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Talvez seja por isso que somos tomados de uma aura de nostalgia ao se aproximar o período junino. O São João e São Pedro são uma espécie de ritual pagão de adoração do fogo. As adivinhas, as promessas, os casamentos e o compadrio remontam, por certo, aos nossos tempos primitivos em que o Deus fogo presidia todas as unções. Familiares e amigos se reúnem, novamente, em torno da fogueira sagrada, comem e bebem em meio ao pipocar dos fogos e o fugaz vôo dos balões. Com o passar dos anos, as festas vão ficando mais tristes e mais vazias porque muitos, como dizia Manuel Bandeira, já não comparecem : “estão todos dormindo profundamente”.
Descobrimos, então, que a nossa vida é igualzinha a uma festa junina: o estardalhaço no ribombar dos fogos da juventude; os sonhos etéreos e fugazes que ascendem e brilham , como balões, até serem tragados pela chama do quotidiano; a quadrilha incansável das relações humanas , e a fogueira da existência, tão difícil de pegar fogo, mas uma vez ateado, queima num átimo, sem que ao menos pressintamos. Mal adentramos o salão , apenas com o gostinho do aluá e do pé-de-moleque na boca, acabam a festa de repente. E o que será feito do Arraial ? Restarão apenas mornas cinzas de passado que serão arrastadas indelevelmente pelo vento do esquecimento.
23/06/09
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