”A nossa família são os que escolhem, de forma livre, estar ali, conosco. Os que não nos abandonam, nem esquecem, e
que guardam a distância do respeito pela
José Luiz Nunes
Mês passado, uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o chamado Estatuto da Família ( com 17 votos a favor e cinco contra), numa seção conturbada onde não faltaram embates duros entre parlamentares. A aprovação do polêmico Estatuto teve o apoio rasgado da Bancada Evangélica da Câmara e foi facilitada por manobras regimentais desencadeadas pelo presidente Eduardo Cunha que transita nestas hostes pretensamente sagradas. A partir da Comissão, o Estatuto deve seguir para votação em plenário ( embora esse passo possa ser dispensável) e depois, se aprovado, será encaminhado ao Senado. Há um ponto crucial na Lei que se pretende aprovar: A definição de Família como sendo a união entre Homem e Mulher, por meio de casamento ou união estável ou a comunidade formada por cada um dos pais junto com os filhos. Trocando em miúdos só existirá Família , se o Estatuto for aprovado, numa união heterossexual. Ou no caso da falta de um dos cônjuges( por morte ou separação) , dos filhos junto com o pai ou a mãe.
É
quase inacreditável se imaginar a possibilidade de uma Lei dessas em pleno Século
XXI. Avós que cuidam afetuosamente de
netos ( e quantos existem, mundo afora nos dias de hoje!) não mais formarão uma
família; homossexuais que adotam crianças enjeitadas por casais heterossexuais,
não formam um núcleo familiar; tios e tias que pretendam adotar sobrinhos
abandonados, se o fizerem, não estarão perfazendo uma família; um viúvo ou
viúva, um padre ou uma freira que
pretendam, piedosamente, adotar crianças,
desistam! Vocês não têm esse direito legal ! Todas as crianças abandonadas por
seus pais oficiais, perambulando pelas ruas ou jogadas no orfanato, estão
forçosamente condenadas a viver assim, o Congresso Nacional está determinando !
Depois, claro, os meninos serão julgados e caçados na rua, não com pais lhes
impondo limites, mas pelos Herodes atuais : a polícia, o IML e o rabecão.
Jamais
imaginei que retrocederíamos numa
máquina do tempo à era das trevas. Um Estado que se pretende modernamente laico
se vê assaltado por uma Teocracia fundamentalista. Definida a Família, já temo
pelos próximos passos. Os gays serão obrigados a buscar sua Cura nas igrejas
pentecostais; as transfusões de sangue serão abolidas nos hospitais brasileiros;
anticoncepcionais, camisinhas terão suas vendas proibidas; ateus serão
levados à fogueira junto com os bruxos ( aqueles que pensam diferente das
rígidas leis teocráticas); o casamento será novamente restrito aos
heterossexuais e o divórcio expressamente cancelado; o dízimo
passará a ser obrigatório e descontado em folha de todos os brasileiros.
Os
maiores crimes da humanidade foram cometidos sempre quando uma ética particular
, de um grupo específico, foi empurrada, goela abaixo, como lei universal. O
Estado não pode estar a reboque de moralismo grupais de qualquer espécie. A
Família é formada por pessoas que se consideram familiares, independentemente
de laços de sangue, geográficos, sociais e temporais. A possibilidade de se ter
uma Sociedade mais harmônica, mas pacífica e mais justa é justamente quando ampliamos
os horizontes da Família e consideramos todas as espécies dos reinos da natureza como nossos irmãos.
Já
que os Teocratas brasileiros desejam que voltemos às cavernas, aproveitem e ,
com o Eduardo Cunha, suprimam o artigo 7º. Dos 10 Mandamentos, um verdadeiro absurdo !
Aquele que exige uma coisa impossível : “Não
Furtarás!”
23/10/15
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