terça-feira, 25 de março de 2025

Yes. nós temos bananas !

 


 

“Covarde: alguém que,

 numa situação perigosa,

pensa com as pernas”

Ambroise Bierce

 

                               Há uma história típica cratense daquelas que nos impelem a gritar, imediatamente: “Mas menino, só no Crato mesmo...” Tínhamos na cidade , aí pelos anos 60, um soldado que carregava a fama de nunca ter prendido ninguém. Sabia dos riscos inerentes à sua profissão e dava um jeito de se escafeder nos momentos de maior perigo. Houve, à época, algumas escaramuças pras bandas de Missão Velha e pistoleiros fugiram de lá e se entocaram ali no Recreio, próximo à Batateira, numa casa estratégica, posta no alto, com ampla visão do território ao redor.  A PM de Crato foi, de pronto, acionada e , no batalhão convocado para enfrentar os bandoleiros, estava o nosso herói. Mal foram se acercando da casa, tiveram como recepção uma saraivada de balas. Um pobre lavrador desavisado ia passando perto dali, com uma enxada no ombro, foi alvejado e caiu duro, sem dizer nem “ui”.  Neste exato momento, nosso valente militar avisou à tropa: “Eita! Rapaz! São muitos ! Segurem o fogo aí que eu vou buscar reforço ! “ Logo à frente, entrou dentro de um canavial, puxou a faca e ficou descascando e chupando cana até que os bandidos, por fim, se evadiram.

                   Esta história me veio esta semana à lembrança quando o deputado Eduardo Bolsonaro fez bunda de ema e correu, com o rabo entre as pernas e uivando caim-caim-caim, para os Estates. Vendo a corda apertar no pescoço da famílicia, não aguentou o tranco:  “perna-pra-que-vos-quero”.  De longe, mantendo distância regulamentar” rosnou alto, latiu forte. Considerava-se perseguido  político de uma ditadura,  talvez esquecendo que eles mesmos a quiseram implantar com seu exército de Brancaleone e deu no que deu. Temia, na realidade, um julgamento em pleno estado de direito, com ampla defesa e presunção de inocência até prova em contrário. Estranho que os defensores da tortura, da censura e da prisão e morte de adversários se ofusquem, facilmente, ante à luz da democracia. A arrogância, a prepotência, o discurso de ódio , o cuspir fogo da extrema direita, é fogo de palhiço escondem uma pulsilaminidade, uma covardia  , uma fraqueza difíceis de se avaliar. O pai , expulso das FFAA, já andou ensaiando uma fuga , se hospedando na Embaixada da Hungria e, depois,  querendo partir para os EEUA sob pretexto de ir à posse de Trump. Lembrar que o bravo capitão chorou no aeroporto vendo a comitiva de direitopatas seguir para assistir à posse , num hotel,  pela televisão!  É provável que o filho pródigo esteja ajeitando a cama e varrendo a casa esperando o resto do filme: “A Fuga das Galinhas”. Interessante é que toda a trupe dos Patriotas , que já não pode cantar aquela parte do hino nacional que fala: “Verás que um filho teu não foge à luta” , rosnava que bandido bom é bandido morto, defendia a pena de morte, votara contra as saídas periódicas de presos, se postava a favor da tortura. Isso, claro, para seus adversários, para os amigos fazem manifestações vazias pedindo Anistia.

                   Um dos crimes mais hediondos para os militares é a deserção. Há um código de ética de que não se deixa ninguém para trás. Espera-se que aqueles pagos regiamente pelo estado para defendê-lo não apontem as armas, que lhe são dadas com dinheiro público, contra seu próprio povo. Duque de Caxias e Tamandaré devem estar se contorcendo no túmulo. A regra agora é: perna pra que vos quero,  salve-se quem puder!

                   Nesses dias, assistindo ao filme “A Fuga das Galinhas” na sua nova versão, descobrimos que o epíteto “Bananinha” tem muito mais relação com o caráter do que com a anatomia. Brecht dizia:  “triste de um país que precisa de heróis” , imaginem vocês  o desalento de uma nação que exalta, defende e se ampara na covardia e na frouxidão. Segurem o fogo aí, cambada, eu vou buscar reforço !

Crato, 25 de Março de 2025

 

                      

 

quinta-feira, 13 de março de 2025

Estação da Folia- O Carnaval cratense de novo nos Trilhos

 

              


  “Não me encha o saco, me encha de glitter”

                                                                                              Frase   numa camisa de Bloco de Carnaval

 

                   Pois é , amigos ! Há sinais de fumaça auspiciosos no céu desse 2025.  O Crato tem uma  histórica tradição de Carnaval, os primeiros relatos vêm de meados do século XIX, no jornal “O Araripe”. Nossos primeiros blocos surgiram no início do Século XX. Até os anos 70,  tivemos um dos mais animados carnavais do Ceará. Os Corsos na Rua Grande, A Noite do Havaí, as festas no Crato Tênis Clube e, principalmente, o Carnaval de Rua , com incontáveis blocos que alimentavam a folia  no período momino. A partir dos anos 90, no entanto, a festa foi arrefecendo por aqui e os cratenses começaram a procurar as praias, Olinda, Recife e Salvador para não perder o gingado e a alegria.

                 


 
Este ano, tivemos a sensação de que os bons  tempos começam a voltar. Como o Rio de Janeiro que transformou a festa popular num espetáculo restrito na Sapucaí e , aos poucos, vem retomando os blocos de rua que perfazem a essência mais pura do Carnaval. Houve incentivo da Secult Crato ao pré-carnaval , com blocos pulsando em vários bairros da cidade , com boa

estrutura, como : “De Juarez a Juarez”, “Humor Político, “Cratucada”, “Sambocracia”, “Bloco dos que ficaram”, “Sem medo de ser feliz”, “Craterdamas”, “Primeiro Grito”( São Miguel) , “Bloco do Lobo”, “Bloco dos Brincantes” ( Sagrada Família)  , “Do Calangro”( Alto da Penha). A centenária Banda Municipal de Crato envolveu-se na festa, com apresentações na Rodoviária de Crato ( recepcionando os foliões que chegavam),  no Mercado Municipal, na Encosta do Seminário e no Alto da Penha, criando clima animado de celebração . O Baile da Saudade do Crato Tênis Clube, um dos últimos remanescentes do Carnaval histórico, este ano redobrou-se em animação, com duas bandas virais: A “Sonata” ( uma das mais afinadas do Ceará) e “Fervilhando” de Sobral. O Clube ficou literalmente repleto de foliões até o amanhecer do Domingo Magro.

                 


  A escolha da “Estação da Folia” , no Centro Cultural do Araripe, para os festejos mominos,  também, foi uma jogada de mestre. O Centro estava praticamente abandonado e subutilizado. Foi criada uma estrutura ampla fechada, com policiamento vultoso, uso de tecnologia de vigilância moderna, com um palco gigante, com som e iluminação de qualidade, com priorização de bandas locais e abertura multicultural que contemplasse a maior parte dos gostos e tendências. Em todos os dias esteve o espaço superlotado e não se registraram casos de violência. Durante o dia,  houve bailes infantis com grande audiência. A repercussão foi a melhor possível, basta correr os olhos pelas  redes sociais. A Secretaria de Direitos Humanos e a Casa da Mulher estiveram de plantão todos os dias, com fins de coibir agressões de Gênero, homofobia e preconceitos vários.

                  


Claro que ninguém é isento de críticas, advindas daqueles que não gostam de carnaval ou que transitam em distintas esferas políticas. Uma delas diz respeito a verbas gastas no evento, ínfimas , diga-se de passagem, se comparadas as de outras cidades bem menores. Deviam ser destinadas à Educação ou à Saúde dizem alguns. Imaginam , de forma enviesada, que Cultura não é importante e, mais, que Carnaval ( lazer) não tem ligação com Saúde e nem com Educação. Os tripés básicos de uma civilização são , justamente: Cultura, Educação e Saúde. Sem qualquer um desses pés, o banco pende e cai. Reclamam outros da introdução de ritmos eternamente exorcizados como Funk, Rap, Brega, Piseiro. Ritmos de pobres sempre afeitos ao preconceito.  É preciso lembrar que têm enorme audiência , seguidores e fãs. Esses grupos têm o direito também de participar da festa, pagam impostos como todos nós. Se quisermos mudar essas predileções temos que lhes oferecer o que sempre lhes foi historicamente negado: Educação de qualidade, moradia,  emprego, renda.  Como alguém já disse sabiamente: se desejamos que gostem de Mozart, ao abrir a janela eles têm que ver uma Viena.    Quanto a se ter vários pólos de folia, como alguns pretendem ( Batateira, Alto da Penha, Ponta da Serra, Dom Quintino, etc), sou inteiramente a favor, passa, no entanto, por orçamento , parcerias,  e criação de estrutura de palco , de policiamento e segurança   à altura. Alguns comerciantes do ramo de bares e alimentação desejavam que o evento fosse próximo aos seus estabelecimentos. Impossível servir a todos, numa cidade de dimensões tão extensas. Cada um pode promover seu próprio evento, de forma particular, para sua tribo, o que é extremamente salutar, deve , no entanto, se responsabilizar por todos os detalhes necessários, como uso de espaço privado , segurança, palco, banheiros  e contratação de insumos básicos à festa.  Ao poder público resta o dever de promover uma festança gratuita, multicultural que caiba todos, sem quaisquer tipos de restrição   e com total segurança.

                  


Somos, no Brasil, bastante proativos nas críticos e apontamento de deficiências e falhas. Eximimo-nos, facilmente, em reconhecer a proficiência e o mérito quando as coisas andam bem e as iniciativas acontecem a contento. Parece-nos sempre que apenas cumpriram sua responsabilidade. Considero-me um crítico feroz, mas é preciso reconhecer o mérito de todos aqueles que organizaram o Carnaval cratense 2025. À SECULT Crato pelo empenho e o trabalho extenuante; ao Crato Tênis Clube pela festa linda que promoveu este ano; à Orquestra Sonata, à Banda de Leninha Linard, à Junu e Banda pelas soberbas apresentações;  À Secretaria de Segurança Pública e à Polícia Militar pelo trabalho impecável; à Secretaria de Direitos Humanos e à Casa da Mulher pelo acompanhamento pari passu das festividades; aos diretores dos Blocos que criaram a mágica do Carnaval e reacenderam a chama  que andava meio apagada;  à Prefeitura do Crato pela sensibilidade em reavivar uma festa profundamente cratense.

                   No próximo ano, a alegria se multiplicará, novos blocos brotarão por todos os cantos da cidade, as nossas Escolas de Samba , como fênix, de novo se sentirão estimuladas a participar da folia. Trocaremos a cara amarrada pelo glitter. A Estação da Folia mostrou que, novamente, o Carnaval cratense está nos trilhos !

 

Crato, 13/03/25