J. Flávio Vieira
Entre
uma baforada de “lasca-peito” e um sorriso maroto , Rui Pincel me conta a
incrível e alegre história de Bartolomeu , um sujeitinho franzino, nascido nas
escarpas do Quincuncá e que, há uns três anos, seguiu em busca do enganoso
tesouro das esmeraldas, em São Paulo. Rui
diz tê-lo encontrado na feira recentemente e quase o não reconhecia pela fina indumentária que usava pra
desfilar, dando a idéia que era a fina seda que conduzia Bartolomeu e não o
contrário. Surpreso com a transformação súbita de um matuto das mais recônditas
brenhas, num dândi da Ilha de Caras; Rui
ouviu, mais espantado ainda ,o motivo da brusca metamorfose. Bartolomeu lhe
contou que resolvera voltar de São Paulo, há alguns meses, porque por lá
emprego anda mais difícil que obra feita pela prefeitura de Crato. Queria,
porém, retornar com uma profissão mais promissora que a de reles comerciário.
Como , em São Paulo , lesse com frequência o Almanaque Capivarol e, entre um
embrulho e outro, filasse a Coluna Social da Joyce , teve o estalo: Vou ser
Colunista Social e tentar viver disso. Alguns colegas o desestimularam dizendo
que ele não teria acesso , pela pobreza beneditina, às festas mais
sofisticadas, mas Bartolomeu, inteligentemente, resolveu desenvolver o
Colunismo entre as pessoas mais pobres e humildes, segundo ele, na certeza de
que a vaidade humana não tem limites, nem respeita fronteiras religiosas,
morais ou sociais...
Bartô - assim
ele artisticamente se auto denominou – estabeleceu-se no Cipó dos Tomás
e , com o dinheiro do Fundo de Garantia, colocou uma Amplificadora. Segundo
ele, não poderia ter feito melhor negócio. A partir dali noticia todos os
acontecimentos sociais daquela localidade. Claro que é preciso pôr condimento
nas coisas: qualquer Renovação ele divulga como uma Renô fantástica na Casa de
Fulano. O cardápio precisa também de algumas modificações para não parecer tão
brega: Ova de Curimatã, vira Caviar ao Curry ; K-suco de Abacate aparece como Supremo de Abacatê ; Aluá se
transforma, estilisticamente ,em Uísque fino de Abacaxi 12 Horas e, por aí a coisa vai... Há também a
divulgação de todos os nívers e dos Destaques do Ano ,nas mais diversas
atividades locais: Bodegueiro, Mestre de Cachimbo, Rezador, Roceiro, tombador
de cana, metedor de fogo etc. Bartô assegura que não podia ter feito melhor
escolha, todo santo dia tem festa pra ir e não precisa fazer feira, claro que
há alguns inconvenientes ligados à própria atividade, tem que desmunhecar um
pouco e afinar discretamente o
timbre da voz, mas a pessoa se acostuma,
mesmo que alguns o chamem de Baitô. Alguns também o criticaram por ter
escolhido como Homem de Visão 1997 um Profeta de Chuva cego... Mas quem não
sabe criar vira, inexoravelmente, crítico.
Rui
Pincel conclui que está seriamente inclinado a comprar alguns discos de Ney
Matogrosso e as Hipócritas Memórias de
Collor de Mello e Armando Falcão e já começar o treinamento. Certamente não há
atividade mais lucrativa que aquela que
busca pôr qualidades em quem simplesmente não as possui, já que a
vaidade é o abismo mais profundo da alma humana.
Crato,
12/04/98
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