sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

O Sertão vai virar mar ?

 


             O professor José Mauro, de Belo Horizonte,  criou o Projeto Livro de Graça na Praça-LGP em 2000, ao visitar o Grupo Escolar José Bonifácio, onde fizera seu curso primário. Constatou, desolado, um total afastamento dos novos alunos da Língua e Literatura brasileiras. Pensou, então, em refazer a continuidade desta corrente, esfacelada em algum lugar da nossa história. O incentivo à leitura lhe pareceu o caminho mais propício e, num duro trabalho de arregimentar escritores e parceiros, em 2002 lançou, na Praça da Liberdade de Belo Horizonte, a seleta “Ouvindo Estrelas” ( 59 poesias de 31 autores) , distribuída em uma grande festa literária e, posteriormente, reeditada pelo MEC com mais de trinta mil exemplares. Desde então, somaram-se dezenove edições do Livro de Graça na Praça, em Belo Horizonte, com números que parecem estratosféricos: 450.000 exemplares doados (entre livros adultos e infanto-juvenis, cordéis, revistas),  atingindo um público de 1,3 milhões de leitores . 

                        O LGP envolveu incontáveis escritores das mais diversas regiões do Brasil, inclusive vinte e sete novos autores, escolhidos em Concurso de Contos realizado anualmente, e até mesmo escritores internacionais (Japão, EUA, Portugal). O benfazejo pólen do LGP, levado pelo vento, floresceu em muitos outros campos mundo afora: Uberaba, Manaus, Crato, Uberlândia, São Lourenço e Toronto no Canadá.

                        Aqui em Crato, em 2019, o Instituto Cultural do Cariri promoveu, na praça Siqueira Campos, o primeiro LGP com a distribuição de mais de dois mil livros, doados gentilmente por autores caririenses e também pelo Projeto LGP/MG e Instituto Fernando Sabino, de BH. Este ano, o Instituto Cultural do Cariri, com apoio irrestrito da Secult/Crato, e através da captação de recursos em Edital de Patrocínio da Lei Municipal de nº 3453/2018, está publicando seu próprio livro para o LGP, envolvendo em torno de 25 escritores do nosso sodalício e mais seis escolas estaduais de Ensino Médio, cujos estudantes participaram de concurso para escolha de textos para o LGP/Crato/2021, sobre lendas e mitos caririenses. O evento acontecerá nesse sábado a partir da 9:00 h , na Praça Siqueira Campos, numa grande festa literária, com saraus poéticos, apresentações musicais, retreta da Banda Municipal de Crato, contações de histórias, oficinas para fabricação de marcadores de livros. O público presente receberá, ainda, gratuitamente, o livro : “A Caverna encantada- Mitos e Lendas do Cariri”, editado, carinhosamente para o evento, com tiragem de mil exemplares, além de incontáveis outros livros doados por autores caririenses e cordéis, inclusive um produzido pela Academia de Cordelistas do Crato sobre este mesmo tema. O professor José Mauro, criador do Projeto, estará presente conosco na grande festança de fim de ano que obedecerá, religiosamente, todo o protocolo sanitário.

                        Em tempos em que todos os Códigos: ético, moral, de conduta e posturas parecem ter sido substituídos pelo Código de Barras, você deve se perguntar, a razão de tantos escritores estarem promovendo este projeto, se nadicas de nada receberão , financeiramente, de volta. Talvez a resposta seja que vivemos numa epidemia cujo remédio é vacina e isolamento. Por outro lado, convivemos com uma endemia que agora se tornou epidêmica: a do descaso, do abandono, do esquecimento, da desigualdade. Para esta, ao contrário da outra, a terapêutica é luta, aglomeração e a aplicação de dois medicamentos infalíveis: Cultura e Educação.    

                        O professor José Mauro da Costa tem a clara ciência de que os terríveis índices educacionais do país não são um mero acaso, mas resultam de projetos de governo, como um dia preconizou seu conterrâneo Darcy Ribeiro. Ele traz, junto conosco, um pequeno orvalho na esperança de que terá a força de apagar o vertiginoso incêndio que devasta a floresta. É que as tempestades, afinal, são feitas de pequeninas gotículas que se juntam nos Cumulus. Gota a gota, quem sabe, um dia o orvalho se transforme em chuva torrencial e o sertão, como previu o Conselheiro, pode de novo virar  mar.  

 

Outubro/2021


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