sexta-feira, 21 de março de 2014

Bartô e o Colunismo de Capoeira



                                                                                                                       J. Flávio Vieira

                              Entre uma baforada de “lasca-peito” e um sorriso maroto , Rui Pincel me conta a incrível e alegre história de Bartolomeu , um sujeitinho franzino, nascido nas escarpas do Quincuncá e que, há uns três anos, seguiu em busca do enganoso tesouro das esmeraldas, em São Paulo. Rui  diz tê-lo encontrado na feira recentemente e quase o não reconhecia  pela fina indumentária que usava pra desfilar, dando a idéia que era a fina seda que conduzia Bartolomeu e não o contrário. Surpreso com a transformação súbita de um matuto das mais recônditas brenhas,  num dândi da Ilha de Caras; Rui ouviu, mais espantado ainda ,o motivo da brusca metamorfose. Bartolomeu lhe contou que resolvera voltar de São Paulo, há alguns meses, porque por lá emprego anda mais difícil que obra feita pela prefeitura de Crato. Queria, porém, retornar com uma profissão mais promissora que a de reles comerciário. Como , em São Paulo , lesse com frequência o Almanaque Capivarol e, entre um embrulho e outro, filasse a Coluna Social da Joyce , teve o estalo: Vou ser Colunista Social e tentar viver disso. Alguns colegas o desestimularam dizendo que ele não teria acesso , pela pobreza beneditina, às festas mais sofisticadas, mas Bartolomeu, inteligentemente, resolveu desenvolver o Colunismo entre as pessoas mais pobres e humildes, segundo ele, na certeza de que a vaidade humana não tem limites, nem respeita fronteiras religiosas, morais ou sociais...
                        Bartô  - assim  ele artisticamente se auto denominou – estabeleceu-se no Cipó dos Tomás e , com o dinheiro do Fundo de Garantia, colocou uma Amplificadora. Segundo ele, não poderia ter feito melhor negócio. A partir dali noticia todos os acontecimentos sociais daquela localidade. Claro que é preciso pôr condimento nas coisas: qualquer Renovação ele divulga como uma Renô fantástica na Casa de Fulano. O cardápio precisa também de algumas modificações para não parecer tão brega: Ova de Curimatã, vira Caviar ao Curry ; K-suco de Abacate  aparece como Supremo de Abacatê ; Aluá se transforma, estilisticamente ,em Uísque fino de Abacaxi  12 Horas e, por aí a coisa vai... Há também a divulgação de todos os nívers e dos Destaques do Ano ,nas mais diversas atividades locais: Bodegueiro, Mestre de Cachimbo, Rezador, Roceiro, tombador de cana, metedor de fogo etc. Bartô assegura que não podia ter feito melhor escolha, todo santo dia tem festa pra ir e não precisa fazer feira, claro que há alguns inconvenientes ligados à própria atividade, tem que desmunhecar um pouco e afinar  discretamente o timbre  da voz, mas a pessoa se acostuma, mesmo que alguns o chamem de Baitô. Alguns também o criticaram por ter escolhido como Homem de Visão 1997 um Profeta de Chuva cego... Mas quem não sabe criar vira, inexoravelmente, crítico.
                        Rui Pincel conclui que está seriamente inclinado a comprar alguns discos de Ney Matogrosso e as  Hipócritas Memórias de Collor de Mello e Armando Falcão e já começar o treinamento. Certamente não há atividade mais lucrativa que aquela que  busca pôr qualidades em quem simplesmente não as possui, já que a vaidade  é o  abismo mais profundo da alma humana.

                                                                                  Crato, 12/04/98

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