Desde que o físico de El-Rey, mestre Johannes Emenelaus ,embarcado nas caravelas de Cabral, pisou as terras brasileiras em 27/04/1500, o país passou a ter uma medicina minimamente científica. Os primeiros séculos na colonização do Brasil foram marcados, porém, pela visível ausência de profissionais de Medicina no nosso território. Por aqui os tratamentos se atinham basicamente a pajelanças e rituais afro, embora Brás Cubas houvesse fundado o primeiro Hospital brasileiro – A Santa Casa de Santos -- ainda em 1543. Até que os holandeses chegaram a Pernambuco no início do Século XVII, trazendo consigo toda uma colônia judia, fugida da Inquisição Européia, entre eles vários médicos judeus. Pena que tenha durado apenas 24 anos o sonho holandês em terras brasileiras, em 1654 partiram, deixando, no entanto, marcas indeléveis da sua presença em Pindorama. O vácuo da Medicina no Brasil permaneceu por mais de um século e meio ainda. Em 1789, segundo Salles, só existiam quatro médicos no Rio de Janeiro e eram raríssimos em outras paragens brasileiras.A verdadeira história da Medicina brasileira começou , assim, com a chegada da família real , no início do Século XIX, quando em de 1808, há exatos 200 anos, D. João VI criou , no dia 18 de fevereiro, a Escola de Cirurgia da Bahia que a partir de 1813 começou a ser chamada de Faculdade de Medicina. Esta benemérita instituição, durante estes dois séculos, formou mais de 15.000 médicos, disseminando a arte de curar por todos os recantos deste país continental. Tão seminal tornou-se sua influência que a maior parte dos profissionais caririenses ,até meados do Século XX, trouxeram sua arte e seu aprendizado da tradicional Faculdade de Medicina da Bahia. Na ausência de médicos fixados na região, heroicamente aqui atenderam alguns dos nossos mais famosos boticários : Coronel Secundo, Coronel Benedito Garrido, José Alves de Figueiredo (Zuza da Botica), Antonio Fernandes Telles e Teófilo Siqueira. 1889 marca uma data histórica na Medicina pátria, a formatura da segunda médica brasileira e primeira do Ceará: a cratense Dra. Amélia Bénebien Perouse. Desde este marco histórico, um sem número de médicos caririenses atravessaram os umbrais da UFBA : Dr. Irineu Nogueira Pinheiro ( 1910); Dr. Miguel Limaverde(1913); Dr. Joaquim Fernandes Teles ( 1916); Dr. Elísio Figueiredo ( 1916); Dr. Otacílio Macedo ( 1917); Dr. Joaquim Pinheiro Filho ( 1918). Na década de 1920 formaram-se ainda : Dra. Josefina Peixoto e Dr. Antenor Gomes de Matos. A década de 1930 foi pródiga trazendo ao Crato os Drs. Antonio Macário de Brito, o paraibano Nélson Carrera e o Dr. Dalmir Peixoto, formado em 1937 e ainda hoje lúcido e lépido com mais de 70 anos de profissão médica. Nesta década, ainda sob inspiração do nosso segundo Bispo D. Francisco Pires, inaugurou-se o primeiro Hospital do sul cearense , em 1936 : o Hospital São Francisco de Assis. No início dos anos 40 , aqui aportou o maior mito da medicina caririense, o pernambucano Dr. Antonio José Gesteira, o nosso primeiro grande cirurgião, que este ano comemora o centenário de nascimento.O que une e aproxima tantas gerações de médicos ? Hoje, diante do avanço enebriante da Medicina nos últimos cinqüenta anos, somos tentados a pensar na forma precária com que estes patriarcas da medicina do Cariri tratavam seus pacientes. Tudo parece velho, embolorado e obsoleto. Mas amigos, todos eles usaram as armas mais modernas que tinham às mãos na sua época para lenir as dores, minorar o sofrimento, salvar vidas. As futuras gerações pensarão isto mesmo dos atuais profissionais. É preciso lembrar que nada existe de novo na face da terra e o moderno apenas dá uma nova demão de tinta no conhecimento acumulado por muitas e muitas gerações. Isacc Newton dizia que se vira mais longe foi porque simplesmente subiu em ombros de gigantes.Neste Dia do Médico é preciso pois reverenciar todas as inteligências que nos antecederam e que deram sua vida e seu sangue para melhorar a qualidade de vida de tantos. Tantos que anonimamente se debruçaram sobre leitos paupérrimos , lutando desesperadamente contra a dor e contra a morte com as parcas armas que tinham às mãos. Quero abraçar cada um destes sacerdotes no ano em que se comemora o duplo centenário da Faculdade de Medicina da Bahia e os cem anos do nosso médico mais mítico: o Dr. Antonio José Gesteira.
J. Flávio Vieira
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