Qual a manchete mais palpitante
desta semana, meus caros ouvintes ? As
peripécias corrupto-sexuais do Renan ? O Toma-Lá-Dá-Cá do Congresso pela
aprovação da CPMF ? As repercussões do roubo do Rolex do Huck ? A mais
importante notícia destes dias, talvez
tenha passado despercebida da maior parte dos cairirienses. Embotados pela
hipnose da TV e da WEB sequer percebemos o milagre que se refaz, a cada
dia, à nossa volta. Imersos num mundo cada vez mais virtual, vamos ,pouco a pouco, nos afastando da realidade e carregando esta vidinha.com
pelos poucos dias que nos restam. A tecnologia que tem aproximado
eletronicamente, no cyberspace, as pessoas , as tem ensinado um relacionamento
impessoal e distante. Faltam o olho-no-olho, o toque, o abraço, o beijo.
Namoros podem ser desfeitos com um simples aperto de uma tecla do PC. Adoram-se
figuras irreais e fotoshopadas. Os sentimentos são deletados na velocidade da
luz. Num mundo já pleno de indiferenças e barreiras um pode
ser formatado pelo amigo, pelo patrão, pelo consumo, pelo namorado. Todos nos
tornamos igualmente desnecessários e supérfluos. O amor, o carinho, a
compreensão vão sendo sacrificados a cada dia nas salas de chats.
Assim
é bem possível que este pobre cronista semanal seja logo taxado de louco,
quando anunciar a mais importante notícia desta semana. Pois é, caros ouvintes,
o que mais deslumbrante aconteceu nestes dias no nosso mundinho foi justamente
a Floração dos Ipês. De repente, como se previamente combinado, os ipês revestiram-se
de um roxo fosforescente e tingiram toda a Chapada, como que anunciando
uma páscoa tardia e atemporal. Aos poucos, num lúbrico strip-tease, peça após
peça, os ipês se foram desnudando. Em
poucos dias começaram a revestir o chão com suas vestes : pétalas, que carregadas pelas asas do vento,
em feito de manto, agasalharam as terras caririenses com um violeta algo
esmaecido, mas iridescente. Mal
terminara o show, já os Ipês Amarelos tomam de assalto o palco da natureza e
florescem um dourado quase que incandescente. Os pés-de-serra , súbito, têm a
monotonia do verde quebrada pelo áureo dos ipês lhes imprimindo tons
patrióticos, junto com o branco das nuvens, o azul do céu e o agora
verde-amarelo das matas. A chapada, ao longe, assemelha-se a uma bandeira
desfraldada, tremeluzindo ao sabor da brisa. Nestes dias, as terras caririenses
já se recobrem de um tapete auricolor . Os ipês , novamente, desvestiram suas ricas roupas e como que
estendem aos hipnotizados passantes uma esteira dourada onde possam sentar e
apreciar a vida com todas suas nuances e cambiantes tonalidades.
O
toque monocórdico do computador sequer entende a infinitude de lições que
brotam junto com a floração dos ipês. A vida que emerge em ciclos e que brilha
em matizes diferentes a cada diferente estação. A florescência que anuncia multiplicidade e eternidade , polinizando o mundo e fertilizando a terra. A grandeza de
perceber que as mesmas pétalas que encantam os olhos e douram a natureza na
primavera , serão o humilde tapete e a delicada alcatifa que no outono
confortarão os pés cansados do viandante. E mais que tudo a beleza da vida dura
um único, inefável e etéreo momento, que
se esvai num átimo, como a fulgurante floração dos ipês. Num piscar de olhos, o
êxtase foge de nossa vista e só servirá de lembrança e de manto nos dias de
inverno que se já prenunciam. A Vida é já.
Outubro/ 2007
Ilustração : Reginaldo Farias /2011
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