Coroa, passou a freqüentar todas as festas que apareciam na região. Conseguiu até uns namorados, uns fica, mas nada de proposta matrimonial. Terminou por concluir, desesperadamente, que por vias comuns seria impossível arranjar marido. Decidiu , então, partir para o sobrenatural. Freqüentou terreiros, encomendou trabalhos, fez promessa com São José e nada de desencantar o príncipe. Recomendaram, então, Santo Antonio da Barbalha e seu Pau Miraculoso. No dia aprazado até tentou tomar chegada, mas a multidão gigantesca a impediu de se aproximar do mastro enorme da bandeira carregado por centenas de homens suados e embriagados. Temeu, inclusive, ser esmagada por aquele falus sagrado nos momentos em que o punham no chão. Teve então uma idéia sensacional, esperou a madrugada, se dirigiu então à praça da matriz e, com uma faca, tirou raspas de casca do pau do santo casamenteiro. Chegando a casa, fez um infusório delas com água fervente , deixou esfriar e depois acondicionou em um tonel de alumínio. Como o desespero fosse inimaginável, resolveu utilizar uma dosagem bem acima da prescrita normalmente pelas beatas de plantão. Durante toda a semana seguinte passou a utilizar o chá miraculoso em diversas vias de administração. Pingou nos olhos, como colírio, nos ouvidos como solução otológica, fez gargarejo e , finalmente, colocou o remédio numa bacia enorme e fez seguidos banhos de assento por mais de uma semana.
Depois do tratamento, Marilaque ficou esperando o resultado da magia. Não demorou muito e a simpatia, incrivelmente, passou a dar resultado: começou a ser assediada por inúmeros pretendentes. Animou-se toda , criou alma nova e ante tanta fartura, voltou à pabulice de sempre. Primeiro porque lembrou que o querido Santo casamenteiro tinha fama de escolher pouco os pretendentes. É que eram tantos os pedidos que chegavam ao seu departamento celeste que para dar de conta não podia ser muito exigente, ia despachando conforme a necessidade. Depois porque sempre fora mesmo cu doce e percebia os mínimos defeitos , todos eles graves e totalmente irreconciliáveis. O primeiro pretendente que a procurou era um senhor de meia idade, calmo e de vestes simplíssimas. O dispensou prontamente de início por conta dos visíveis sinais de pobreza, depois porque , estranhamente, andava arrodiado de passarinhos. Um preguiçoso daqueles não poderia sustentar uma casa ! O segundo noivo que lhe apareceu um cavaleiro montado em um lindo cavalo branco, vestido para guerra e empunhando uma longa e aguda lança. Um guerreiro, afeito aos campos de batalha, lá teria tempo de cuidar de uma esposa a contento ? Dias depois lhe bateu à porta um senhor de face sisuda emoldurada por uma barbichazinha branca, carregando uma criança de uns oito anos, propôs matrimônio, prometendo amá-la eternamente. Marilaque despachou-o afirmando que ele era muito velho para ela e , além do mais, não queria servir de babá para filho de ninguém. Finalmente, um belo dia, apareceu um cara altíssimo , de olhar penetrante, com um perfume estranho, fala envolvente e que lhe prometeu todas as riquezas deste mundo. Sequer precisou pedir-lhe a mão, arrebatou-a num pulo, levou-a para um banho de loja no shopping, carregou-a depois para uma Clínica de Cirurgia Plástica e lhe pagou um serviço geral de lanternagem. Saiu de lá com a cara da Angelina Jolie depois que caiu do avião. Foram então dias e mais dias de amor turbulento destes de pelar e assar todas as partes que tinham sido banhadas pelo infusório de Santo Antonio. A felicidade parecia completa até que percebeu que a placa da caminhonete Pajero do marido lhe parecia familiar: BZU 666. Tarde demais, viu-se de repente arrastada por uma força estranha para o firmamento. Despertou da vertigem , em cima de uma nuvem de onde se avistavam duas portas uma iluminada e resplandecente e a outra enferrujada, tosca, pavorosa. Enquanto era carregada para a porta negra por uma anaconda imensa, avistou um dulcíssimo Santo Antonio que lhe falou:
---- Vocês mulheres não têm mesmo jeito. Mandei três maridos perfeitos e você recusou, Marilaque. O primeiro São Francisco de Assis , mal teve tempo de falar com você. O segundo , São Jorge , no seu cavalo, teve que voltar para a lua imediatamente sem sequer ter recebido um minuto da sua atenção e o terceiro, São Vicente, só porque levava um meninozinho você pensou logo que o homem era pedófilo! Não tem jeito não, santo com vocês não leva vantagem nenhuma. O povinho pra gostar do satanás !
J. Flávio Vieira
Nenhum comentário:
Postar um comentário