento de ruas, reforma de estradas vicinais, saneamento urbano,
construção de espaços de convivência como praças e logradouros. Temos a URCA
que precisa ser vista carinhosamente como um importante fator no desenvolvimento
das políticas locais. E o mais importante, na minha visão, é não perder o foco no sentido de impulsionar
a Cidade do Crato nas suas precípuas e históricas vocações, tendo um olhar
especial para a forte Cultura local e o nosso gigantesco patrimônio ecológico.
Além de tudo, depois de muitos anos, temos agora um alinhamento de planetas com
o Governo Estadual, multivitorioso em
eleições locais, além de ter bebido, desde criancinha, as benfazejas águas das
nossas fontes.
Por
tudo isso, me sobra ainda algum otimismo. Faço votos para que Zé Ayrton e André Barreto
possam nos restituir um pouco do fulgor de outrora. Nem precisamos de uma
economia intensamente pujante e de um comércio voraz. Basta-nos uma cidadezinha alegre, justa, acessível, brejeira, saudável, musical em que seus
habitantes , a cada dia, possam louvar o milagre da vida com seus incontáveis mistérios.
Crato, 07/10/16
2 comentários:
Perfeito.."A palavra depois de escrita é de quem dela precisa".Faço minhas suas palavras!
Perfeito!
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