“Nem todas as verdades são para todos os ouvidos”
O primeiro de abril carrega consigo dois carmas fatídicos. Um deles flutuando no ramo do folclore: o Dia da Mentira. O outro, bem mais tenebroso, marca os sessenta anos da Ditadura Militar de 1964, um pesadelo que perdurou por vinte e um anos e que, como uma praga mal resolvida, continua, de vez enquanto, a nos assombrar. Este ano quebramos a tradição : o Dia da Mentira folclórico e histórico desmoronou . Esta realidade caiu por terra, com a inauguração do Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo fundado há exatos dois anos. Uma obra gigantesca, ainda em processo de edificação, englobando o antigo Hospital Manuel de Abreu e entorno. E ali brilha aos nossos olhos aquilo que , aqui, transformou em Verdade o farsante primeiro de abril. Uma galeria de arte vultosa, com exposições temporárias e permanentes; uma Teatro com setecentos lugares; um Terreiro imenso para manifestações de cultura de tradição; um Teatrinho de bolso moderno e sofisticado ; um outro pátio aconchegante com palco acessório; uma vasta área para residentes do Centro; um Planetário; um titânico terreiro para esportes vários e uma colossal área de lazer com jardins, que tem acolhido, a cada fim de semana, mais de 3000 caririenses em seu sombreado arvoredo.
A programação nestes dois anos, mesmo convivendo ainda com os trâmites da construção, é de encher os olhos. Música ; Artes Cênicas; Cinema; Festivais de Música envolvendo artistas nacionais e do Cariri; terreiradas; Oficinas; exposições de Artes Plásticas e Fotografia; Contações de Histórias; Saraus Literários; Projetos de Incentivo à Leitura desfilaram numa lista extensa e diversificada que abriu um leque enorme de possibilidades inclusivas até então inexistentes na região. E desde o seu nascedouro, no desenrolar da construção, preocupou-se o Centro em incluir os próprios trabalhadores como obreiros, sim, mas, também, usuários do empreendimento que edificavam com suas mãos calejadas. Um projeto tocado por Luiz Santos e Carlos Henrique fez com que , através de xilogravuras, shows e fotografias, os trabalhadores passassem a ter vida, voz e holofotes. O Centro Cultural Sérvulo Esmeraldo, em apenas dois anos, virou nossa acrópole, o outeiro donde podemos ter uma visão em grande angular da região e , ao mesmo tempo, um zoom de nós mesmos.
Claro que uma obra de tamanha envergadura cria, imediatamente, ciumeiras e polêmicas. Alguém já disse que só se atira pedra em árvore que dá bons frutos. Num país tão polarizado, setores ultraconservadores facilmente criminalizam a Cultura. Ali devia ter sido feito era um hospital ! Deviam ter era reinaugurado o antigo Seminário ! E isso acontece por uma razão bem simples: a Cultura é a trincheira final contra o despotismo. O maior inimigo do fascista é um povo culto, educado e esclarecido. Cultura é luz e os déspotas, como os lobisomens, precisam da treva para existirem.
Controvérsias entre grupos artísticos e as administrações; queixas e reclamos de espaço entre locais e forasteiros fazem parte inerente da efervescência de qualquer movimento cultural. São ondas tectônicas de acomodação e, em nenhum momento, tiram a importância inequívoca de um Centro Cultural que hoje, certamente, é um dos mais profícuos e importantes do interior do Nordeste.
O Cariri tem uma dívida eterna para com o governador Camilo Santana, o mentor do Sérvulo Esmeraldo , um dos políticos mais importantes do país. É preciso, ainda , agradecer a Tiago Santana do Instituto Mirante, a Rosely Nakagawa e a Allan, Fabiana, Ana Lúcia e todos aqueles que fazem a gestão do Centro Cultural, com tanto esmero e tanta dedicação. Aos que criticam o empreendimento basta lembrar que, em nenhum momento ele mudou, historicamente, sua característica: Seminário, Hospital e , hoje, Centro Cultural , continua a sua missão de cultivar e revolver o terreno do Sagrado. A Cultura caririense em breve poderá ser separada em dois momentos históricos: a.C. e d.C. ( antes e depois do Centro).
Parabéns ao Centro Cultural pelo aniversário de hoje que marca incontáveis outros que virão. Aos renitentes que continuam celebrando o antigo primeiro de abril, convidamos para visitar o Sérvulo Esmeraldo. Ali poderão abrir os ouvidos para as novas verdades que ressoam não mais como impropérios, ranço, ódio e mexericos, mas como música.
Crato, 04/04/2024
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