sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Atirando com pólvora alheia


Ninguém , de sã consciência, nem os mais emperdernidos radicais, seria capaz de defenestrar escritores como Dostoievsky e Tolstoi  dos mais altos pedestais da literatura universal. E somam-se outros russos de envergadura inigualável com Gogol, Tchecov, Maiakovsky que, de há muito, estenderam suas fronteiras e já não carregam consigo a pecha de russos: sua obra é um tributo à Arte universal. Nas artes plásticas temos toda uma vanguarda russa , dentre eles Chagall que criou uma obra onírica e desbravadora e já não cabe em meras fronteiras geográficas. A Tabela Periódica, desenvolvida pelo russo Mendelleev mudou, completamente, os rumos da Química mundial e passou a fazer parte, imediatamente, do acervo de conquistas da Ciência. E são incontáveis cientistas daquelas terras que enriqueceram a história da humanidade: Pavlov na Psicologia;
Zworykin, criador da televisão moderna; Prokhorov , inventor do Raio Laser; Shakarov, que desenvolveu a Bomba H; Tupolev que desenvolveu o primeiro avião supersônico; só para lembrar alguns. Todas essas importantes descobertas passaram a fazer parte, imediatamente, do acervo tecnológico da humanidade. A rigor, se na mente tacanha de alguns governantes mundiais, o preconceito e o racismo vivem uma nova onda, a Arte e a Ciência sempre entenderam que as conquistas são coletivas e servem para beneficiar pessoas e países independentemente de suas cores políticas, sociais, econômicas.

                                   Nestes dias , o governo brasileiro estabeleceu uma polêmica das tantas em que se tem metido na atual gestão. Pôs-se contrário à compra da Vacina contra a Covid-19, chamada de Coronavac que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantã em parceria com laboratórios chineses. Segundo o nosso mandatário maior, a Vacina seria comunista. Para complicar tudo, em Santa Catarina vem sendo desenvolvida uma outra de um laboratório russo e que, certamente, deve ser alijada já que corre o risco de inocular o perigoso germe do comunismo em brasileiros desatentos. Essa loucura acontece quando a Europa convive já com uma segunda onda e o Brasil, que foi um dos piores exemplos mundiais no combate à pandemia, já conta com mais de cinco milhões de infectados e quase 160.000 mortes. Não bastasse isso, embora o próprio governo tenha assinado anteriormente, uma lei que torna a vacinação obrigatória, o presidente, desdizendo como sempre o que tinha dito, informou em alto e bom tom que só vai se vacinar quem quiser.

                            O governo governa para seus terraplanistas . Em verdade, ninguém pode ser obrigado a tomar a vacina se não quiser. É preciso, no entanto, lembrar que essa decisão não é apenas pessoal, ela vai impactar a vida de muitas outras pessoas que podem ser contaminadas por conta do seu gesto. É justo, pois, que paguem civil e penalmente por sua decisão. O presidente, pessoalmente, pode pensar e agir como melhor lhe aprouver. A posição, no entanto, do chefe da nação, é importantíssima como exemplo e ele tem que entender que quando se posiciona o faz sempre como chefe do executivo.  E o que o governo tem feito, sem usar máscara, sem manter distanciamento, prescrevendo cloroquina,  se pondo contra a vacinação e negando a compra de uma medicação salvadora por simples infuca política , a meu ver, é uma questão que, em um país minimamente sério, levaria os loucos à camisa de força.  A China é o maior parceiro comercial do Brasil, vamos deixar de comprar tudo que de lá importamos, pela simples razão de ser um país comunista ? Há poucos beijávamos seu pés em busca de respiradores. E se eles entenderem que não mais interessa comprar ao Brasil por ser capitalista ? Tá valendo ?

                            Temos um canastrão na mesa do poker, sem fichas na mesa e imaginando que ganhará todas as partidas no blefe. Não faltam perus a lhe incentivar, também descapitalizados e certos que no grito vencerão o Royal Straight Flush dos adversários.   O diabo é que com fichas alheias, a conta virá para todos nós, é só esperar.

Crato, 23/10/2020

 

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