quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Discurso de Abidoral Jamacaru na Câmara Municipal de Crato

A CIDADE DA CULTURA E A CULTURA DA CIDADE


                                              Resultado de imagem para abidoral jamacaru  A Cultura de um povo é aquele complexo que inclui suas crenças, sua Arte, suas leis, sua moral, seu conhecimento, seus costumes e hábitos. É a Cultura que identifica uma civilização. Quando estudamos civilizações antigas como os Sumérios, os Egípcios, os Gregos e Romanos é através da Cultura desses povos ( sua música, sua poesia, sua pintura , escultura e sua língua) que conseguimos entender como eram e como funcionavam essas sociedades. É a Cultura que nos dá uma visão do nosso passado, que baliza o nosso presente e aponta a direção do nosso futuro.
                            O Crato carrega consigo , historicamente, o legado de Cidade da Cultura. Esse título não nos foi concedido por mero acaso. Aqui tivemos o primeiro grito republicano no Brasil, entoado por D. Bárbara, Tristão e José Martiniano. Publicamos o primeiro jornal do interior do estado, “O Araripe, em meados do Século XIX. Formamos a primeira médica do nordeste,  Amélia Benébien. Fundamos o primeiro cinema do interior do Ceará, o “Paraíso”,  em 1911. Os primeiros albores do Teatro caririense despertaram aqui, assim como o primeiro curso secundário do interior ( o Seminário São José) e  a primeira Universidade do Sul cearense. Mantemos atualmente instituições culturais importantes como Instituto Cultural do Cariri, a SOLIBEL, a SCAC, a Academia dos Cordelistas, a Editora A Província, a Fundação Elói Teles. A Cultura de Tradição com suas Bandas Cabaçais, seus Reisados, Maneiros-Pau, Cocos e Lapinhas , encabeçada por incontáveis Mestres da Cultura de Tradição Popular, luta, incessantemente, pela preservação das nossas mais profundas raízes. Pululam, por aqui ,entre filhos reais e adotivos,  poetas, músicos, artistas plásticos, escritores , atores,  dramaturgos, cineastas, muitos de renome internacional.
                            Nos últimos tempos, no entanto, o Crato tem, politicamente, deixado de lado sua vocação mais importante,  o que tem coincidido com nossa visível decadência na região. Destruímos quase todo nosso patrimônio arquitetônico, fechamos nossas salas de cinema, o nosso teatro municipal encontra-se em situação calamitosa, assim como nosso Museu Histórico e de Artes Plásticas. Já fizemos circular mais de 170 jornais, hoje já não possuímos um só de tiragem regular. A Biblioteca da Cidade da Cultura tem acervo precaríssimo. A Fundação J. de Figueiredo Filho que teria a precípua função de alavancar nossas manifestações culturais se tornou um mero cabide de emprego, nunca conseguiu exercer suas reais funções.  A Cidade da Cultura tem sido uma verdadeira madrasta para com seus artistas locais. Não temos agenda cultural organizada. Rádio e Imprensa locais  abrem pouco espaço para nossos artistas. Em seguidas gestões, a Secretaria de Cultura não consegue exercer suas atividades, principalmente por conta de não ter orçamentação adequada. A mais importante festa da cidade, a Expocrato, optou por eventos e shows de mero entretenimento, com cachês exorbitantes, a troco de negligenciar todos os artistas caririenses que não encontram abrigo para dar visibilidade a suas Artes. O público mais exigente  tem simplesmente se esvaído em busca de alternativas de maior qualidade como o Festival de Inverno de Garanhuns em Pernambuco.
                            A hecatombe Cultural da cidade está implicitamente ligada  ao arrefecimento do nosso fulgor econômico. Hoje a Economia Cultural é o setor de maior dinamismo na economia mundial , houve um crescimento de 6,3% nos últimos anos, quando a economia mundial cresceu apenas 5,7% . A Economia Cultural   corresponde atualmente a 7% do PIB mundial. Em 2006,  tínhamos no Brasil mais de 300.000 empresas culturais que geravam  quase 2 milhões de empregos formais. Isto com um investimento de apenas 0,65% dos orçamentos das prefeituras e autarquias, quando a UNESCO propõe que se invista no mínimo 2%. Os Poderes Executivo, Legislativo e a Iniciativa Privada precisam acordar para esta realidade. O soerguimento da Cidade do Crato depende intrinsecamente de investimentos sérios e permanentes na nossa histórica vocação cultural.
                            Entendo que junto comigo estão sendo homenageados todos aqueles artistas  que trilham por este mesmo caminho tortuoso mas essencial. Agradeço ao Poder Legislativo , a minha família,  a todos os amigos e ao público que compartilham comigo desse  momento mágico. São instantes assim que me fazem perceber ter valido a pena dedicar quase meio  século da minha existência  a tornar o mundo mais sonoro e mais bonito.
Muito Obrigado !  


                             

         ( Pronunciamento de Abidoral Jamacaru no recebimento do Prêmio Elói Teles, na Câmara Municipal de Crato em 22/08/2016)             

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Que Crato salta das urnas de Outubro ?



                                                        J. Flávio Vieira

                                               Passado o período eleitoral, as coisas aparentemente voltam ao ritmo menos frenético de sempre. Perdedores , babões , puxa-sacos recolhem-se ao anonimato, geralmente escondendo as provas que os ligavam diretamente ao crime. Os vencedores  empertigam-se , mantêm um certo ar aristocrático, dividindo-se entre o bulling aos adversários abatidos e a luta renhida por cargos e colocações no futuro governo. Até o povaréu, que geralmente serve de mero figurino nestas apresentações, comemora a vitória, ou lamenta a surra,  como se se tratasse do seu time de preferência em final de campeonato.
                            Reconheço que me dirigi às urnas meio ressabiado. Primeiro porque acabava de descobrir, neste processo vil porque passa o Brasil, que meu título de eleitor  é um mero objeto decorativo. A grande festa democrática , na verdade, é um jogo de cartas marcadas. As urnas servem apenas para ratificar o poder econômico, como poder político. Se por acaso se rebelarem as urnas , juntam-se quatro centenas de marginais e as jogam no lixo. Fiz de conta, assim mesmo, que o título tinha alguma serventia e me dirigi à seção acreditando que era importante, apesar dos pesares , cumprir meus deveres como cidadão e escolher  os menos piores.
                            Baixada a poeira das emoções, nos veremos, a partir de janeiro,  diante de novas administrações na Câmara e Paço Municipais. Apesar do retrospecto profundamente negativo dos rumos tomados pela cidade de Crato nos últimos 35 anos, torço para que o bonde volte aos trilhos  e que o barco à deriva ao menos consiga encontrar um porto a se dirigir. Nos últimos anos, o Crato, a antiga “Pérola do Cariri” , viu sua joia transformar-se em simples bijuteria. Fomos, disparadamente, o município caririense que mais murchou e perdeu brilho nos últimos tempos. Somos  hoje uma mera caricatura.  A administração atual parece ter colocado a última pá de barro nesta inumação progressiva e inexorável. Como médico, percebo que o prognóstico desse doente, à beira da cova, não é dos mais auspiciosos, mas existindo ainda alguma centelha de vida, sempre sobrevive , também alguma esperança.
                            Torço, assim, para que a futura Câmara Municipal, que teve renovação considerável do seu plantel, deixe de ser apenas um balcão de negócios escusos, uma mera Casa de Leilões. Que legislem, que trabalhem não duas vezes por semana nas suas sessões que às vezes não duram uma hora. Pensem no bem da cidade, acima de tudo,  aprovem conscientemente o que possa engrandecer o município e fiscalizem a aplicação dos recursos comuns. Cada um lute pelas reivindicações coletivas das suas áreas de apoio, mas não esqueçam da cidade como um todo, em todas suas diversidade e complexidade. Quando o navio soçobra leva consigo todos os tripulantes !
                            Torço, também, para que o futuro governo municipal lute desesperadamente para que possamos recuperar o tempo perdido no último quartel. Dentro de recursos federais cada dia mais escassos, de arrecadação municipal em baixa,  mais que nunca é necessário priorizar as verbas para as áreas mais críticas. Não somos ingênuos ao ponto de imaginar que o futuro gestor não tem seus compromissos eleitorais, deve ter , no entanto, a inteligência de utilizar os mais capazes assessores da sua base de apoio. Áreas como Saúde, Educação e Cultura  precisam ser encabeçadas por técnicos da mais alta qualificação, já não cabem, nos dias de hoje, meros marionetes, amadores e simples prepostos. O futuro administrador terá, necessariamente, que entender o Crato como integrante de um Cariri praticamente conurbado. Será necessário, quebrar o nosso bairrismo crônico e  manter parcerias próximas com Juazeiro, Barbalha, Brejo Santo e demais cidades ,  com fito de conjuntamente tentar resolver problemas e obstáculos comuns. Carecemos, eternamente, de obras mínimas de infraestrutura como calçamento de ruas, reforma de estradas vicinais, saneamento urbano, construção de espaços de convivência como praças e logradouros. Temos a URCA que precisa ser vista carinhosamente como um importante fator no desenvolvimento das políticas locais.     E o mais importante, na minha visão,  é não perder o foco no sentido de impulsionar a Cidade do Crato nas suas precípuas e históricas vocações, tendo um olhar especial para a forte Cultura local e o nosso gigantesco patrimônio ecológico. Além de tudo, depois de muitos anos, temos agora um alinhamento de planetas com o Governo Estadual, multivitorioso  em eleições locais, além de ter bebido, desde criancinha, as benfazejas águas das nossas fontes.
                            Por tudo isso, me sobra ainda algum otimismo.  Faço votos para que Zé Ayrton e André Barreto possam nos restituir um pouco do fulgor de outrora. Nem precisamos de uma economia intensamente pujante e de um comércio voraz.  Basta-nos  uma cidadezinha  alegre, justa, acessível,  brejeira, saudável, musical em que seus habitantes , a cada dia, possam louvar o milagre  da vida com seus incontáveis mistérios.

Crato, 07/10/16