Finda-se mais uma Expocrato e a
sensação que se percebe nos seus organizadores é que foi de um sucesso
estrondoso: público gigantesco, shows
dos últimos dias extrapolando qualquer previsão otimista de telespectadores. Os
negócios aparentemente não foram dentro da expectativa, mas aí se deposita o
ônus na crise , ademais , de há muito a Expocrato deixou de ser uma Feira
Agropecuária, hoje é bem mais de Entretenimento. Críticos e defensores são
unânimes : esta é a maior festa de todo o interior do estado.
Claro
que a visão de sucesso carrega consigo muitas definições e perspectivas. O
primeiro transplante cardíaco brasileiro , feito pelo Dr. Zerbinni, foi um
êxito tremendo na vião da ciência, abrindo fronteiras até então
intransponíveis, mas um terrível fracasso para a família do João Boiadeiro que
veio a falecer nos dias seguintes. Em termos de público nos shows, de encontro
das famílias tradicionais do Crato, de aquecimento da temporada de férias, da
arrecadação com a venda dos espaços, não existe nenhuma dúvida : Ponto para a
Expocrato/2016 !
No
meu fraco entender, no entanto, continuam faltando ainda sal, tempero e
galinha nesta canja insossa. A democratização
da festa há muito tempo foi para as cucuias. Hoje apenas os abastados e os
turistas conseguem se achegar do divertimento, com ingressos às vezes
caríssimos, bebidas de uma só marca, com preços achacantes. Espetinho e cerveja
de R$ 8,00; refrigerantes de lata a R$ 6,00; estacionamento de R$ 20,00, mas que em alguns dias chegou a R$ 50,00;
mesas vendidas no espaço dos shows por até R$ 200,00 e Cadeiras por até R$
20,00. Preços que impedem qualquer trabalhador de chegar à ExporaCrato, como
terminou por ser redenominada. E não se debite a culpa aos pobres comerciantes:
eles apenas estão se protegendo dos preços milionários cobrados pelos espaços .
A terceirização contínua já por muitos anos da grade dos shows, por sua vez, faz com que se
priorizem apenas os artistas mais midiáticos , o que nada tem a ver com a qualidade
dos seu trabalhos. Assim o estado e o município deixam de fazer Política
Cultural, coisa de sua responsabilidade. Mais uma vez muitas e muitas tribos
são sempre alijadas : a galera do Rock, o pessoal da Seresta, os evangélicos,
as crianças, a Cultura de Tradição, a Música Instrumental, a Música
Contemporânea do Cariri. Se todos pagam seus impostos, não deveriam todos ter
acesso aos benefícios ? Os artistas
caririenses ( isto é uma lástima e tem sido uma política torpe do estado e do
município que se diz da Cultura) os tem desprezado
reiteradamente como porcos infames na Expocrato . É bom que o povo que não tem
espaço nem na sua festa mais importante, se lembre disso neste ano eleitoral !
O
pior é que ano após ano, depois da grande festa, com arrecadações que avaliamos
vultosas, nunca vemos os balanços transparentes da transação comercial feita no
espaço público. A Câmara municipal este ano, até acenou com a possibilidade de
por regras neste corso, mas, de repente, calou-se e voltou a sua cansadíssima
tarefa do dia a dia de dar nome a ruas e títulos de cidadania. Sei que o
Ministério Público zeloso, deve acompanhar de perto, o desenrolar dos
acontecimentos. Não vemos, no entanto, obras importantes no parque, de infraestrutura
e manutenção compatíveis com a
grandiosidade do evento e dos preços estratosféricos cobrados.
O
sucesso da Expocrato, assim, me parece, como tudo nesta vida, bastante
relativo. Em tempos tão temerosos, os afortunados da sorte devem estar
sorridentes nos seus camarotes percebendo que tudo tem que ser caro mesmo se não
“mistura”. O Zé-Povinho toma de conta e aí os bacanas não podem ficar à
vontade. A elite, no entanto, tem que se
decidir, se a proposta é nada para o povão e tudo para o andar de cima, que
pobre fede, que liso não tem classe, então, amigos, a partir de agora, fiquem
longe, nada de sorrisos falsos e tapinhas nas costas. Querem votos? Procurem as mansões e os
palacetes! Não se misturem com a gandaia , não !
J. Flávio Vieira
Crato, 22/07/16
Um comentário:
A expocrato atrai milhares de turistas de todo o Brasil, movimenta milhões, mas os altos preços de tudo que se vende lá dentro mostra que os empresário apenas pensam que quanto mais lucrar, melhor.
A cada ano que se passa, o evento vai ganhando mais notoriedade, e os preços cada vez mais exorbitantes.
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