O Grupo Escolar Capistrano Landuá, em Matozinho, ganhara fama
,na região ,por se tratar de uma escola bastante ortodoxa, destas de dar
pesqueiro em Piaget e chulipa em Paulo
Freire. Os matozenses contavam orgulhosos
a grande quantidade de ex-alunos que ganhou importantes cargos em todo o
estado, forjada nas rígidas regras do Capistrano. Comerciantes importantes,
barnabés e até deputados ! D. Eufrazina, uma das pioneiras da educação na
cidade, tinha sido a fundadora do Grupo e devia-se muito a ela a seriedade
disciplinar da instituição, nos muitos
anos que a dirigiu. Com a partida da educadora para os campos celestiais, a
escola foi, pouco a pouco , livrando-se dos velhos tempos e investiu-se de um
certo ar de liberalidade, com os novos diretores que foram se sucedendo.
Falamos em liberalidade, mas é importante dizer que era com os freios de disco
matozenses, nada para além do que seria permitido num convento ou numa mesquita.
Mesmo assim, a tradicional família de Matozinho malhava o pau nas mudanças e vivia a recordar os bons tempos do quartel
de Eufrazina:
--- Aquilo sim é que era escola e
não essa putaria: mistura de cabaré com Circo de Cavalinhos !
Reclamava
a cidade que o Capistrano já não
tinha o mesmo desempenho dos anos gloriosos. Nem lembravam que o acesso à
escola havia se ampliado nos últimos anos e não só a classe média estudava, mas
adentraram as classes os mais desfavorecidos, com todos seus imensos problemas.
Assim, caiu como uma notícia auspiciosa a nomeação do novo diretor do Grupo :
Prof. Bento de Assis. O mestre tinha
fama de durão, fora coroinha de igreja, membro da TFP e um dos mais famosos anticomunistas
e dedos-duros na época da ditadura
militar. Os bons tempos do Capistrano
tinham tudo para retornar.
Bento
fez valer a sua fama de duro como beira de sino. Fez uma reviravolta na
Pedagogia. Implantou a velha Gramática de Carneiro Ribeiro, o ensino do latim e
do Grego na grade curricular, a matemática tradicional com sua tabuada ( nada
de maquininhas) e a velha palmatória como professor adjunto. Geografia e
História, só antigas e com o seu
decoreba incluso. Nada de figurinhas, cartazes e muito menos diabo de
computador. Mudou ainda a farda, com a
necessidade dos homens usarem calças compridas, sapatos fechados e ceroulas e
as mulheres saias longas, com toda a proteção interna :califon, anágua e
combinação. Proibiu ainda os homens usarem cabelos longos e as mulheres , curtos.
Brinquinho em macho, piercing em moça era motivo imediato de expulsão. Não
bastasse isso, Bento modificou totalmente a merenda escolar, trocando o velho
mingau de aveia, por uma sopa de coentro
que ele tentava convencer os alunos ser mais saudável, mas confidenciava aos professores
que aquilo diminuía o tesão dos meninos, em plena fase perigosa de explosão
hormonal. As solenidades na escola eram
uma sucessão de rezas e mais rezas todas, necessariamente, em latim.
Bento
tinha ainda uma profunda preocupação com os possíveis desvios dos alunos em
fase de formação. Encheu a escola de beatas tentando ensinar os meninos que
sexo só depois do casamento; que camisinha era uma passagem pro inferno.
Amedrontavam ainda os guris lembrando que o pecado solitário era um assassinato
em massa, pior do que no nazismo, pois milhões e milhões de espermatozóides
eram sacrificados.
Semana
passada, depois de uns oito meses de mandato, estranhamente, Bento renunciou ao
cargo. Reuniu os alunos no grande pátio, na hora da merenda, e explicou que estava velho e cansado e que
precisava passar a diretoria para alguém mais novo e disponível. Os matozenses, depois, comentaram que a
desilusão dele teve outros motivos. Mais de dez alunas tinham engravidado no
último ano, para seu desespero. Os meninos viviam no Cyber da cidadezinha ,
criticando-o no Facebook. O estado abriu ainda sindicância por conta de um
enorme desvio na verba da merenda escolar por uma
quadrilha montada dentro da escola por pessoas do Núcleo Gestor, da sua mais
inteira confiança. Não bastasse isso vários alunos colocaram no You Tube vídeos
de transas entre eles ,em festinhas promovidas por eles mesmos, em fins de semana, sob o nome : “As Taradas do
Capistrano”. A gota d´água, no entanto, parece ter sido a divulgação de
pretensas cartinhas de amor do nosso sério diretor , dirigidas a um servente da escola chamado
Valdemarzão.
Enquanto
o Diretor avisava, solenemente, os motivos da sua renúncia, os alunos , ouvidos
de mercador, engolindo a contragosto a
insulsa sopa de coentro, começaram a gritar em uníssono:
---
Queremos papa! Queremos papa !
01/03/13
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