quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio com um barulho desses

            Com a morte do velho Venceslau  Kandanga, após as lágrimas pouco sentidas, os filhos se reuniram para fazer o balanço do que interessava: o espólio. Estavam todos contendo uma indisfarçada felicidade. Venceslau vinha de uma ascendência abastada: fazendas, terras, imóveis e dinheiro em espécie eram perceptíveis nos velhos retratos espalhados na parede. O patriarca da família --- Kandic Kandanga --- teria vindo da Armênia, aí pelo início do Século XIX e, de mero vendedor de confecções, terminara por montar um imenso império fabril. Com as gerações e os inventários  que se sucederam,no entanto, os novos ricos foram pouco a pouco dissipando o patrimônio. Riqueza adquirida sem  suor, evapora como ele. Entre uma e outra amante, entre uma e outra excentricidade, entre uma e outra separação judicial, os cobres duramente conquistados por Kandic, esvaíram-se como por encanto.
                                   Aberto o testamento do tetraneto de Kandic, o velho Venceslau, não deu outra. Ficara apenas a casa do patriarca e   um prédio de cinco andares – o Edifício  Rio-- , sito num bairro não muito privilegiado, para ser rateado entre os dez filhos, três viúvas e seis netos de Venceslau.  Iniciou-se, imediatamente, a terceira guerra mundial. Familiares endividados, mantendo, porém,  a importância dos tempos áureos, cada um desejava levar o maior pedaço do último quinhão. Arrastando-se a pendenga, para o gáudio dos advogados, terminaram por ter que vender a casa para cobrir as custas judiciais e, sob risco de ficar a herança para os causídicos e não para os descendentes, entraram por fim num acordo. Resolveram, salomonicamente, dar um apartamento do edifício para cada  herdeiro e, depois de mais de dois anos, por fim, fecharam o inventário do velho Venceslau.
                                   Como estavam todos na maior pindaíba, morando de aluguel, mudaram-se todos para seus apartamentos recém herdados.  No primeiro momento, as coisas andaram bem. Todos se sentiram de alguma maneira felizes com o alívio financeiro. Mas era bem previsível : a bomba estava armada e com estopim faiscante e curto. As desavenças não demoraram. Conflitos relativos às pretensas melhores condições de um ou outro apartamento se tornaram frequentes.  Começaram os atrasos reiterados da taxa de condomínio, por incrível que possa parecer executados pelos mais remediados e não pelos mais pobres. Exatamente atrasavam aqueles que mais consumiam a água e a luz. A conservação do velho prédio estava péssima e já apareciam algumas rachaduras progressivas em algumas paredes.  Eram marcadas reuniões com os moradores,  geralmente inúteis, pois os inadimplentes faltavam. Um belo dia,  o esperado ocorreu: desligaram a luz e cortaram a água do imóvel. Aí a gritaria foi geral. Os pobres reclamavam com razão, pois estavam pagando pela irresponsabilidade dos outros. Os menos lascados empavonavam-se, mantendo aquele ar de importância que herdaram dos seus ascendentes e dizendo enfaticamente : --  é nisso que dá, querer ser simples e vir morar num muquifo desses!
                                   Marcaram uma reunião de emergência, mas ninguém compareceu: simplesmente porque nenhum queria arcar com a vaquinha necessária para sanar o problema. Uns dois meses depois, no escuro e seco como outubro em Picos, no meio da noite, ouviram-se um grande estralo e um pequeno tremor. Todos acordaram apavorados e desceram as escadas num átimo. Em pouco, toda a descendência do velho Venceslau estava de camisola e pijama no meio da rua. Chamada a Defesa Civil, após vistoria, o Edifício  Rio foi condenado: Está prestes a cair, não tem qualquer condição de habitabilidade, disse o Coronel responsável. Providenciadas , de urgência, algumas tendas, à noite,  o Síndico chamou, por fim, mais  uma Reunião de condôminos. Pressionados, por fim, os moradores , já sem teto, resolveram comparecer. As discussões foram longas e demoradas. Depois de umas cinco horas, finalmente, houve consenso. A Ata foi devidamente lavrada : O problema será resolvido pelas futuras gerações dos Kandic, marcaram , então, uma próxima reunião para daqui a vinte anos quando os futuros herdeiros do Edifício Rio, já taludos e em condições de deliberar,  deverão tomar as devidas providências. O convite já foi até redigido e o conclave já tem um nome : Rio + 20.

21/06/12

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Bola e a Bóia



                                   Há quem considere a Crônica um gênero literário menor. Talvez, comparando com o Conto, o Romance, o Ensaio, a Poesia, não tenha ela o mesmo charme e a mesma fama .  Desconfio, no entanto, que esta opinião advém da volatilidade maior do estilo: ligada geralmente aos fatos mais corriqueiros e cotidianos , possui uma permanência mais etérea. O texto publicado no jornal,  hoje, amanhã já está, muito provavelmente, limpando as vidraças da sala. Trabalhar com esta impermanência , tecendo o bordado numa ponta, enquanto o tempo desfaz o fio do outro lado, parece-me  uma coisa mágica e remete quase que imediatamente à efemeridade da vida: matéria prima de todos os gêneros literários. E não são poucos os grandes escritores que soçobram ante os mistérios da Crônica; faltam-lhes, tantas vezes,  leveza, despojamento, humildade para enfrentar o profundo abismo que é escrever acossado pelo grande e implacável  apagador das horas. Machado de Assis, meu escritor predileto, talvez o maior que o país já produziu, não me parece um grande cronista. Humberto de Campos,  o mais produtivo da sua época, hoje é totalmente esquecido. Lembro da grande coleção azul,  dele,  de mais de  trinta livros , na biblioteca imensa do Tio Sávio Pinheiro. Devorei-a, na adolescência, com voracidade. Talvez os textos fossem datados demais e tenham perdido o glamour com o advento das novas gerações. Rubem Braga, certamente ,mantém-se distanciado como  o mais importante escritor  do gênero, em língua portuguesa, possivelmente porque  é profundamente poético e poesia não tem idade : banha-se na fonte da eterna juventude.
                                   O certo é que me apetece esse encanto de garimpar nossa doce história cotidiana. Fatos aparentemente sem importância, gestos leves, movimentos fortuitos, personagens tidos como menores e que cairiam  rapidamente na lixeira da memória não fosse o olhar atento do cronista. E mais: tentar perenizá-los usando a mesma argamassa amorfa,  frágil e etérea com que são constituídos.
                                   Querem  um exemplo ? Esta semana publicou-se uma notícia trivial na televisão. Foram devolvidos a alguns japoneses, alguns objetos tragados no terrível Tsunami do ano passado. As marés os carregaram até o Alaska, na outra extremidade do mundo. Algumas pessoas os recolheram e identificando alguns deles os devolveram aos seus donos no Japão. Sakiro Miura, uma japonezinha simpática, recebeu uma bóia que emoldurava a porta da sua loja de mergulho: nela estava escrito, em caracteres japoneses, o nome do esposo, falecido há 30 anos. Um rapaz recebeu uma bola de futebol onde gravara o próprio nome  e estampava várias assinaturas dos seus colegas de escola. A bola e a bóia não possuíam qualquer valor monetário e a notícia, tirando-se o inusitado, não carrega maior importância. Debite-se na conta ainda  a gentileza dos moradores do Alaska : perceberam que , de alguma maneira, junto com os objetos, devolviam à Sakiro e ao rapazinho um pouco daquilo que a tragédia havia arrancado das suas mãos. A bola e a bóia restituíam junto a esperança: o combustível de toda nossa jornada nesta terra.
                                   Atrás da notícia, escondia-se uma verdade só perceptível ao cronista. O  preço real  das coisas não pode ser avaliado apenas por seu valor venal: de troca, de venda , de escambo. Existe tantas vezes um valor sentimental que imanta os objetos e que não pode ser mensurado por trena , nem pesado com balança Fillizola. Sakiro não negociaria sua bóia por qualquer dinheiro desse mundo. E mais : só ela consegue dimensionar este custo, ninguém mais desse mundo. Seu tesouro está assim, biblicamente, imune às traças, aos ladrões e  ao caruncho.
                                   Quando os tsunamis por fim devastarem as praias da nossa existência, estes serão os únicos bens que boiarão e que um dia , quem sabe, o destino devolverá à nossa porta, para nosso gáudio, como a bóia de Sakiro Miura : uma florzinha que desabrocha em meio ás  ruínas que restaram. 

14/06/12

sexta-feira, 8 de junho de 2012

De vento a favor


Pois é, amigos, diante da eleição que mais e mais se aproxima, o Crato e os ânimos vão mais e mais se inflamando. Como sempre, divide-se a cidade entre situação-oposição e as classes mais privilegiadas rápido tomam partido, enquanto, de longe, o povaréu observa cuidadosamente. Pobre sabe que estrategicamente não é bom declarar-se por um ou outro lado, com a sabedoria que os anos lhe foram conferindo percebe que , a maior parte das vezes, a escolha é entre a onça e o lobo e , de qualquer maneira, no final da fábula acabará devorado.   Assim, mede distância e palavras, toma cuidados especiais, no sentido de levar alguma vantagem no único momento que poderá auferir alguma: a pré-eleição. Nos andares de cima, se ensaiam as primeiras quedas de braço , mesmo assim ainda incipientes: os candidatos municipais ainda não sabem, claramente, a quem foram vendidos pelos líderes estaduais.
                                   Mas, aqui entre nós, munícipes, importa-nos a exata célula em que vivemos e produzimos: a nossa querida Cidade do Crato. E somos nós e mais ninguém que sabemos exatamente o que queremos, que políticas públicas  poderão melhorar nossa vida, nosso bem-estar, nossa felicidade. Como cratense convicto e apaixonado, vou trazer minha singular opinião sobre o que espero do futuro Prefeito da minha cidade .  Sei que cada conterrâneo tem uma visão pessoal que respeito e admito e que certamente se soma à minha,  em busca de melhores dias para a Cidade de Frei Carlos.
                                   A primeira questão diz respeito diretamente ao rumo que imagino devemos tomar. Sem um porto a atingir, diz o provérbio, nenhum vento nos será favorável. Qual a vocação da nossa Cidade? Sempre se rotulou historicamente o Crato como : “A Cidade da Cultura”. Pois bem, corramos atrás do prejuízo. O novo Prefeito terá que buscar este caminho desesperadamente. Incentivar as Artes   e aí possuímos ainda um grande manancial a se reconstruir: Biblioteca Municipal que mereça este nome; Uma Bienal do Livro; Vitalização do Centro Cultural Araripe hoje entregue ao Crack;  Finalização do Cine Teatro Moderno, como Cine e como Teatro e não apenas mero auditório, com programação anual regular; Levar à Escola nossa Cultura e nossa História;  Construção de um Memorial da Confederação do Equador, movimento histórico importantíssimo, onde a cidade teve participação decisiva e hoje esquecido quase que inteiramente; Revitalização da Fundação J. de Figueiredo Filho que nunca funcionou além de mero cabide de empregos; Revigoramento do nosso Festival da Canção; busca à criação de um Centro Cultural Banco do Brasil ou Caixa Econômica; interface próxima e contínua com o SESC, URCA,ICC,SCAC, Secretarias de Cultura; Incentivo `a criação de jornais, publicação de livros, prensagem de CD´s, ao Mercado regional de Artes Plásticas e ao desenvolvimento de um pólo cinematográfico caririense. Nossos artistas precisam ser colocados como atores principais nessa mudança comportamental e não como reles figurantes. Isto apenas para lembrar de relance algumas das nossas imensas possibilidades.
                                   Um outro ponto importante , a nosso ver, é a capitalização das nossas reservas ecológicas. Temos inúmeras fontes perenes, uma imensa Chapada a nos contemplar, com seu verde , suas bacias fossilíferas  e nós mesmos não possuímos qualquer educação ambiental mínima que seja. A Ecologia é uma das palavras de toque do futuro e nós sequer nos apercebemos disso. Temos todas as possibilidades de desenvolver um Turismo Ecológico sustentável, com trilhas, Bikes, Rapel , e outros tantos esportes hoje desenvolvidos sem nenhuma ajuda por esportistas abnegados.  
                                   Uma outra questão preocupante é o total descaso que historicamente o município tem para com a URCA.  A Universidade mudou completamente a Cidade do Crato com o cosmopolitismo de seus alunos e professores e os novos ângulos de se perceber o mundo e a vida ao nosso redor. O Crato tem o dever cívico de assumir a Universidade como filha, reconhecendo sua importância e incentivando de perto todas suas ações.
                                   Nossos críticos dizem que o Crato , como um Museu, teima em viver de passado. Pois bem, temos um passado glorioso sim: capitalizemo-lo !  Um município com um lastro deste tamanho tem um alicerce invejável para edificar seu futuro. Os outros mais jovens sofrem eternamente de um Complexo de Peter Pan.
                                   Pessoalmente não acredito em receitas copiadas, já aplicadas em outras cidades, com resultados aparentemente fabulosos. Juazeiro cresceu à sombra do Turismo Religioso: ótimo, mas essa não é nossa realidade. Economicamente , hoje, a vizinha cidade tem uma pujança impensável. Sem problemas, estamos aqui pertinho, as cidades do CRAJUBAR  estão praticamente conturbadas. Junto com o desenvolvimento vem a borra do progresso: a Violência, o engarrafamento,  a superpopulação, a poluição, a explosão dos preços imobiliários. Pois bem, construamos uma Cidade em que o bem-estar da população seja a pedra de toque. Temos um Pólo Econômico-Industrial no Juazeiro, Um Pólo Médico-Hospitalar em Barbalha, reconstruamos nosso Pólo Ecológico-Cultural.  No final, todos nos beneficiaremos . Penso que o grande lance da Região Metropolitana do Cariri é justamente esse: por conta  das parcelas serem tão diferentes é que o resultado da soma será tão vultoso.
                                   Espero que sejamos sensatos e reflexivos na escolha do candidato. Que cada um coloque na balança os pesos com que aferirão os nomes antes de ir à urna. Vender voto costuma sair caríssimo: seja por chinela, por telha, por emprego ou por licitação; não importa o preço. Escolham segundo sua consciência e assumamos que somos o agente transformador ou não da nossa cidade; só não vale depois dizer que o Crato é uma cidade sem sorte e que os políticos que nós próprios elegemos só querem meter a mão  se dar bem.

08/06/12

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cicuta


Sócrates foi executado como prisioneiro político , em 399 a.C.,   por ter influenciado seus discípulos  se postando contra a Democracia Ateniense. A seu ver o Estado devia ser governado pelo mais capaz e não por aquele escolhido pela maioria dos cidadãos. Olhando superficialmente,  o filósofo parece ter razão, mas aí vem a encruzilhada filosófica inevitável: -- E quem escolhe e determina quem é o mais capaz? O Rei ? A Nobreza ?  O Poder econômico ? A história da humanidade, nos séculos seguintes, terminou por dar a resposta inequívoca à questão : Sócrates, neste quesito, estava errado,  mas a forma como enfrentou todas as vicissitudes até o sacrifício final perpetuou seu nome e o tornou um dos pensadores mais incensados da História.
                                   Passados os anos,   multiplicaram-se exemplos das claras deformidades da Democracia mundo afora. No Brasil mesmo, escândalo após escândalo, crise após crise, o povo põe continuamente em cheque a validade desta forma de governar. Alguns se mostram saudosos das Ditaduras de Vargas e de 64, outros  remontam até ao cretáceo, vislumbrando a Monarquia com seus Reis, Rainhas e Valetes. Churchill talvez tenha definido melhor esta questão quando disse: "A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos."
                                   Em ano eleitoral, então, estes questionamentos ficam mais à flor da pele. Denúncias engavetadas por anos saltam na imprensa, com vistas a interferir na eleição que se avizinha. As vísceras da Política brasileira são postas à mostra e o povo humilde e trabalhador, no meio de tanta bandalheira, põe-se a engulhar. Corrupção; desvios de verba pública; deputadozinho ,com cara de sacristão, pego com a boca na botija; promiscuidade de governadores, deputados, senadores, ministros do supremo com a contravenção;  como suportar essa calamidade? A conclusão do brasileiro comum  é rápida , imediata : Política não presta, há provas irrefutáveis de que a  Democracia está falida como forma de Governo.  Diante da sacanagem perpetrada contra todos os pagadores de impostos,  algumas atitudes imediatistas são frequentemente tomadas pelo povaréu como aparente defesa contra o descalabro.
                                   A primeira delas é lutar pelo Voto Nulo ou Branco, alguns chegando até ao extremo de incinerar publicamente o Título Eleitoral. Medidas desta natureza eivam as Redes Sociais. No fundo, os revoltosos dizem : nenhum salafrário será mais eleito com minha participação. Pensam que assim se eximirão da culpa pelo estado de coisas que rola país afora. O protesto é totalmente inócuo. Corresponde àquela  providência tomada  pelo marido que encontra a esposa namorando com outro no divã e, revoltadíssimo com a traição, vinga-se vendendo o divã.  Nunca se vota nulo:  quando anulamos o voto estamos tomando partido e elegendo os piores. Peca-se na mesma intensidade por ação ou por omissão, não é ?
                                   A segunda  é mostrar-se saudoso dos períodos ditatoriais. Na época da Ditadura Militar isso não acontecia ! Ladrão ia para o paredão! Bastava apertar um pouco o cabra confessava tudo! A corrupção na ditadura era presentíssima e bem pior do que se tem hoje, apenas menos visível: velada sobre o manto da Censura e da Tortura.Sem Liberdade não existe civilização. Vivemos, hoje, em pleno Estado de Direito, o melhor período da história brasileira.
                                   A terceira postura  clássica é uma revolta desmedida e justificável contra a Corrupção. Perfeita no seu âmago, mas que guarda consigo um enigma. Por que elegemos políticos corruptos e pior que tudo: por que os reelegemos mesmo depois dos escândalos ? A verdade é dura, mas precisa ser engolida: eles não são tão diferentes dos seus eleitores. A corrupção faz parte do nosso cotidiano : vendemos o voto por empregos, por licitações, por telhas e tijolos; buscamos colocação para os filhos por pistolão; tentamos nos dar bem em qualquer função que assumimos; compramos o Guarda de Trânsito para evitar a multa. O político brasileiro é apenas a imagem do seu eleitor refletida no espelho. Um corrupto por atacado , eleito por vários corruptozinhos do varejo. Só mudarão quando a sociedade mudar e, educada politica e socialmente, possa triar melhor seus representantes.
                                   A mais freqüente conduta, no entanto, é de uma total aversão à Política. As pessoas ,diante dos escândalos, se afastam dela como Vampiro do alho. Os mais dignos temem chegar perto com medo de se contaminarem com a podridão reinante. Os maus baldeiam a água para que só eles tenham a coragem de beber. E muitos gritam : “Deus me livre de política, quero é distância!”  O grande problema é que somos seres políticos por excelência. Todas as atitudes humanas são banhadas em maior ou menor proporção nas águas da política. Até a decisão de fugir da política é por se só um ato político. Seria como o mecânico de automóveis resolver que não quer nunca mais se melar de óleo. Não tem jeito, estamos no meio da tempestade: a molhadeira é inevitável. Ou tentamos abrir a capa para minorar o encharque ou negamos a existência do temporal.
                                   As eleições estão próximas. Com a nossa participação ou nossa apatia seremos vítimas ou beneficiários do seu resultado. Se não nos fizermos agentes de mudança teremos que engolir depois a Cicuta, como Sócrates o fez, a contragosto,  no berço da Democracia.

01/06/12